Como é que a Dacia desenha e projeta os seus automóveis? Os segredos dos custos baixos da marca
Depois de ter estado presente numa primeira edição das conferências Dacia Talks dedicada ao design dos automóveis da marca do Grupo Renault – onde foram abordadas questões como a sua transformação e renovação de identidade, assente, por exemplo, numa nova imagem e valores de marca – regressei, a convite da Dacia Portugal, a uma segunda ação onde a temática “Design to Cost” explorou, essencialmente, a inteligente estratégia de redução de custos implementada pelas equipas da Dacia.
Cada vez menos “low cost”, cada vez mais “value for money”
Com vista a oferecer soluções engenhosas, acessíveis e modernas, mantendo, ao mesmo tempo, custos de desenvolvimento e de produção reduzidos, a “nova Dacia” está também a afastar-se, cada vez mais, da outrora imediata associação ao conceito “low cost”, assumindo agora um posicionamento plenamente orientado para o princípio “value for money”. O novo Duster, como já o referi neste artigo, é um excelente exemplo do acima descrito, recorrendo a soluções de design inovadoras e sustentáveis, como as proteções da carroçaria moldadas na própria cor – para se evitarem marcas visíveis em caso de riscos – ou outras que elevam a praticidade no dia a dia – como a inclusão do acessório modular Youclip – para disponibilizar aos clientes aquilo que mais valorizam por um preço acessível.
O essencial, sempre. O supérfluo fica de fora
Como transmitido nesta segunda conferência por Elisa Jarier, Responsável de Produto, e Julien Ferry, Responsável de Projeto, para a Dacia, um bom design tem várias dimensões e, para o concretizar, há que abordar o tema em várias frentes. Desde logo, pela estreita colaboração com os fornecedores e parceiros, uma constante comunicação que lhes permita fomentar o desenvolvimento de soluções integradas. Como exemplo desta normalização, os responsáveis da marca mencionaram os sistemas de infotainment disponíveis no novo Duster, inteligentemente concebidos para que a sua compacidade simplifique a conceção, recorrendo, por exemplo, a processadores pequenos, sem grande necessidade de refrigeração.
O foco no essencial, outra das abordagens defendidas pela Dacia, materializa-se, por exemplo, numa gama de assistentes de condução – com base apenas numa câmara, sem radar associado – que são verdadeiramente úteis, prescindindo de tecnologias supérfluas e, ao mesmo tempo, respeitando as regulamentações em vigor. Outra simplificação de conceção pode ser encontrada, por exemplo, nos bancos. Se estes podem ser regulados em altura, por que razão também os cintos de segurança o seriam? Aqui não. As palas do sol também não precisam de ser macias e há parafusos, fora do campo de visão normal – como os que fixam o forro interior do terceiro pilar – que também não precisam de uma tampa para serem escondidos.
Cinco jantes diferentes com base em três modelos
Outra curiosa solução foi aplicada na conceção das jantes de liga leve, disponíveis com cinco estilos distintos e em 16, 17 ou 18 polegadas, mas que se baseiam em apenas três tipos de jante, com os diferentes acabamentos a permitirem adotar um design suficientemente diferenciador entre elas. A redução de custos conseguida através destas medidas permite-lhes investir nas áreas a que os clientes dão mais importância, nomeadamente no desenvolvimento dos ecrãs dos sistemas de infotainment para os quais reconhecem a importância dada a fatores como a qualidade de imagem, funcionalidades incorporadas e fluidez de funcionamento.
Ainda assim, os responsáveis da Dacia reconhecem igualmente que esta estratégia de contenção de custos não pode ser aplicada de igual forma a todos os modelos, uma vez que têm de ter em conta aquilo que os clientes de cada segmento mais valorizam. Por outro lado, algo que é considerado absolutamente essencial para a fórmula de sucesso da Dacia é a noção de volume, números elevados que permitem a partilha de componentes, bem exemplificada pela adoção da mesma plataforma por diferentes modelos, neste caso, a CMF-B, estrutura a que o novo Duster também recorre – é o oitavo modelo a fazê-lo – e que representará um total de dois milhões de automóveis no universo Dacia já em 2030.
Um sucesso, por cá e por lá
O mercado nacional é um dos exemplos de como a estratégia da marca se tem revelado vencedora. Considerando dados referentes a 2024, o Sandero é o modelo mais vendido em Portugal em todos os canais. A Dacia ocupa a terceira posição do mercado de passageiros e é a quarta marca mais vendida considerando o mercado total. É líder entre os clientes particulares, sendo o Sandero e o Duster os dois modelos mais vendidos do mercado. E o novo Duster parece, também, já ter conquistado o cliente nacional, pois a Dacia já recebeu cerca de 1000 encomendas em apenas dois meses, mesmo antes da nova geração poder ser vista ao vivo. As motorizações alimentadas a GPL continuam “em grande”, representando dois terços das vendas concretizadas este ano.
“Do automóvel que podem ter para o automóvel que querem ter”
É assim que os responsáveis da marca descrevem a transformação em curso, definindo a Dacia como uma escolha racional com cada vez mais emoção, pensada para chegar às pessoas e para responder às suas necessidades, dando-lhes aquilo de que efetivamente precisam. Um plano de negócio focado na contenção de custos logo a partir das primeiras fases do projeto, bem como na otimização dos processos, uma estratégia que, garantem, não só lhes permite fidelizar muitos condutores, como conquistar novos clientes a outras marcas. Um exemplo a seguir por outras marcas? Sim, os próprios responsáveis da Dacia reconhecem essa possibilidade, reforçando, no entanto, a sua confiança na estratégia definida e na experiência adquirida nos últimos anos para não temer a concorrência que possa tentar seguir o mesmo caminho, o do “Design to Cost”.