Ensaio Sprint: Honda e:Ny1
Depois do absolutamente irresistível Honda e, a marca japonesa virou-se para os crossovers e aposta agora no novo e:Ny1 como ponta de lança da sua ofensiva elétrica na Europa. É, assim, o seu segundo modelo 100% elétrico no velho continente e é construído com base numa nova plataforma batizada de e:N Architecture F.
Esteticamente, as parecenças com o HR-V são inegáveis, ainda que o e:Ny1 assuma um estilo diferente, mais “verde” ou, neste caso, azul e estreie, igualmente, uma nova identidade da marca, presente, por exemplo, na designação “Honda” na porta da bagageira. A troca de uma grelha convencional por um painel fechado na frente – esconde a tomada de carregamento – fá-lo perder um pouco de “expressão facial” comparativamente ao HR-V, mas há no mercado exemplos piores.
Por dentro
O habitáculo é surpreendentemente espaçoso, oferecendo bom espaço livre para pernas e cabeça no banco traseiro, sendo que o design exterior é algo enganador nesse aspeto, pois o e:Ny1 é maior do que parece. O apoio de braços traseiro simplesmente cai ao abrir, num movimento pouco cuidado. A bagageira merece nota positiva, quer pelo volume disponível, quer pelo acesso, com uma grande abertura de carga. O fundo amovível permite criar um plano sem interrupções para colocar volumes mais compridos e debaixo do piso há um espaço útil para guardar os sempre volumosos cabos de carregamento.
Mais à frente, as atenções são dominadas pelo enorme ecrã tátil central, colocado em posição vertical. A definição é excelente e as suas dimensões garantem que é possível manter visíveis, por exemplo, os comandos da climatização. Ainda assim, o HR-V que conduzi fazia melhor, mantendo os comandos rotativos e uma apresentação mais cuidada e acolhedora. Percebo a ideia, apostar forte na obrigatória tecnologia e digitalização, mas visualmente, embora impressionante, resulta pouco agradável. A qualidade geral dos materiais também não é convincente. Principalmente considerando o preço do e:Ny1. Mas já lá vamos.
Ao volante
O motor elétrico, colocado no eixo dianteiro, entrega-lhe 204 cavalos e 310 Nm. Com 1.730 kg para mover, estes números são suficientes para acelerar o e:Ny1 dos 0 aos 100 km/h em 7,6 segundos, “pujança” mais do que suficiente para o dia-a-dia e também capaz de provocar perdas de tração se não formos gentis com o acelerador. Já a velocidade máxima é de 160 km/h. A ritmos “legais”, os que importam, o condutor tem ao seu dispor três modos de condução – Econ, Normal e Sport – bem como três níveis de regeneração, controláveis através de patilhas no volante. Infelizmente, nem o mais forte permite conduzir sem recorrer ao pedal de travão (com muito boa calibração), nem o mais ligeiro deixa o e:Ny1 deslizar livremente. Ainda assim, não é difícil manter a média de consumo nos 15 kWh/100 km, um valor bastante bom e que praticamente confirma ser possível atingir a autonomia declarada de 412 quilómetros com a bateria de 62 kWh úteis.
A posição de condução é elevada e favorece a boa visibilidade para a frente, contribuindo para a facilidade com que o e:Ny1 se deixa levar. Porém, ao rolar, apesar do comportamento são e seguro, há margem para melhorar, Honda. Desde logo a nível sonoro, com o ruído do conjunto máquina elétrica e transmissões a invadir demasiado o habitáculo, mas também ao nível do chassis, uma vez que a rigidez do amortecimento é algo excessiva, retirando conforto que é bem-vindo sem adicionar dinamismo à experiência, algo que uma proposta como o e:Ny1 dispensa.
O nome e o número
O segundo elétrico europeu da Honda tem, apesar da margem de evolução identificada e da recalibração que seria bem-vinda num par de aspetos, vários argumentos. Uma dimensão adequada para a cidade, boa habitabilidade, potência que se usa e uma autonomia que já não preocupa. Mas tem, para além do nome excessivamente complicado, um grande problema que coloca todos os pontos bons – e principalmente, os menos bons – em perspectiva: o seu preço de entrada de 54.750 euros. “e:Ny1” o vai comprar?