Volkswagen ID. Buzz Pro: “Que nem pãezinhos quentes!”
Acho que não vou chocar ou ofender alguém se começar por dizer que, independentemente das suas qualidades e defeitos, o novo Volkswagen ID. Buzz é um automóvel especial e com lugar garantido no grupo de modelos atuais que daqui por umas dezenas de anos serão considerados clássicos, de interesse histórico ou outra qualquer designação que estiver na moda nessa altura.
Os mais puristas achar-me-ão louco por considerar um elétrico como um automóvel merecedor de tal classificação, mas se o futuro é elétrico, garantidamente teremos elétricos com estatuto de clássico. Isso é bom. Por isso, esteja, ou não, louco, habituem-se que custa menos. E se vamos todos conduzir um elétrico, que seja algo que se destaque, pelo design, pela cor ou, neste caso, também pela sua herança.
Apontar é bonito
Um novo capítulo da história iniciada pelo Volkswagen Type 2 e prolongada pelas gerações que lhe sucederam, o novo “Pão de Forma” elétrico é já uma realidade que, tendo como base as reações das pessoas com quem me cruzei e que não resistiram a apontar o dedo, está condenado ao sucesso. Fiel ao design original, bem como ao do concept que o antecipou, o ID. Buzz tem tudo para vender que nem pãezinhos – de forma, claro – quentes.
É um daqueles automóveis capazes de reavivar as memórias dos mais velhos e com o qual os mais novos também imediatamente se identificam. E isto ficou rapidamente comprovado. Avisaram-me, logo no primeiro dia, que o “Buzz” ia ser muito e que eu ia, igualmente, ser interpelado várias vezes por pessoas com perguntas, a pedirem para fotografar e para ver o interior. Assim foi. Praticamente todos os dias.
Por dentro do ID. Buzz
Ultrapassando a “côdea” e passando ao “miolo”, o habitáculo é tão e somente um prolongamento do, na minha opinião, incrivelmente bem conseguido design exterior. A bordo, uma excelente vivência, ambiente onde abunda a muita luz natural, complementada, também, pelos tons claros dos plásticos e tecidos, em linha com a combinação de cores da carroçaria deste ID. Buzz do parque de imprensa da Volkswagen. Para já, enquanto é novo, fica lindíssimo, garanto-vos. Depois de algum tempo de utilização em família, até me arrepio só de pensar.
Nesta configuração de cinco lugares, não falta espaço e conforto para os passageiros da fila de trás, os quais podem igualmente desfrutar de um acesso muito fácil graças às portas deslizantes com abertura elétrica. Lamentavelmente, não podem abrir as suas janelas. Mas para compensar essa lacuna, dispõem de bancos com regulação longitudinal e da inclinação do encosto, bolsas e mesas de apoio nas costas dos bancos dianteiros, bem como das indispensáveis luzes e tomadas USB para as viagens maiores.
A bagageira é enorme e muito prática, principalmente se complementada pela plataforma de que este exemplar dispunha. Uma solução que mantém todo o espaço normalmente oferecido em comprimento, mas que não só permite guardar caixas e os cabos de carregamento por baixo, bem como cria uma grande plataforma de carga com o rebatimento dos bancos traseiros, ou, obviamente, uma cama para usufruir do ID. Buzz ao melhor estilo do “Bus” original numa qualquer praia ou festival de verão.
Ao volante, quase um Golf, vá
Passando para o volante, começo por fazer um elogio: O ID. Buzz, apesar da posição de condução obviamente mais elevada, conduz-se como um automóvel comum. É, na verdade, muito fácil de conduzir. Até mesmo na cidade, onde a excelente brecagem permite fazer inversões de marcha e manobras como se estivéssemos a conduzir um Golf ou algo parecido. A ritmos mais elevados, como em autoestrada, a insonorização mostra-se também adequada, apenas chegando ao habitáculo alguns – ligeiros – ruídos aerodinâmicos.
Ainda à frente, gosto da solução do pequeno painel de instrumentos digital – solidário com a coluna de direção e com boa leitura – bem como das muitas e práticas soluções de arrumação. Os bancos são muito confortáveis e contam com apoios de braço de ambos os lados. Porém, umas pegas nos pilares da frente seriam bem-vindas para ajudar a aceder ao habitáculo, uma solução presente no banco de trás onde o acesso é mais fácil. O infotainment conta com uns muito úteis botões de atalho, mas acumula a maior parte das funções e comandos, como é hábito nos mais recentes modelos do grupo.
Pesado, mas ligeiro
Como anteriormente referi, as sensações ao volante são muito positivas. A boa resposta da direção, uma boa calibração da travagem regenerativa – com modo mais intenso que permite circular recorrendo apenas a um pedal em muitas das situações – e a resposta imediata do motor elétrico combinam-se para que as 2,5 toneladas do ID. Buzz raramente se façam sentir. O centro de gravidade baixo, os pneus largos – 235 à frente e 265 atrás, em jantes de 21 polegadas – e a afinação de suspensão fazem o resto, proporcionando-lhe um comportamento competente e seguro.
No que diz respeito a eficiência, não podemos esperar de um modelo tão volumoso e pesado o mesmo desempenho que encontramos, por exemplo, num ID.3. Ainda assim, não abusando dos 204 cavalos e 310 Nm do motor – colocado no eixo traseiro – consegui, quase sempre, manter o computador de bordo nos 20 kWh/100 km, uma média próxima do valor declarado pela Volkswagen e que, apesar de elevado se comparado com outros modelos, se compreende.
O carregador de bordo, para carregamento através de corrente alternada, tem uma potência de 11 kW. Porém, recorrendo-se a um posto de corrente continua, é possível recarregar a bateria de 77 kWh até uma potência máxima de 170 kW. Neste ensaio fiz um teste de carregamento num posto público de 50 kW e verifiquei que é possível recuperar 5 quilómetros de autonomia por cada minuto de carregamento. Considerando a minha média final de 20,5 kWh/100 km, conseguiria percorrer uns teóricos 375 quilómetros antes de esgotar a bateria.
Conclusão
Permitam-me concluir este artigo de uma forma um pouco diferente. Como todos os automóveis do mercado, o ID. Buzz tem coisas boas e coisas menos boas. Será perfeito para uma família “eletrificada”, mas menos adequado para uma pessoa que viva sozinha e trabalhe na cidade. Não é, igualmente, “barato”. Oferece “em quantidade” e “com qualidade” num conjunto globalmente muito competente, mas não deixa de ter um preço base superior a 50 mil euros.
Não é, assim e como tantas vezes digo, o elétrico para todos. O elétrico de que precisamos. Porém, com a herança que carrega e a história a que dá continuidade, com esta abordagem sustentável à mobilidade e com um design que é, ao mesmo tempo, moderno e revivalista, capaz de extrair sorrisos até então escondidos, é, pelo menos para mim, uma lufada de ar fresco num por vezes exageradamente frio, sisudo e pouco colorido parque automóvel, imperfeições que, de certa forma, definem, também por vezes, o nosso quotidiano social. O ID. Buzz é um elétrico racional, mas também emocional. E um que não é para todos, mas a que ninguém consegue ficar indiferente, distribuindo, sem emissões, boa disposição à sua passagem. Viva ao ID. Buzz!