Mitsubishi Colt, uma história com (pelo menos) 46 anos
Lançado originalmente em março de 1978, o Mitsubishi Mirage – Colt, como nós o conhecemos por aqui ou ainda A150 como a marca designa a primeira geração internamente – foi a resposta da marca japonesa às necessidades de um mercado global que exigia uma melhor utilização de recursos e, acima de tudo, um menor consumo de combustível devido, por exemplo, à crise petrolífera de 1973. O primeiro modelo da marca com motor dianteiro e tração às rodas da frente foi, assim, concebido como um verdadeiro automóvel mundial, um veículo para as massas, apostando numa estética assinada pela própria Mitsubishi Motors e em evoluídas soluções técnicas, como por exemplo, a transmissão Super Shift, a qual permitia ao condutor escolher entre dois perfis distintos, favorecendo a eficiência ou a potência.
Com uma carroçaria de 3,79 metros de comprimento, 1,585 metros de largura e 1,345 metros de altura, o Colt distinguia-se pela sua dianteira mergulhante, pelas portas grandes – para a época – e ainda pela muita superfície vidrada, possibilitada pelo design fino dos pilares, o que favorecia a luminosidade a bordo e a visibilidade para fora. Outro dos seus destaques era a suspensão independente às quatro rodas, com geometria multibraços no eixo posterior. A gama foi mais tarde reforçada com uma versão de cinco portas, bem como com a já referida evoluída transmissão automática, fazendo do Colt uma proposta mais completa e abrangente.
Já em 1982 a Mitsubishi revolucionou ao introduzir a inédita versão Mirage II, em carroçaria de quatro portas, com uma tecnologia inovadora denominada Modulated Displacement, capaz de colocar o motor 1.4 Turbo de quatro cilindros a trabalhar com recurso a apenas dois, reduzindo o consumo que, segundo um ciclo de medição japonês daquela altura, lhe permitia declarar um consumo de 5 lt/100 km. A primeira geração do Colt esteve no mercado até 1984 e foi um tremendo sucesso, tendo sido vendidas mais de um milhão de unidades no Japão e nos mercados de exportação em apenas cinco anos.
A segunda geração do Colt surge no mercado em outubro de 1983. Uma renovação total, como a própria Mitsubishi refere, com o Colt a apostar num visual com linhas mais retilíneas, totalmente em sintonia com a década de 1980. O desempenho aerodinâmico e a praticidade foram melhorados e a muita superfície vidrada continuou a ser um dos destaques, favorecendo a visibilidade durante a condução. A gama de motorizações foi reforçada com um motor 1.6 Turbo, a gasolina, bem como por um motor Diesel de 1.8 litros. A tecnologia Modulated Displacement voltava a permitir que o motor do Colt funcionasse com recurso a dois ou a quatro cilindros, consoante a situação. Disponível em carroçarias de três, quatro e cinco portas, a geração C10 do Colt distinguia-se ainda por elementos como um sistema automático de climatização do habitáculo e instrumentação LED.
Exatamente quatro anos depois, em outubro de 1987, a Mitsubishi apresenta a terceira geração do Colt, o C50. Mais largo e mais alto, o Colt era, no entanto, ligeiramente mais curto do que a geração que substituiu. Desenhado por Masaru Furukawa, o compacto japonês assumia agora linhas mais arredondadas, como que a prever a tendência que a década de 1990 trouxe ao mercado. A gama de motores incluía novamente opções a gasolina e Diesel, bem como um apetecível 1.6 Turbo de 145 cavalos na versão desportiva Cyborg. No campo das inovações, destaque para a instrumentação “camaleão”, capaz de mudar de cor, para o rebatimento inovador do banco traseiro, coluna de direção ajustável e assistente ao arranque em subidas. Em 1988, a gama Colt venceu inclusivamente o troféu “Das Goldene Lenkrad” na Alemanha.
No outuno de 1991 o Colt “veste um fato” integralmente à anos 90, com um design pleno de curvas, mas igualmente capaz de transmitir desportividade, visto ser mais curto, mais baixo e mais largo. Foi desenvolvido sob o lema “Basic Car for the New Age” e estreou, para além de uma carroçaria totalmente redesenhada, novas motorizações e uma nova plataforma com geometria Multilink na suspensão traseira. Relativamente ao Colt que substituiu, a geração CA0 oferecia melhores níveis de habitabilidade e destacou-se por poder incluir ajudas eletrónicas como o controlo de tração e a travagem ABS. Entre as muitas opções disponíveis ao nível das motorizações, esteve disponível em alguns mercados com o motor V6 mais pequeno do mundo, bem como com o revolucionário motor Vertical Vortex da Mitsubishi.
Novamente passados quatro anos surge um novo Colt, o CJ0, geração que ainda hoje conseguimos encontrar com alguma facilidade a circular nas estradas nacionais. A Mitsubishi voltou a reduzir-lhe o comprimento, mas o mais pequeno Colt continuou a apostar num esquema de suspensão independente às quatro rodas. O motor mais visto no nosso país foi, sem dúvida, o pequeno, mas enérgico, 1.3 litros de quatro cilindros com 75 cavalos de potência. Com um peso de apenas 920 kg, o Colt atingia os 170 km/h e cumpria o sprint de 0 a 100 km/h em 12, 5 segundos. Nada mau, considerando a potência reduzida do motor a gasolina. Ao nível da eficiência, o Colt conseguia, em ciclo misto, ficar abaixo dos 7 l/100 km, um número, ainda hoje, na era da eletrificação, respeitável.
A entrada no novo milénio trouxe consigo um Colt visualmente bastante mais arrojado. Lançado em novembro de 2002, a nova geração recorria a uma nova plataforma desenvolvida em conjunto com a Daimler Chrsyler – lembram-se do Smart Forfour? – e utilizava motores de 1.1, 1.3 e 1.5 litros, a gasolina e a gasóleo. A versão Ralliart representava o topo da gama em termos de performance. A sexta geração esteve no mercado até 2012 e contava com duas versões de carroçaria, de três ou cinco portas, bastante distintas.
Apesar da primeira geração do modelo ter surgido em 1978, a verdade é que o nome Colt surge pela primeira na história da Mitsubishi em 1962, quando a marca lançou o Colt 600. O modelo que nos é familiar pode ter “só” 46 anos, mas o nome Colt já conta com mais de seis décadas de vida, tendo-se dividido em inúmeras variantes que não seria de todo fácil incluir nesta breve história, com versões especificamente desenvolvidas para alguns mercados. A sua importância na já longa cronologia da Mitsubishi é enorme e não é por isso de estranhar que, depois de alguns anos afastado do nosso mercado, o Colt tenha regressado em 2023 à gama da marca nipónica.
Este mais recente Colt é um produto resultante da Aliança Renault-Nissan-Mitsubishi, sendo aquilo a que a indústria designa por “badge engineering”, uma solução engenhosa que permitiu à marca ter novamente o Colt no mercado, uma resposta inteligente à reformulação da sua estratégia para o continente europeu. É o Colt da era da digitalização, dos assistentes de condução e do downsizing, aquele que, atualmente, é o responsável por prolongar uma história que se aproxima a passos largos de meio século de vida. Longa vida ao Colt.