Ao volante do Eletre: Um novo tipo de Lotus para uma nova era automóvel
Pequeno, baixo e leve. Os Lotus de Colin Chapman e os que surgiram posteriormente tinham estas três características em comum. O novo Eletre não. É um novo Lotus para uma nova era. É grande, muito grande, tem praticamente 1,65 metros de altura e sendo um enorme elétrico, tem uma igualmente enorme e pesada bateria de 112 kWh de capacidade que lhe eleva o peso total para qualquer coisa como 2,5 toneladas.
Mas não sendo pequeno, baixo e leve, será que consegue superar essas desvantagens e transmitir as sensações de rapidez, leveza e emoção imediatamente associadas à Lotus? Obviamente que este primeiro breve contato dinâmico nunca seria o mais conclusivo nessa análise/comparação e também não me parece que o principal objetivo da Lotus com o Eletre seja reproduzir, totalmente, as sensações dos seus eternos desportivos. Para isso existe, por exemplo, o Emira.
Exterior
Comecei por dizer que o Eletre é um automóvel grande. Mas é, na verdade, enorme. Com 5,1 metros de comprimento por 2,135 metros de largura, o Eletre tem uma grande pegada em estrada. Não o conduzi em cidade, reconheço, mas imagino que seja uma experiência algo intimidante. Para já, conduzi-o na tranquilidade de estradas secundárias quase desertas e, dada a sua potência e dimensão, talvez não tenha sido mau de todo para esta minha primeira experiência a bordo de um Lotus, um que rompe com o passado e que poderá não ser o preferido dos puristas, mas um de extrema importância para levar a marca para novos voos, num novo segmento e, pela primeira vez, em modo 100% elétrico.
Exteriormente, já o disse imensas vezes, não sou grande fã de SUV, menos ainda quando são enormes. Mas tenho de reconhecer que – embora as suas linhas não consigam esconder a sua enormidade – está bastante fiel ao que, na minha imaginação, poderia ser um SUV da Lotus. Há contraste, há muito dinamismo e, na medida do possível, emoção. Não o comparem com um Elise, Evora ou Emira. É incomparável. É, por que não, uma afirmação das capacidades de uma marca que se está a colocar à prova em terreno desconhecido. E antes que perguntem, as jantes são de 22 polegadas, forradas com borracha de medida 275/40 à frente e 315/35 atrás. Impressionante.
No interior
No habitáculo, dizer que a sensação de espaço é boa é ser injusto. Os centímetros livres abundam em todas as direções e nesta configuração de quatro lugares individuais, desfrutar da viagem a partir da zona traseira deve ser incrivelmente confortável. Os bancos desportivos contam com imensas regulações e não falta um ecrã tátil central para controlo de funções como o áudio, a climatização e os próprios bancos. Entre os dois lugares traseiros, a consola dispõe também de muito espaço de arrumação. A bagageira oferece 688 litros de volume na configuração de cinco lugares e à frente o Eletre dispõe de 46 litros de volume útil adicional, ideal para guardar os cabos de carregamento.
Ainda no interior, é importante destacar elementos como o teto panorâmico com opacidade regulável e um sistema de infotainment com um ecrã central com ótima definição. Também o passageiro da frente dispõe de um pequeno ecrã tátil à sua frente. Já nas laterais, na zona superior dos forros das portas, estão colocados os ecrãs que transmitem as imagens provenientes das câmaras que substituem os retrovisores exteriores, uma solução que até pode beneficiar a aerodinâmica, mas da qual já não era e não fiquei fã. No geral, a qualidade dos materiais e dos acabamentos é elevada, mas por ali já andava um ou outro ruído parasita.
Apesar de bem instalado em qualquer um dos lugares dos passageiros, foi no lugar do condutor que mais me gostei de sentar. A posição de condução ideal é fácil de encontrar e apesar de todo o aparato tecnológico, é muito fácil dar início à condução, pois nem sequer botão de arranque há. Desde que o Eletre detete o cartão – encostar no pilar B para destrancar – basta colocar o seletor da transmissão em Drive e arrancar. Já o volante não é um círculo perfeito e embora em nada dificulte a condução, não me parece resultar bem esteticamente. Atrás dele estão as habituais patilhas, mas aqui com funções diferentes do que é costume: à esquerda para variar a intensidade da regeneração, entre três níveis e um modo completamente desligado; à direita para alternar entre os modos de condução: Individual, Sport, Tour, Range e Offroad.
Conduzir o Eletre
Ao volante, e sem me deixar levar pelas muitas possibilidades de configuração, uma vez que o tempo era “curto”, explorei ligeiramente as capacidades dinâmicas do Eletre e não há como não ficar impressionado. Com tração integral e uma potência combinada de 450 kW – 612 cavalos – o poder de aceleração deste Eletre S é para lá de convincente, mais ainda se pensarmos que o Eletre R eleva a fasquia para os 675 kW de potência, qualquer coisa como 918 cavalos. Garanto-vos, “seiscentos cavalos”, apesar das duas toneladas e meia, chegam e sobram. Não testei consumos, pois não havia tempo, mas a Lotus promete uma autonomia combinada de 600 quilómetros, um valor que me parece, no mínimo, otimista.
Com o modo de condução Tour selecionado, conduzi-o sobre piso algo degradado para por à prova a capacidade de filtragem da suspensão pneumática. Surpreende pelo conforto oferecido e por ser igualmente capaz de manter tudo muito controlado, mas não resisti a rapidamente passar para Sport. O Eletre passa a rolar mais baixo, o banco ajusta-se para nos conter nas curvas e a maior firmeza da suspensão deixa-o mais tenso, anulando quase na totalidade o adornar de carroçaria. O conforto piora, obviamente, mas a sensação de rapidez da direção passa a ser ainda mais imediata. O peso está lá, não “desaparece” completamente, mas as reações são ágeis, decididas e, claramente, distantes das esperadas de um automóvel deste peso e tamanho. Os genes Lotus, os possíveis, estão lá, parece-me.
Lotus Eletre S desde 129 141 euros
O contato foi breve, é certo, mas foi, para uma primeira experiência, esclarecedor sobre as intenções da Lotus e das capacidades do Eletre. Não é – e diria que, obviamente, não quer ser -um substituto dos Lotus a que rapidamente associamos o nome da marca britânica. É, sim, um Lotus que abre as portas a um novo mundo para a icónica marca de desportivos. De uma vez só, a Lotus entra no segmento SUV e entra no mercado elétrico. E entra, literalmente, em grande. Apesar das suas qualidades e competências, não o posso apelidar de emocionante. Por outro lado, também pelas suas qualidades e competências, é, sim, deveras impressionante.