BYD Tang: Muito provavelmente, o melhor automóvel chinês que já conduzi
É verdade que não foram muitos. Uma meia dúzia deles, por aí, mas o que afirmo no título não deixa de ser verdade. Não é o meu preferido e não é, também, o mais relevante para o nosso mercado, mas é um ótimo automóvel, garanto-vos.
O BYD Tang destacou-se, desde logo, pela estética: “Diga-me lá uma coisa: Isso é um Toyota ou um Lexus?” Gostos não se discutem, mas esta pergunta com a qual fui confrontado resume bem o trabalho feito pela BYD ao conceber a carroçaria do seu enorme SUV, passando bem por uma proposta de outras marcas, também elas orientais, mas com muito mais experiência no desenvolvimento de produtos para o cliente europeu. O Tang teve até direito a “fixes” de aprovação à sua passagem.
Sóbrio, mas moderno, o Tang beneficiava, no entanto, de um símbolo dianteiro com um design que pudesse igualmente qualificar dessa forma. As impressionantes jantes têm 22 polegadas e estão calçadas com pneus Continental de medida 265/40. Não sei quanto custam quatro pneus, pois não encontrei essa informação. Na verdade, até acho melhor não saber. As enormes jantes escuras escondem um sistema de travagem da Brembo com discos perfurados à frente e atrás, potência de desaceleração que se agradece quando temos mais de 500 cavalos associados a um peso total de 2500 kg em vazio.
As boas impressões continuam assim que passamos ao habitáculo. O design pode até ser algo conservador ao nível das cores e também por ali estão dois ou três detalhes de gosto mais duvidoso, mas, no geral, o habitáculo do Tang é um ótimo sítio para se estar. A qualidade dos materiais empregues, bem como a sensação global de execução merece nota muito positiva. Já os elementos em plástico “piano black” têm uma vida mais complicada, mostrando já algumas marcas de utilização.
A segunda fila do Tang é um dos seus destaques. As grandes portas garantem um acesso facilitado e as janelas são, também elas, grandes, beneficiando o conforto de quem por ali viajar. Este só não é melhor porque o assento é algo curto. Porém, aceita-se a solução, já que é preciso considerar o conforto dos potenciais passageiros da terceira fila. Todos os milímetros contam. O lugar central não é, obviamente, a epítome da ergonomia e conforto, mas é perfeitamente utilizável, se necessário, em trajetos mais pequenos do dia-a-dia.
Já a acessibilidade à última fila obriga à ginástica habitual, sendo que a entrada só pode, e bem, ser feita pela porta traseira direita. Depois de instalados, não se espere um grande conforto, pois não só somos obrigados a viajar com os joelhos muito elevados, como a sensação é algo claustrofóbica devido ao tamanho e colocação dos vidros laterais. A segunda fila pode ser regulada longitudinalmente, permitindo jogar com os centímetros livres para os joelhos. A capacidade da bagageira varia entre os 235 e os 1655 litros.
Recorrendo a uma combinação de dois motores elétricos, um por cada eixo, o Tang disponibiliza ao condutor uma potência total de 517 cavalos e um binário máximo de 680 Nm. Só assim é possível que tão volumoso e pesado SUV de 7 lugares consiga despachar o sprint de 0 a 100 km/h em 4,6 segundos. Já a sua velocidade máxima é de 180 km/h. A bateria de fosfato ferro-lítio tem 86,4 kWh de capacidade e, segundo a BYD, permite percorrer 400 quilómetros em ciclo combinado. Neste teste, com uma média combinada de 24 kWh/100 km, a autonomia total ficou-se por uns teóricos 360 quilómetros. No que diz respeito a carregamento, o Tang suporta uma potência máxima de 120 kW, mas num carregador de 180 kW, nunca o vi carregar a mais do que 47 kW.
O andamento demonstrado é mais do que “muito”, mas o Tang não prefere ser conduzido a ritmos elevados. Tem um comportamento muito são, previsível e seguro, mas a sua praia são os ritmos tranquilos dos passeios em família. O amortecimento pode ser regulado ao selecionar-se o modo de condução Sport, é certo, mas o peso está lá, não desaparece ao toque de um botão, e o Tang mostra-se, assim, bastante mais agradável de explorar nos modos de condução mais moderados. Vou mais longe ao afirmar que o conforto saía ainda beneficiado por pneus com perfil maior, que lhe dessem mais capacidade de filtragem nessa tão relevante camada de amortecimento.
No meio das suas muitas qualidades, existem, obviamente, aspetos a melhorar. Pode ser uma questão pessoal, mas não gostei de ter de tocar no acelerador sempre que alterno entre os modos de regeneração para que se sinta o efeito da minha seleção. Devia ser imediato. Também não aprovo um computador de bordo que só indique a média de consumo de energia nos últimos 50 quilómetros percorridos, bem como um sistema de leitura de sinais de trânsito pouco confiável. E falta-lhe um rádio FM, talvez o “menos” que mais confusão me fez. Na era da digitalização e das atualizações “invisíveis” e “voadoras” espero que estes detalhes sejam rapidamente corrigidos, pois o Tang é uma proposta muito válida para o mercado dos SUV elétricos de 7 lugares.