Nissan Ariya 87 kWh e-4ORCE Evolve – Um tremendo salto elétrico
Vou ser muito direto na abertura deste artigo: este é o melhor Nissan que alguma vez conduzi. Sei que não são sequer automóveis comparáveis, pois a abordagem é outra, o segmento também e o posicionamento idem, mas a evolução entre o 100% elétrico Leaf a que associamos imediatamente a experiente Nissan e o 100% elétrico Ariya é tremenda, bem maior do que os já longos anos que os separam deixariam antever.
Esteticamente, o Ariya ainda não me convenceu completamente. É diferente e tem personalidade, reconheço-o sem qualquer problema e reconheço, também, a importância atual de ser arrojado e irreverente no design, numa era em que, especialmente entre os elétricos, os automóveis são cada vez mais parecidos, com as suas anónimas e falsas grelhas.
O Ariya tem caráter, isso é indiscutível, mas, por outro lado, poderá ser, também, demasiado “fora da caixa” para o cliente europeu que possa apreciar linhas mais conservadoras. Aos meus olhos, o seu maior problema é mesmo a falta de largura para a altura que tem, culpa do posicionamento – justificável – das baterias, debaixo do piso, embora com claros benefícios para a dinâmica – mas já lá vamos.
No interior
O habitáculo é um dos pontos altos da experiência Ariya. E no caso desta unidade, tenho de começar por destacar o bom gosto na combinação de cores e texturas – inclusivamente o contraste com a pintura exterior – e por elogiar a sensação global de qualidade transmitida, por que não dizê-lo, premium, como está tão na moda. O ambiente é, como não podia deixar de ser, digital e minimalista, talvez até demais.
Isto porque a quase total inexistência de botões de pressão, mais convencionais, faz muito pelo referido minimalismo, mas pouco pela facilidade de utilização. Ao centro do tablier, os comandos da climatização e na consola central – com regulação elétrica – os comandos dos modos e assistentes de condução são feitos através de superfícies táteis, solução que nem sempre se mostrou fácil de usar.
Lá mais atrás
No banco de trás não há falta de espaço, seja para pernas, seja para a cabeça e a sensação de desafogo é ainda beneficiada pelo grande teto panorâmico desta unidade. O lugar do meio é favorecido pelo facto de não haver túnel central, mas não é, como esperado, muito cómodo. O assento, mesmo nos lugares laterais, beneficiava de um pouco mais de suporte para as pernas. As portas traseiras não são grandes, são enormes. Por isso, mesmo sem o ter testado, acredito que colocar cadeirinhas para os mais pequenos não seja uma dor de cabeça para os mais crescidos.
A bagageira desta versão e-4ORCE – com tração integral graças aos dois motores elétricos – oferece 415 litros de volume, menos 53 litros do que as versões de tração dianteira. O espaço disponível em altura, até à chapeleira, não permite grandes aventuras, mas o rebatimento dos bancos permite criar um plano de carga horizontal e um espaço enorme para transportar objetos maiores.
Como é conduzir o Ariya
Ao volante do Ariya, gostei da forma como o novo elétrico da Nissan pisa a estrada. Sim, sente-se o peso – sempre são 2260 kg – mas mesmo sem a maior amplitude de capacidades de um sistema de amortecimento variável, o Ariya raramente revelou o saltitar tão comum entre muitos dos elétricos do mercado devido a uma maior rigidez que visa controlar o peso elevado das baterias. O Ariya pareceu-me bastante melhor que muita da sua concorrência neste aspeto, revelando controlo dinâmico, mas mantendo um nível de conforto muito adequado.
Também a direção merece elogios, com nível de assistência bem julgado e capaz de transmitir boas sensações ao condutor, dando confiança, em combinação com o bom trabalho da suspensão e com os pneus Dunlop SP Sport Maxx – de medida 255/45 R20 – para explorar os 306 cavalos que resultam da combinação dos dois motores elétricos. O Ariya não é um desportivo, tenham isso em conta, mas despacha a aceleração de 0 a 100 km/h em menos de 6 segundos e a muita motricidade revelada dá confiança para subir um pouco o ritmo.
Consumo algo elevado
Porém, quem anda no mercado à procura de um elétrico novo, terá certamente como prioridade a sua eficiência. E nesse campo, este Ariya não é, eu aposto, mesmo sem conhecer as restantes versões, o mais poupado da gama. Mesmo recorrendo ao modo de condução com maior capacidade de regeneração de energia ao circular em cidade – onde o modo e-pedal é também uma mais-valia – e sem exageros ao circular em autoestrada, não consegui médias de consumo abaixo dos 18 kWh/100 km.
Há muito para se gostar no Ariya. Sim, como referi, não se mostrou particularmente poupado, não se destacando numa das avaliações mais importantes ao testar um elétrico. Por outro lado, é inquestionável a evolução do produto elétrico Nissan, bem como a sua qualidade geral. Sim, os saudosistas vão dizer-me que nunca guiei um Nissan do “antigamente”, porque “dantes é que era” e o Skyline e isto e aquilo. Não o questiono, não concordo e nem discordo. Mas este Ariya é, repito, o melhor Nissan que já conduzi.