Ensaio Sprint: Mazda CX-30 e-Skyactiv G 150 cv
Não sou um tipo de SUV, mas o CX-30 até faz o meu tipo. Isto porque à parte do visual diferenciado para o 3 com o qual partilha o segmento na gama da Mazda, as diferenças nas sensações de condução entre ambos, embora sejam notórias, não o são em dose suficiente para que a escolha seja assim tão óbvia até para alguém que prefere, quase sempre, a berlina da gama.
Visualmente, sim, o CX-30 usa e abusa das proteções plásticas da carroçaria e a ligeiramente superior altura ao solo, bem como do perfil dos pneus, garantem uma estética distintamente crossover, estando teoricamente mais apto para enfrentar a, por vezes caótica, cidade ou para se aventurar num caminho menos aconselhável aos hatchbacks. Por outro lado, a linha de cintura elevada e uma silhueta dinâmica com as linhas tipicamente Mazda conferem-lhe uma combinação de elegância e desportividade que, admito, me agrada.
Por dentro, tudo muito convencional aos olhos de alguns, tudo no sítio certo aos meus. O painel de instrumentos não é totalmente digital, o ecrã do infotainment não é enorme – apesar de ter crescido para 10,25” – e a caixa não é automática. Porém, a leitura do primeiro é ótima, o segundo é facilmente operado pelos comandos na consola central e a última é um verdadeiro prazer de utilizar. Os materiais são de qualidade e a construção inspira confiança. Atrás há espaço adequado para, como é habitual, dois passageiros. Falta, no entanto, alguma luz natural, fruto das pequenas janelas traseiras.
Lancei-me a um percurso diferente, convidando o CX-30 a percorrer praticamente 700 quilómetros num só dia, tendo regressado, desde logo, impressionado com o consumo combinado de 6,8 l/100 km. O motor 2.0 de 150 cavalos está mais do que à altura das exigências, mas não é a presença da tecnologia mild hybrid que lhe dá uma disponibilidade a baixos regimes equivalente à de um moderno motor sobrealimentado. É refinado, soa bem – para quem aprecia, claro – mas exige rotação para dele se extrair o que tem para dar. Com uma caixa manual tão boa, não é sacrifício nenhum explorá-lo.
O maior perfil da borracha, aliado a um bom acerto de suspensão, garantiu sempre um nível de conforto adequado, mesmo nos caminhos inesperados e estradas de calçada que o CX-30 teve de enfrentar na Sortelha, a caminho da Guarda. A dinâmica é Mazda, ágil e divertida, complementada por uma direção com bom peso e por uma boa posição de condução, baixa, considerando que estamos na presença de um SUV, e assim mais apontada a quem, como eu, gosta de se sentir mais por dentro da ação, mais envolvido no habitáculo e menos “em cima” do capot.
Uma outra novidade neste CX-30 é a inclusão do alerta sonoro de excesso de velocidade. Útil, sim. Chato, mais ainda. Apita, por exemplo, aos 31, aos 51 e aos 121 km/h. A mim, avisou-me para o ligeiro excesso e lembrou-me, também e principalmente, de o desligar. Sempre. Mas a Mazda, e bem (ao contrário de outras marcas), colocou um botão de acesso rápido para o desativar. É verdade que sempre que se inicia uma viagem, o sistema é reiniciado, mas assim pelo menos não me faz pensar o que já pensei noutros modelos após um quilómetro ao volante: “Jamais comprava este carro.” Por tudo isto, gosto do Mazda CX-30. É uma excelente proposta para quem aprecia o maior dinamismo e envolvência de um hatchback, mas que não resiste, seja lá por que motivo for, ao visual SUV.