Novo Mitsubishi Colt – Muito mais do que o óbvio
A convite da Mitsubishi, estive em Berlim para a apresentação internacional do regressado Colt. Fui conhecer a sétima geração do modelo que coloca novamente a marca japonesa na aguerrida luta do tão relevante segmento dos utilitários.
Introduzido originalmente na Europa em 1978, o Colt vendeu mais de 1,2 milhões de unidades ao longo das seis gerações que antecederam esta nova, agora construída com base na plataforma CMF-B da Aliança Renault-Nissan-Mitsubishi. E antes que pensem ou comentem o óbvio, sim, o novo Mitsubishi Colt é em tudo idêntico ao Renault Clio, partilhando com ele a quase totalidade dos seus componentes. Mas será isso um problema? Só para quem quiser que assim o seja, não aceitando aquilo que foi, na verdade, uma solução inteligente para a nova estratégia da marca na Europa.
E isto porque até a própria Mitsubishi não o esconde. Se a ideia é ter produto disponível em tempo útil, quase no imediato, então faça-se bom uso das soluções internas disponíveis. O novo Colt segue assim as pisadas do ASX, apostando numa base de produto consagrada e de qualidade comprovada da Aliança para assim regressar antecipadamente a tão importante segmento de mercado no qual não tinham produto disponível atualmente no mercado europeu.
Porém, acalmem-se os fãs mais puristas da Mitsubishi, pois tinham-nos já garantido na apresentação do crossover ASX que mais tarde chegarão versões com design mais diferenciado. Em 2024, por exemplo, será introduzido o novo Outlander PHEV, o topo de gama da Mitsubishi. Um ano depois chega o primeiro 100% elétrico da marca, modelo sem emissões que apontará certamente, ao segmento C, mas sobre o qual nada foi confirmado relativamente ao seu design, se será assumidamente Mitsubishi ou com uma abordagem como a partilhada pelos novos ASX e Colt.
Renovação de identidade
No que diz respeito ao design exterior, os elementos típicos da linguagem de design da Mitsubishi como o Dynamic Shield não faltaram à chamada para o lançamento do novo Colt. São destaque as luzes de circulação diurna – colocadas no para-choques nos níveis de equipamento superiores – bem como, na traseira, o novo lettering Colt e a designação Mitsubishi a toda a largura da porta da mala, tal como no ASX.
Já no habitáculo é destaque a obrigatória digitalização, estando disponíveis dois displays para o sistema de infotainment, com 7” ou com 9,3”. Não faltam, por exemplo, as ligações Apple CarPlay, Android Auto, os assistentes de voz Siri e Google Assistant, bem como soluções de carregamento, incluindo um carregador sem fios. A Mitsubishi destaca, igualmente, a adoção extensiva de materiais sustentáveis no interior.
Motorizações e gama
Em termos de motorizações, o Colt aposta em dois motores a gasolina, ambos 1.0 litros de três cilindros, em versões de 65 cv/95 Nm – atmosférica, equipada com caixa de 5 velocidades – e 90 cv, esta última sobrealimentada e associada a uma caixa manual de 6 velocidades. A versão eletrificada, com tecnologia híbrida já conhecida da Aliança, não tem ainda previsão de ser lançada em Portugal.
A gama Colt distribui-se por quatro níveis de equipamento, Inform, Invite, Intense e Instyle, sendo que o primeiro não será disponibilizado em Portugal. Por outro lado, a Mitsubishi irá propor uma versão especial Launch Edition, específica para o mercado nacional, limitada a apenas 50 unidades. Está exclusivamente associada ao motor de 90 cavalos e tem como base a versão Invite – a que deverá representar mais vendas no nosso país – à qual foi adicionado equipamento extra. O Colt Launch Edition contará assim com jantes de liga leve de 17 polegadas, bancos parcialmente em pele, luz ambiente, antena Shark Fin, cruise control adaptativo, luzes de máximos automáticas, alerta de ângulo morto e travão de mão elétrico.
Ao volante do novo Colt
É exatamente neste capítulo que a já devidamente sustentada decisão da Mitsubishi de relançar o Colt como um assumido badge engineering do Renault Clio faz ainda mais sentido. Se, para já, o Colt tem de ser quase igual a um outro modelo, ao menos que seja quase igual a uma das referências do segmento.
Assim, não será de todo uma novidade se disser que regressei de Berlim com impressões muito positivas desta mais recente interpretação do nome Colt. A sétima geração herda do Clio todos os seus argumentos e, obviamente, também aquilo em que se destaca por ficar algo aquém do oferecido pela sua concorrência direta.
E começando, então, pelo menos bom, destaco o espaço livre no banco traseiro. É verdade que um utilitário se quer compacto, mas há no segmento propostas de dimensão exterior equivalente com uma melhor habitabilidade. O espaço oferecido chega para dois adultos, mas passageiros de maior estatura vão sentir-se apertados. A bagageira, por outro lado, destaca-se pela positiva, oferecendo 391 litros de volume.
À frente, em especial no lugar do condutor, é onde melhor se usufrui do Colt. A posição de condução é correta e o acerto de suspensão é garantia de conforto adequado, mas principalmente de uma sempre bem-vinda agilidade. O Colt passa, como seria de esperar, com distinção na avaliação dinâmica, complementado por uma boa resposta da direção e por uma leveza de comandos – pedais e caixa – que em muito contribuem para a sua facilidade de condução.
Consumo baixo
Ao volante de um topo de gama Instyle com motor 1.0 MPI-T de 90 cavalos, comprovei novamente como o downsizing trouxe enormes benefícios ao mercado. É verdade que o percurso realizado nos arredores de Berlim era pouco exigente do ponto de vista da topografia e os limites de velocidades apertados, mas o Colt mostrava 4,5 l/100 km de consumo no final do dia, mesmo com constante recurso ao ar condicionado.
A boa disponibilidade a baixos regimes é garantia de que não é preciso estar constantemente a recorrer à caixa para acelerar e ganhar velocidade, garantindo uma genica ideal para a cidade, bem como permitindo rolar estrada fora com as relações mais altas a manterem as rotações baixas, mas o binário disponível.
Para além do óbvio
O Colt é, como tentei explicar, muito mais do que o óbvio. É fácil fazer a piada do Renault Colt ou do Mitsubishi Clio ou nem sequer tentar perceber as razões que levaram a marca japonesa a tomar esta decisão e a seguir este caminho. Tenho lido muitos disparates nesse sentido. Mas a verdade é que, já em 2024, a Mitsubishi passará da oferta de dois modelos que tinha em 2022 – Space Star e Eclipse Cross PHEV – para uma gama composta por cinco propostas distintas com a chegada dos novos ASX, Colt e Outlander. E isso ninguém pode negar. Vender menos automóveis ou não vender nenhum simplesmente por não estar presente, parecem-me “contas” fáceis de fazer quando o produto está já desenvolvido e em plena produção.
O desafio Colt
No caso do novo Colt, tal como no do ASX, o verdadeiro desafio será comercial. Por um lado, é preciso manter o fiel cliente Mitsubishi interessado. Um cliente que é, quase sempre, fã assumido da marca e dos seus produtos, um cliente informado. O desafio será convencê-lo sobre as qualidades de um novo Mitsubishi de uma nova era, um produto que, independentemente de ser melhor ou pior do que o Mitsubishi que conduz atualmente, é assumidamente diferente daquilo a que está habituado.
Por outro lado, é preciso conquistar os novos clientes e chamá-los à atenção para essa nova era da marca e para a sua presença reforçada no mercado. Como fidelizar o cliente Mitsubishi será um desafio, sim, mas como como devem ser conquistados clientes a outras marcas? Como justificar a compra do Colt comparativamente ao consagrado Clio que lhe serve de base? Será isso uma vantagem ou trará, por outro lado, dificuldades? Uma oportunidade da Mitsubishi se relançar no mercado, mas uma que é também uma grande prova das suas capacidades.
O novo Colt representa, do ponto de vista do consumidor, mais uma opção muito válida disponível no segmento B de mercado. Do ponto de vista do entusiasta do automóvel, é o regresso de um nome histórico e também um grande motivo de interesse para ver até onde esta solução levará a Mitsubishi na Europa. Como me incluo em ambos os grupos, vejo com bons olhos a chegada do novo Colt e dizer que estou curioso para acompanhar o resto deste percurso e estratégia é dizer pouco.
O novo Mitsubishi Colt tem chegada prevista ao mercado nacional já em novembro e regressará em breve à Garagem para um ensaio mais prolongado e detalhado.