Novo 500: uma semana com o elétrico da FIAT
Gosto muito do FIAT 500. Uma jogada de mestre da marca italiana que, ao fazer renascer um nome tão relevante na sua história e ao conferir-lhe um design contemporâneo, mas fiel ao do modelo da década de 1950, “condenou-o” a um sucesso que, de certa forma, ainda goza. Em 2022, 15 anos depois do seu lançamento, o 500 foi ainda um dos modelos mais vendidos na Europa.
Mais recentemente, a FIAT introduziu um novo 500, puramente elétrico, e chamou-lhe, obviamente, Novo 500. Para quê complicar? Aprovo o nome e aprovo – já que será, ao que parece, esse o caminho – a eletrificação do pequeno ícone italiano. É, na minha opinião, o candidato perfeito. E passo a explicar porquê no seguinte parágrafo-telegrama.
Os elétricos têm uma bateria. A bateria é pesada. O peso prejudica a autonomia. Um automóvel grande precisa de uma bateria grande. Um elétrico grande é pesado. Um elétrico grande é mais caro. Para a mobilidade elétrica chegar às massas, esta não pode ter um custo elevado.
Pequeno, como deve de ser
Por outro lado, percebo que o equilíbrio entre capacidade da bateria e peso final seja uma questão sensível. Até que ponto compensa ter uma bateria maior, beneficiando a autonomia, sem que o seu peso se torne prejudicial para a eficiência? E até que ponto pode a bateria ser pequena sem que a autonomia se torne impraticavelmente reduzida?
Isto leva-nos ao Novo 500, um elétrico que – embora ainda não tenha o preço certo para todos os condutores – dispõe de uma combinação muito interessante de capacidade de bateria, autonomia mais do que suficiente para muitos utilizadores, potência adequada e um peso relativamente contido que não prejudica em demasia a sua eficiência.
Perfeito na cidade
Felizmente são cada vez mais os modelos elétricos de dimensões reduzidas, aqueles que melhor se adaptam aos congestionamentos, vias estreitas e lugares de estacionamento pequenos nas cidades. 0 500, mesmo nesta configuração “a pilhas”, é absolutamente genial nesse aspeto, revelando ainda uma capacidade de resposta e genica que lhe permitem sentir-se como peixe na água em ambiente urbano.
É claro que para o 500 ser um elétrico “para todos”, todos teríamos de ter acesso a um ponto de carregamento particular e eu, por exemplo, não tenho. Ainda assim, esquecendo esse “pequeno” pormenor, estou cada vez mais rendido à utilização de um elétrico para as curtas deslocações diárias. Passei uma semana com o Novo 500 e só me apetece pedi-lo novamente à FIAT.
A minha semana “elétrica”
No primeiro dia fiz cerca de 50 quilómetros. Saí da FIAT, fiz alguma autoestrada a ritmo moderado – 100 km/h – e fechei o dia com pequenos circuitos urbanos e com o computador de bordo a mostrar uma média de 11,1 kWh/100 km. No dia seguinte decidi ir jantar fora. Um percurso de apenas 10 quilómetros, sempre em cidade e com recurso ao modo RANGE – para uma maior regeneração de energia – resultou numa surpreendente média final de 8,8 kWh/100 km.
No fim de semana fui até Fafe assistir ao Rally de Portugal e o bonito 500 acabou por ter menos utilização do que eu desejava. Ainda assim, não se livrou de percorrer mais 60 quilómetros, 80% dos quais a ritmo de autoestrada – condições pouco favoráveis aos elétricos – completando as viagens de ida e volta de Lisboa com uma média final de 14,9 kWh/100 km.
Contas feitas, compensou
Ao quinto dia coloquei à prova o carregamento rápido do Novo 500. Era também dia de compras, pelo que o 500 foi submetido a um dos mais importantes testes: o de ver a sua bateria ser carregada enquanto se fazem as compras da semana. Estive 35 minutos no supermercado e o carregador de 50 kW abasteceu o “meu” FIAT elétrico com 16,37 kWh de energia. Paguei 8,70 euros por cerca de 125 quilómetros de autonomia. No meu FIAT a gasolina, um Punto 1.2 de 2002 e considerando uma média de 6,5 lt/100 km, precisaria de gastar cerca de 13 euros para percorrer a mesma distância.
O penúltimo dia foi dedicado a um passeio ao melhor estilo “dolce vita”. Óculos escuros, braço na janela e lá fui eu pela Estrada Marginal desfrutar do pôr do sol. Cheguei ao Guincho e não resisti entrar floresta dentro apontando a Sintra. Subi a Serra por um lado e desci por outro. Cheguei a casa, 50 quilómetros depois, com uma média de 11,6 kWh/100 km.
Quando em Roma…
Para o sétimo e último dia reservei um teste muito especial: conduzir à italiana. Não andei por aí a gesticular injustificadamente e a fintar o trânsito como se não houvesse amanhã, mas digamos que o percurso para devolver o FIAT à FIAT foi feito com alguma da destreza e rapidez que só um italiano ao volante de um italiano em Itália sabe aplicar à condução. Só desta forma a média superou os 16 kWh/100 km, um consumo, ainda assim, bastante bom.
Termino como comecei. Gosto muito do 500. E gosto muito do 500 em configuração elétrica. É elegante como sempre foi, mais eficiente do que nunca, facílimo de guiar e, assim, perfeito para o dia a dia. Não tem muito espaço atrás? Não, efetivamente não tem. Mas quantas pessoas vão contigo todos os dias para o trabalho? Deixem-se dessa mania das grandezas. Precisamos de automóveis pequenos e se o futuro é elétrico, precisamos de mais automóveis como o Novo 500.
FIAT Novo 500 Icon (motor de 118 cv/bateria de 42 kWh) desde 31 750 euros
Consumo médio final: 13 kWh/100 km