Ensaio Total: Lexus RZ 450e Luxury
Permitam-me começar pelo “elefante na sala” e tirar já isto do caminho: A configuração deste “BD16QN” não o favorece. Aos meus olhos, mas também aos de muitos que o viram e não conseguiram “não ver”, pois a cor de cobre da elaborada carroçaria não combina nada bem com o habitáculo onde o tom Hazel – caramelo – é o predominante. Gostos não se discutem, mas aponto-o em defesa da imagem arrojada do RZ, claramente prejudicada por uma infeliz combinação. Ou outra cor para a carroçaria ou com outro ambiente interior, mas juntos é que não. Refiro-o porque acho que “por baixo” está um SUV que, visualmente, tem tanto de elegante como de dinâmico e que provou ser capaz de dar nas vistas.
Passando ao interior, a sensação imediata e transversal é que o habitáculo é um ambiente onde se respira conforto e qualidade. Os materiais são muito agradáveis ao toque, destacando-se, por exemplo, o volante, muito suave e refinado nas mãos. Já a incorporação do ecrã do infotainment – ótima resolução e funcionamento intuitivo – e das saídas de ar centrais no tablier não me parece muito feliz, assim como o facto de os originais comandos da climatização serem complementados por outros botões muito menos inspirados, parecendo uma solução de última hora de integração pouco conseguida. Ainda à frente, destaque para uma posição de condução muito boa, complementada pelos ótimos bancos com funções de aquecimento e ventilação automáticas. Está também disponível uma função de aquecimento por radiação para as pernas dos passageiros da frente. Não fiquei fã da abertura elétrica de portas, assumo. Não vale a pena complicar, Lexus.
No que diz respeito aos lugares traseiros, é importante começar por elogiar o prolongamento da sensação de qualidade sentida mais à frente. O assento do banco traseiro podia ser um pouco mais inclinado, oferecendo mais suporte às pernas, mas como não falta espaço para os joelhos e não há túnel central, é fácil encontrar uma posição confortável. O teto em vidro, sem cortina, mas com controlo elétrico da opacidade, dá um enorme contributo para as boas impressões a bordo. Importa igualmente referir que a dimensão das portas traseiras garante um acesso fácil, bem como ajuda na hora de colocar as volumosas cadeirinhas dos passageiros mais pequenos. A bagageira oferece 522 litros de volume, bem como um espaço debaixo do piso para arrumar os cabos de carregamento. O acesso largo à bagageira facilita a colocação de grandes objetos.
Ao volante, a experiência prima pelo refinamento acústico e conforto de rolamento. O RZ, mesmo sem amortecimento variável, mostrou dispor de uma suspensão à altura das exigências, capaz de absorver a maior parte das irregularidades e, ao mesmo tempo, de controlar com eficácia os movimentos da carroçaria em condução mais dinâmica. Equipado com um motor elétrico em cada eixo, o RZ disponibiliza uma potência máxima de 313 cavalos, 435 Nm de binário total e é capaz de acelerar de 0 a 100 km/h em 5,6 segundos. O poder de aceleração impressiona, mais ainda se considerarmos o peso superior a 2200 kg. A velocidade máxima é de 160 km/h.
Dinamicamente, o RZ transmite sempre muita segurança e faz o que lhe é pedido se aumentarmos o ritmo, mas é um veículo que tem, claramente, outras prioridades. Os modos de condução incluem, para além do Custom, o obrigatório Sport, mas o RZ foi pensado para se desfrutar a ritmos moderados, mais alinhado com qualquer um dos outros modos disponíveis – Eco, Normal, Range – com os quais é mais fácil tentar chegar à autonomia declarada, nesta versão Luxury com jantes de 20 polegadas, de cerca de 400 quilómetros. O consumo mais baixo que consegui neste teste foi de 18,4 kWh/100 km, o que, com a bateria de 71,4 kWh, coloca a autonomia teórica em 388 quilómetros. Ainda em termos de eficiência, falta ao RZ um verdadeiro modo “one pedal”, ainda que seja possível ajustar a intensidade da regeneração de energia em três níveis (adicionalmente, é possível desligar a recuperação por completo) através das patilhas no volante. No que ao carregamento diz respeito, o Lexus RZ suporta uma potência máxima DC de 150 kW. Realizei um breve teste num posto de 50 kW, tendo sido possível elevar o nível de carga da bateria de 58 a 75% em 15 minutos. A bateria recebeu 10,8 kWh de energia, o que, considerando o consumo médio deste ensaio, representou uma autonomia adicional de 60 quilómetros.
Disponível a partir de cerca de 75 mil euros, não é de estranhar que o RZ, o primeiro Lexus 100% elétrico construído com base numa plataforma pensada para este tipo de propulsão, transmita, de imediato, a habitual sensação de qualidade e durabilidade da marca. Os materiais e os acabamentos são de elevada qualidade e o nível de conforto e vivência a bordo são, igualmente, pontos altos da experiência. Mas há, sem dúvida, margem para melhorar em termos de eficiência, principalmente num modelo que não aponta à cidade, mas sim às vias onde a velocidade é superior, onde o consumo, inevitavelmente, dispara e autonomia dissipa-se. Os assistentes de condução também me pareceram algo nervosos, com o alerta de atenção do condutor a dar sinal ao mais pequeno desviar dos olhos – a moda da digitalização assim o obriga – bem como o de travagem, ao estacionar, assustando condutor e passageiros desnecessariamente. Quanto ao preço deste recheado Luxury, a Lexus pede por ele qualquer coisa como 88.880 euros. Dói e não é pouco. Mais ainda nesta combinação de “cobre caramelizado”.