Alfa Romeo Tonale Plug-In Hybrid Q4 – Como é conduzir o novo topo de gama
Depois de ter conduzido o novo Tonale com a motorização de acesso à gama – mild hybrid com 130 cavalos – regressei ao SUV da Alfa Romeo para agora tomar contato com o outro extremo da oferta, o topo de gama híbrido plug-in com 280 cavalos.
Neste teste, não me foquei em discutir o seu importante papel no futuro da “Alfa”, nem em aspetos como o design, o equipamento, a qualidade dos materiais, a habitabilidade e a versatilidade do Tonale. Para o ficarem a conhecer nessas vertentes, tentei, de forma detalhada, descrevê-lo neste artigo.
Desta vez, foquei-me, isso sim, na sua nova motorização híbrida de 280 cv – bem como na condução que proporciona – que combina o motor 1.3 Turbo, a gasolina, com 180 cavalos/270 Nm ligado às rodas dianteiras através de uma transmissão automática de 6 velocidades com uma unidade elétrica de 122 cavalos ligada ao eixo traseiro, conferindo, assim, as vantagens da tração integral ao Tonale, aqui designada, como é hábito na Alfa Romeo, por Q4.
Tonale em silêncio
A Alfa Romeo declara uma autonomia elétrica em ambiente citadino que pode chegar aos 80 quilómetros, algo que não tive oportunidade de confirmar durante os dias que passei com o Tonale por “motivos logísticos”. Posso, por outro lado, dizer-vos que em ciclo combinado percorri quase 40 quilómetros com cerca de 65% de carga da bateria, forçando a propulsão elétrica através do modo Advance Efficiency do seletor Alfa D.N.A..
Depois de esgotada a bateria e conduzindo o Tonale em modo híbrido serão expectáveis médias de consumo entre os 7 e os 8 lt/100 km em ciclo misto equivalente, com o motor de quatro cilindros – com boa sonoridade proporcionada pelo escape – a funcionar pontualmente como gerador. As transições entre motor ligado e desligado são suaves e fluídas.
A funcionalidade e-Save permite igualmente forçar o carregamento da bateria através do motor térmico ou definir o nível de carga a manter. Ao Tonale Plug-In não falta, obviamente, um sistema de recuperação de energia para as fases de desaceleração e travagem.
Este é um Alfa Romeo que, como se diz na gíria, anda muito bem. Apesar dos 1.900 kg que pesa – ganhou cerca de 300 kg com esta maior taxa de eletrificação – o poder de aceleração do Tonale Plug-In é mais do que convincente, expresso pelos 6,2 segundos que precisa para acelerar de 0 a 100 km/h.
Porém, achei por vezes o desempenho muito dependente do “empurrão” elétrico. Não só pelas dificuldades que o esforçado motor 1.3 Turbo revela nos regimes mais elevados, quando está “sozinho”, bem como quando a bateria não tem carga suficiente para disponibilizar potência de uma forma rápida e imediata.
A velocidade máxima declarada é de “apenas” 206 km/h. Sim, são 280 cavalos, mas o motor elétrico será certamente o responsável por esta limitação física que não é, na verdade, limitativa.
Muita potência só com muito acelerador
Porém, uma revisão mais importante do que uma até compreensível dependência da potência elétrica é a da calibração da resposta do acelerador. Já o tinha sentido no primeiro contacto com o Tonale e voltei a ter a mesma sensação agora, com mais 150 cavalos disponíveis debaixo do pé. A potência está lá e o sistema híbrido responde com vigor, mas fá-lo tardiamente, só depois de muita pressão feita no pedal, transmitindo uma sensação algo “pesada”. A caixa acorda primeiro, com uma ou duas reduções, e só com ainda mais força feita pelo pé direito sentimos o Tonale dar o salto previsto para a frente.
No modo Dynamic a resposta do acelerador é, como esperado, mais agradável e imediata, mas para uma condução moderada no dia a dia, o Tonale fica, por outro lado, demasiado alerta e nervoso, mantendo as relações de caixa durante mais tempo. Por isso, mais do que utilizar o modo mais desportivo para se usufruir da resposta mais direta do acelerador, preferia que a Alfa Romeo reconfigurasse a resposta do acelerador no modo de condução Natural, o indicado para uma utilização moderada no quotidiano.
Uma caixa que responde e os travões fortes e lineares
A caixa de velocidades cumpre bem o seu serviço. Não é a mais rápida do mercado, mas considerando outras transmissões presentes em modelos híbridos plug-in, a automática de seis velocidades do Tonale é das poucas que não se baralha nas reduções mais exigentes pedidas através das estupendas patilhas colocadas atrás do volante. Pode, como disse, não ser muito rápida, mas responde sempre que lhe pedimos, sem hesitar, dando confiança para abordar as curvas com mais velocidade, travando e reduzindo à sua entrada com a garantia que as reduções vão efetivamente acontecer.
Um grande elogio merecem, sem dúvida, os travões, quer pela capacidade demonstrada, quer, acima de tudo, pela muito boa resposta que transmitem. A transição entre capacidade regenerativa e força efetiva de travagem mecânica é praticamente impercetível, algo que ainda não tinha encontrado nos muitos modelos híbridos plug-in que tenho conduzido. Excelente trabalho, Alfa Romeo.
Assistência a mais
A Alfa Romeo é reconhecida pela rapidez dos seus sistemas de direção e a do Tonale não é exceção. Alguns dirão até que é exageradamente rápida, dando ao eixo dianteiro um excessivo nervosismo do qual é difícil de usufruir. Em condução mais dinâmica, não é efetivamente necessário muito ângulo de volante para fazer as curvas, o que se agradece, mas é também exigida alguma habituação para não entrar demasiado cedo nas viragens, o que vai obrigar a compensar “abrindo” um pouco a direção para alargar um pouco a trajetória. Dito isto, gosto da rapidez do eixo dianteiro e habituava-me, com prazer, ao seu caráter incisivo e nervoso.
Algo de que não gostei tanto na direção do Tonale foi da sua exagerada assistência. No modo Natural, a leveza revelada pode até ser bem recebida na condução urbana e ao manobrar num parque de estacionamento, mas pareceu-me, quase sempre, exageradamente leve. Ao curvar, mesmo a ritmos moderados, um Alfa Romeo merece um pouco mais de feedback e exige-se, isso sim, que transmita uma maior confiança, algo que aqui lhe falta. Mudando-se o Alfa D.N.A para Dynamic, a menor assistência beneficia as sensações, dando mais confiança ao condutor. Porém, acontece o mesmo que descrevi acima, com o Tonale a ficar excessivamente preparado para andar depressa.
Pneus a menos
Mas não só a direção excessivamente assistida contribui para a pouca comunicação das rodas da frente com as mãos no volante, pois também os pneus – mais concretamente, a sua medida – são disso responsáveis. Não ponho em causa a qualidade e aderência da borracha Bridgestone de medida 235/40 R20, mas considero o seu perfil excessivamente reduzido. Uma parede pequena e firme é sinónimo de um pneu “rápido”, um pneu que dobra menos e que, assim, com maior rigidez, suporta melhor as cargas laterais. Não questiono, por isso, a sua escolha.
Por outro lado, a sua habitual menor capacidade de filtragem – igualmente potenciada pelo curto perfil – que se traduz normalmente em mais informação a chegar ao volante, não tem aqui esse efeito. Diria que um perfil ligeiramente superior não seria prejudicial para a rapidez do Tonale em curva e traria claros benefícios ao nível do feedback e da linearidade da resposta, uma vez que as ligeiras oscilações laterais podiam ajudar o condutor a perceber melhor o que se passa lá à frente, entre a borracha e o alcatrão, alertando-o, ainda que ligeiramente, para a chegada dos primeiros sinais de subviragem, algo que aqui me pareceu, por vezes, repentino.
Amortecimento variável: firme e ainda mais firme
Ao equipar um automóvel com amortecimento variável, é normalmente possível alternar entre um modo focado no conforto e outro um pouco mais focado na dinâmica. No caso do Tonale, a Alfa Romeo fez diferente e, a meu ver, ainda bem, optando por uma configuração firme e uma, a pedido, ainda mais decidida.
Mesmo no modo “normal”, é notória a firmeza da suspensão deste Tonale Plug-In. Porém, não senti, em momento algum, desconforto a bordo, com a suspensão independente nos quatro cantos a ter capacidade de filtragem suficiente para absorver a maior parte das imperfeições da estrada e para compensar, também, o já muito mencionado perfil de 40 mm dos pneus.
Mas senti, isso sim, e sempre, um enorme controlo das suas quase duas toneladas, revelando muita estabilidade e segurança ao curvar. Ao selecionar-se o modo Dynamic, a suspensão fica ainda mais firme, sendo imediatamente notória a maior tensão do chassis ao atirarmos o Tonale para um traçado mais exigente, mostrando-se ainda mais ágil e eficaz.
Nestes momentos, a tração integral é garantia de muita motricidade sob aceleração à saída das curvas e os excelentes travões contribuem com uma acrescida dose de confiança para que se possa usufruir do excelente dinamismo de um Tonale que, apesar da muita potência e indiscutíveis capacidades dinâmicas, foi pensado, também, para ser usado todos os dias, em todas as ocasiões. É por isso possível conduzi-lo, ao toque de um botão, em modo Dynamic em combinação com o modo menos rígido da suspensão
Conclusão
Há algumas arestas para limar no Tonale Plug-In Q4, mas diria que, caso a Alfa Romeo concorde com as minhas sugestões, será um trabalho de afinação fácil de executar. Parece-me absolutamente essencial dar uma nova calibração ao acelerador em modo Natural, conferindo-lhe uma resposta mais rápida, uma que beneficie a agradabilidade de utilização, tornando a experiência mais ligeira, mas sem tornar o conjunto mais nervoso.
Também a assistência da direção devia ser revista, dando um pouco mais de “peso” ao volante, quer em modo Natural, quer em Dynamic, transmitindo mais confiança numa condução normal e criando uma maior ligação para situações pontuais em que queiramos explorar os muitos argumentos dinâmicos do Tonale. E como acima referi, também a escolha de pneus poderá ter excedido o equilíbrio ideal entre a rigidez lateral que se exige e a comunicação que se espera receber ao volante.
Dito isto, o Tonale é, não tenho dúvidas, o Alfa Romeo de que a Alfa Romeo precisa. Porquê? Porque é o tipo de Alfa Romeo que as pessoas querem. Um SUV. E nos tempos que correm, para se ser bem-sucedido num segmento como este, é igualmente necessário ser-se híbrido recarregável. O Tonale Plug-In é a resposta certa, apontando assim à eficiência, mas não se esquecendo da potência.
Destaca-se igualmente por procurar combinar, de uma forma, diria até, exemplar, o conforto de utilização, espaço e versatilidade que se espera de um automóvel familiar com os valores que sempre definiram a “nossa” Alfa e aos quais os seus fãs não resistem, como a elegância do design e a emoção da condução. Um Alfa Romeo para os Alfisti de sempre, mas também para aqueles que nunca o foram ou que sempre disseram que jamais o seriam.