Ensaio Sprint: Hyundai Ioniq 5 Vanguard+ 77kW MY23
Gostos não se discutem e por isso não o vou fazer. Limito-me a admitir que o design do Hyundai Ioniq 5 – tal como o do primo KIA EV6 – poderá ser demasiado arrojado para mim. Porém, admiro a sua existência e aplaudo a coragem da Hyundai ao lançar um automóvel com tamanha personalidade, que mais parece saído de uma plataforma iluminada de um extinto e glamouroso salão automóvel do que de um frio e minimalista concessionário.
O Ioniq 5 é bem maior do que as suas linhas fazem parecer. Por esse motivo, passa com distinção na avaliação da habitabilidade, com muito espaço disponível nos lugares traseiros, ainda que o lugar do meio seja, como é hábito, desconfortável. O banco traseiro tem, porém, regulação longitudinal.
A bagageira tem 531 litros e debaixo do fundo há um espaço de carga adicional. O rebatimento do encosto cria um plano de carga horizontal, ideal para transportar objetos pesados. Ainda no que diz respeito a arrumação, no habitáculo não faltam espaços práticos para receberem os objetos do quotidiano.
Nos lugares da frente, ainda que não tão arrojado quando o exterior, o design do tablier destaca-se pela digitalização, solução que incorpora dois ecrãs, um para o painel de instrumentos, o outro para o infotainment, sistema que mantém, felizmente, atalhos físicos. Aprovo a presença de controlos exclusivos para a climatização, mas sendo táteis, liguei inadvertidamente a climatização várias vezes ao ajustar o volume do sistema de som Bose. A iluminação ambiente, à frente e atrás, contribui para as boas sensações a bordo, complementando o conforto proporcionado por uma boa escolha de materiais.
Ao volante do Ioniq 5
Teria gostado de desfrutar de uma posição de condução mais baixa, mas devido à posição das baterias, tal não é possível. A colocação do manípulo da transmissão na coluna de direção requer habituação, mas acabei por gostar da solução. Menos boa é a esquina do tablier constantemente a bater no joelho direito, bem como o muito largo terceiro pilar, resultando bem esteticamente, mas criando, igualmente, uma zona sem visibilidade que pode criar dificuldades ao estacionar o Ioniq. Sim, eu sei que “agora” há câmaras para ajudar.
Com 228 cavalos e 350 Nm imediatamente disponíveis ao mais suave toque no pedal da direita, poder de aceleração não falta ao Ioniq 5. A bateria tem 77 kWh de capacidade e pode ser carregada até uma potência máxima de 350 kW, com o Ioniq 5 a dispor ainda da funcionalidade V2L. Não sendo pequeno e com uma bateria tão grande, o Ioniq 5 não é, obviamente leve. Ainda assim, surpreendeu pela positiva com um consumo médio de energia de 16,1 kWh/100 km.
Através das patilhas no volante é possível variar a intensidade da travagem regenerativa em cinco níveis, desde desligada até ao modo i-Pedal em que é possível conduzir quase sem usar o pedal de travão. Pelo meio estão disponíveis três níveis intermédios.
Dinâmica é ponto forte
Sobre o piso algo degradado do centro lisboeta, o Ioniq 5 nem sempre conseguiu esconder a rigidez da sua suspensão, mas nunca ao ponto de se tornar verdadeiramente desconfortável. Por outro lado, surpreendeu pelo seu comportamento dinâmico, com uma boa resposta da direção e com um excelente controlo dos movimentos da carroçaria, chegando até a permitir provocar ligeiras escorregadelas à saída das curvas como só um veículo de tração traseira permite. Eficiente, sim, mas igualmente competente e divertido no que ao comportamento diz respeito.
Aprovo o design exterior distinto e cheio de personalidade. Gosto do habitáculo espaçoso e acolhedor onde só falta um pouco do arrojo das linhas da carroçaria. E admiro igualmente a potência disponível e o dinamismo da condução. A lista de equipamento é, também ela, impressionante com, por exemplo, o heads-up display, os bancos aquecidos e ventilados e um extenso pacote de ajudas à condução. Tudo muito agradável, é certo, mas a Hyundai pede qualquer coisa como 59.000 euros por este “AX95HB”. Não é que não se justifique pelo que oferece. Mas o que quero mesmo é um Ioniq 3. Ou 2. Ou 1, por que não.