Produção de elétricos arranca em Mangualde. Stellantis quer liderança mundial entre os comerciais
O passado dia 2 de julho foi especial, em particular, para a Stellantis, mas também o foi, de um ponto de vista mais alargado, para toda a indústria automóvel portuguesa.
Num evento que contou com a presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, do Ministro da Economia, Pedro Reis, bem como da Secretária de Estado da Saúde, Ana Margarida Povo, o CEO da Stellantis, Carlos Tavares, não só celebrou o início de produção de veículos elétricos em Mangualde – uma unidade que coloca no top 3 em termos de produtividade no seio do grupo que lidera – como o fez com o compromisso de entregar mais de 700 automóveis (negócio inclui também o fornecimento de 600 Wallbox de 11 kW de potência) ao Serviço Nacional de Saúde no âmbito de concurso público ganho pela Stellantis.
Esta aposta da Stellantis no centro de produção do distrito de Viseu é suportada por um investimento de 30 milhões de euros que beneficia igualmente do apoio do Governo e do Plano de Recuperação e Resiliência. As instalações foram alvo de reestruturação e modernização – cerca de 800 metros quadrados – incorporando agora as essenciais linhas de montagem de baterias elétricas, passando igualmente a contar com um reforço da sua força de trabalho, permitindo a criação de mais 63 empregos em Mangualde. Os cerca de 900 colaboradores de Mangualde foram responsáveis por dali terem saído, no ano passado, 84.296 veículos, dos quais 94% destinaram-se a mercados de exportação. Este volume de produção representa, igualmente, 26,7% de todos os automóveis feitos em Portugal.
Quatro marcas, oito modelos
A fábrica portuguesa da Stellantis – inaugurada em 1962 com a designação Citroën Lusitânia – antecipou assim o início da produção de veículos elétricos, o qual estava apenas agendado para 2025. De Mangualde vão sair – para o mercado nacional e para exportação – nada menos do que oito modelos elétricos de quatro marcas do grupo, as versões de passageiros e comerciais dos Citroën Berlingo, Fiat Doblò, Opel Combo e Peugeot Partner, este último com designação Rifter no caso da versão de passageiros. Ainda que, para já, não o esteja a fazer a “plenos pulmões”, a produção arrancará em força já em outubro, com volumes de produção ajustáveis em função dos níveis de procura.
“Este dia representa um indescritível motivo de orgulho para todos na Stellantis e especial para todos os que connosco colaboram aqui em Mangualde. Estamos a testemunhar um importantíssimo virar de página nesta unidade fabril, a qual consegue estar na linha da frente em termos de inovação. Dentro em breve estará nas estradas uma nova gama de oito veículos elétricos ‘made in’ Portugal. Esta é a nossa visão para o futuro da indústria automóvel e revelamos hoje, aqui, mais uma prova de que é possível concretizar os nossos mais ambiciosos planos, de forma sustentável e de forma economicamente viável, colocando os melhores produtos ao serviço dos clientes. Seguimos rumo à descarbonização, proporcionando uma mobilidade segura, acessível e ambientalmente responsável para proteger as próximas gerações.”, afirmou Carlos Tavares, CEO da Stellantis.
De acordo com o descrito no seu comunicado oficial, a Stellantis liderou o mercado nacional de automóveis comerciais ligeiros com uma quota de 44%, mas segundo as palavras do próprio Carlos Tavares, em conversa aberta com os jornalistas presentes, o objetivo da Stellantis é conquistar a liderança deste importante mercado a nível global, no qual ocupa, atualmente, a segunda posição. A sua ambição de liderança estende-se, igualmente, ao mercado europeu de automóveis elétricos.
Produção cada vez mais “verde” em Mangualde
Ponto essencial de discussão, os objetivos de neutralidade carbónica da Stellantis contam também com o contributo da fábrica portuguesa, a qual conta, neste momento, com uma instalação fotovoltaica composta por 6.370 painéis, capazes de responder a praticamente um terço das necessidades energéticas anuais da fábrica. No entanto, até ao final do próximo ano, o plano prevê aumentar o consumo de energia renovável para 50% graças a projetos ecológicos de produção de energia e armazenamento, incluindo a descarbonização da sua cadeia de valor. O grande objetivo é atingir a neutralidade carbónica em 2038.
Carlos Tavares destacou ainda a flexibilidade da produção da unidade da Beira Interior, referindo que esta é capaz de variar a proporção entre a produção de automóveis térmicos e elétricos consoante necessidade. Uma questão pertinente, uma vez que a mobilidade elétrica, sendo já uma realidade em diversos mercados, enfrenta ainda alguma resistência noutros, assumindo que a sua carteira de encomendas a três meses lhe permite ter uma ideia da capacidade de produção necessária, a qual pode, para já, atingir um volume máximo de 87.000 unidades por ano em Mangualde.
De forma a incentivar as pessoas a aderirem à mobilidade elétrica, Carlos Tavares foi bastante claro ao dizer que a ajuda deve ser direcionada para o cliente final, bem como para a implementação de uma infraestrutura de carregamento com a capacidade de resposta necessária. Uma combinação de medidas que não só daria o incentivo monetário à transição, como compensaria os problemas de ansiedade de autonomia que assolam alguns condutores, permitindo que as marcas proponham automóveis elétricos com baterias mais pequenas, com autonomias inferiores aos já disponíveis com 500 ou 600 quilómetros, mas mais leves, eficientes e, acima de tudo, com custos mais reduzidos.