Abarth 500e. Será este o desportivo perfeito para o dia a dia na cidade?
Respondendo ao título-pergunta, tudo indica que sim. É pequeno para ser mais fácil de estacionar, é económico, como veremos mais abaixo e é rápido e muito divertido de guiar. Mas – e há sempre um “mas” – este Abarth é elétrico. É, aliás, e se não fiz mal a pesquisa e raciocínio, o primeiro verdadeiro hot hatch 100% elétrico. Para os mais puristas, não há como compensar este “defeito”. Mas será mesmo assim?
Por dentro do primeiro Abarth elétrico
Algo com que sempre lutei nos Abarth a combustão foi com a posição de condução, demasiado alta e em frente a um volante demasiado inclinado e a uns pedais mais propícios a serem pisados do que empurrados. As restantes qualidades compensavam, e de que maneira, este pequeno desconforto, mas apesar da colocação da bateria debaixo do piso, a posição de condução no 500e é indiscutivelmente melhor e mais confortável.
O habitáculo não é excessivamente “racing”, combinando, de forma feliz, elementos desportivos como os bancos com dupla costura colorida, pedais e volante, com outros mais refinados, como o acabamento a Alcantara no painel frontal do tablier. A Abarth conseguiu, assim, conceber um ambiente anterior à altura da performance, mas que é igualmente um ótimo sítio para se estar a enfrentar o trânsito da cidade no dia a dia.
Os números
O primeiro dos Abarth elétricos – a marca já anunciou o lançamento do novo 600e com 240 cavalos – dá o “pontapé de saída elétrico” num segmento de mercado muito procurado por entusiastas dos automóveis, o dos pequenos desportivos e vai a jogo com 155 cavalos e com uma bateria de 42 kWh. A velocidade máxima é de 155 km/h, inferior à dos Abarth a combustão, mas a sua grande vantagem está nas recuperações, com os imediatos 235 Nm de binário a darem-lhe uma capacidade de resposta muito convincente, uma verdadeira bala nas ultrapassagens a ritmos médios.
O infotainment inclui até uma ferramenta muito útil para os fãs de arranques rápidos, permitindo medir o tempo de 0 a 60 km/h e de 0 a 100 km/h. Na primeira tentativa que fiz, com 30% de carga na bateria, consegui 3,5 e 8 segundos, respetivamente. Não fiquei satisfeito e por isso voltei a tentar com energias repostas até 75%. Os 60 km/h chegaram apenas uma décima antes, mas os 100 km/h foram atingidos mais depressa, em 7,4 segundos, ficando mais próximo dos 7 segundos declarados oficialmente.
Ao volante
Passando à condução do Abarth 500e, tenho de começar por destacar a travagem, forte e segura como se exige num pequeno desportivo, mas com um tato que não tinha ainda encontrado num elétrico. É certo que no modo de condução Scorpion Track a regeneração é totalmente desligada e contamos apenas com a fricção das pastilhas nos discos às quatro rodas para nos abrandar, mas mesmo nos restantes – Turismo e Scorpion Street – onde o motor elétrico inverte o seu funcionamento, passando a atuar como gerador para recuperar energia nas desacelerações, o feedback do pedal continua a ser muito positivo. Excelente trabalho, Abarth.
Como seria de esperar, o escorpião engordou, pesando agora qualquer coisa como 1.450 kg. Porém, o desempenho do motor elétrico aliado a um excelente trabalho realizado na definição da força de amortecimento garantem um comportamento dinâmico que continua a surpreender. Ágil como poucos, e longe de ter no conforto a sua maior preocupação, o Abarth 500e consegue manter um nível adequado de filtragem se o piso não estiver demasiado estragado, tendo também agradado por não ser um daqueles elétricos que sentem alguma dificuldade em controlar o peso elevado. Raramente o senti, diga-se.
Muita tração
O melhor posicionamento do volante, aliado a uma direção de resposta rápida, garantem que é fácil colocar as rodas da frente onde queremos e à saída das curvas, o “Acid Green” impressionou pela muita tração para colocar os 155 cv no alcatrão. Seria fácil associar a disponibilidade elétrica e a dimensão reduzida do 500 a imediatas perdas de motricidade, mas o bom controlo da inclinação da carroçaria ajuda a manter os Bridgestone Potenza colados ao asfalto, puxando-nos para a frente sob aceleração. Para a curva seguinte, podemos confiar no feedback e na força da travagem, mas não nos podemos esquecer da reduzida distância entre eixos do 500, não sendo de estranhar sentir o eixo traseiro ganhar alguma vida nas desacelerações mais fortes.
O som artificial, concebido em laboratório para simular o ronco do motor 1.4 T-Jet dos Abarth a gasolina, é outro dos destaques do primeiro dos Abarth a bateria. Não vou aqui dizer que substitui, na perfeição, o som de que tanto gostamos, mas é, sem dúvida, um excelente exemplo do que pode vir a ser possível no futuro em termos de experiência sonora num elétrico. Não é perfeito, mas chega para divertir nos momentos certos, sendo possível desligar quando acharmos que “já chega”. A melhorar: ter um botão específico para ligar/desligar, evitando ir ao menu do painel de instrumentos.
Consumos, carregamento e preço
Quanto a consumos, foram sempre superiores aos registados pelo 500 da FIAT, é certo, mas ainda assim bastante convincentes na hora de ser mais eficiente do que desportivo. Fechei o ensaio com uma média de 15,8 kWh/100 km, sem grandes preocupações em consegui-la, o que coloca a autonomia nuns potenciais 265 quilómetros. Na hora de carregar a bateria, usei um posto de 150 kW e vi-a receber energia a uma potência estável de 78 kW. Em apenas 17 minutos, o nível de carga subiu de 30 para 75%.
O FIAT 500 será, certamente, a escolha perfeita para poupar no dia a dia na cidade, mas este seu “irmão” Abarth consegue manter muitos dos seus argumentos citadinos, elevando, e muito, o nível de performance, de emoção e de exclusividade. Costumo avaliar um desportivo elétrico tendo sempre em consideração que, ao ser elétrico, é mais difícil ser desportivo. A Abarth conseguiu que, pela primeira vez, não o vá fazer. O Abarth 500e é um desportivo cheio de qualidades que, “por acaso”, é 100% elétrico. Tão simples como isso. Os preços iniciam-se nos 38.030 euros, mas o deste exemplar recheado é digno de apanhar um choque: 43.000 euros.