Ensaio Total: Renault Espace E-Tech Full Hybrid
O Espace está muito diferente. Tão diferente quanto uma nova geração o permite, assumindo, nesta sexta interpretação do histórico nome da Renault, um novo formato de carroçaria, apresentando-se agora como um verdadeiro SUV e terminando o processo de transformação iniciado pela geração anterior cujo formato monovolume era já complementado por uma postura com ares do conceito da moda.
Partilhando muito do seu estilo com o novo Austral – o excelente C-SUV da Renault, cujo ensaio podes ler ou reler aqui – o novo Espace conta, no entanto, com 71 milímetros adicionais de distância entre eixos, superando-o, igualmente, no comprimento total, com 4.722 milímetros vs. 4.510 mm. O reinventado Espace é também ligeiramente mais alto, cerca de 27 milímetros. Porém, ainda que o perfil mais alongado lhe pudesse ser prejudicial em termos de proporções – e é verdade que o Austral é mais agradável nesse aspeto – o Espace está muito bem conseguido em termos visuais.
Um “Espace interior” com qualidade
Tal como sentido previamente no primeiro teste com o novo Austral, esta mais recente geração de produtos da Renault elevou, e muito, a fasquia em termos de experiência a bordo, com um habitáculo onde é notória a evolução da qualidade dos materiais empregues e o cuidado aplicado ao nível dos acabamentos. Não é por isso de estranhar que do posto de condução as primeiras impressões sejam imediatamente positivas, com uma posição de condução confortável e envolvente, integrada num ambiente, nesta versão Esprit Alpine, de inspiração desportiva e onde a digitalização é igualmente destaque. Ainda assim, continuam a existir comandos físicos para a climatização, o que se agradece. O volante de formato quadrangular, embora em nada prejudique a condução, é, no mínimo, curioso.
Segunda fila
Portas grandes permitem um acesso fácil à segunda fila, de onde certamente não surgirão queixas relativamente ao espaço disponível para pernas e cabeça. O banco desliza na proporção 60:40 permitindo configurar da melhor forma o interior consoante o número de passageiros e o enorme tejadilho panorâmico – sem cortina, mas com filtragem eficaz de excessiva luz solar – contribui para a boa sensação de espaço livre. Com o banco colocado na sua posição mais recuada, é possível contar com pelo menos um palmo de folga para os joelhos e uns bons cinco dedos até que a cabeça se aproxime do tejadilho. O lugar do meio não é, como habitual, muito confortável, mas como há espaço para colocar as pernas, a experiência até me pareceu, à falta de melhor palavra, adequada.
Lá mais atrás
No que à terceira fila diz respeito, as notícias não são, infelizmente, boas. Tenho 1,80 metros de altura e não sendo exageradamente alto, reconheço que não sou a pessoa mais indicada para usar os dois lugares traseiros, mas foi o teste possível. Comparativamente a outras propostas de sete lugares, o Espace foi dos modelos onde mais desconfortável me senti. O acesso, mesmo com o deslizar da segunda fila, é complicado, e mesmo depois de instalado, nem o encosto de cabeça faria o seu trabalho, pois vi-me obrigado a encaixar a cabeça – empurrada pelo tejadilho -entre os ombros para ali me conseguir sentar. E claro, este “conforto” só é possível à custa da posição mais avançada da segunda fila, cujo acesso e espaço livre ficam, também, muito prejudicados. A bagageira oferece um volume variável entre 477 e 677 litros na configuração de cinco lugares e 159 litros quando a terceira fila está a ser usada. O rebatimento dos dois bancos traseiros é muito fácil de fazer e não falta por ali um espaço dedicado para arrumar a chapeleira.
Condução
Ao volante, o Espace transmite excelentes sensações. Desde logo pela boa combinação entre conforto de rolamento e comportamento dinâmico proporcionada pela suspensão. Não dispõe de amortecimento variável, mas vive bem sem essa tecnologia, sendo mais um bom exemplo do já habitual ótimo trabalho da Renault no desenvolvimento dos seus chassis. Quem também dá um grande contributo para o bom desempenho dinâmico do Espace é o sistema 4Control de quatro rodas direcionais, adicionando estabilidade a ritmos elevados, bem como agilidade e manobrabilidade a baixa velocidade. Modos de condução são quatro, os habituais Eco, Comfort e Sport, bem como um muito útil Perso que permite combinar as nossas preferências de afinação para o motor, direção e sistema 4Control, este último em treze níveis distintos.
Motor
Debaixo do capot está a já comprovada solução híbrida da Renault, a qual combina, neste caso, um motor 1.2 Turbo, três cilindros a gasolina, com um par de máquinas elétricas, ambas com capacidade de gerar energia – regeneração controlada através de patilhas no volante – mas apenas uma com a função de ajudar o motor térmico a propulsionar o Espace. A transmissão multimodo já foi alvo de críticas menos positivas por lhe faltar alguma suavidade de funcionamento em situações de maior exigência, mas a verdade é que aos ritmos tranquilos a que a um veículo familiar como o Espace é conduzido, não há grandes críticas a fazer. Menos ainda quando, com esta configuração híbrida, a Renault assume ser possível usar exclusivamente o modo elétrico em cerca de 80% do tempo que se conduz em cidade.
Fora da cidade
Não o fiz, pois decidi deixar para trás a cidade e fazer-me à estrada para uma viagem de quase 900 quilómetros num só dia, tendo regressado, após muitos percursos acumulados no menos eficiente ambiente de autoestrada, com uma média final de 6,2 litros/100 km e praticamente 300 quilómetros percorridos em modo elétrico. O novo Espace é, também por isto, um automóvel de argumentos indiscutíveis. Eficiente, versátil, tecnologicamente apetrechado e dinamicamente competente. Não é, no entanto, um familiar de sete lugares exemplar, mas é, por outro lado, um excelente familiar de cinco lugares que pode, se necessário, transportar mais dois passageiros. E após esta tentativa de resumir, numa só frase, o novo Renault Espace, permitam-me, para fechar, uma conclusão de cariz mais pessoal, pois embora reconheça que o conceito de monovolume está em desuso, não consigo não ter alguma “pena” que um nome tão relevante e inovador na história do automóvel como o Espace, seja agora mais um SUV – ainda que repleto de qualidades – no meio de tantos outros.