Nissan Juke: Irreverência que paga dividendos
Lançado originalmente no mercado em 2010, o Juke rapidamente se destacou pelo seu design assumidamente polarizador. Um moderno crossover, sim, mas recheado de soluções estéticas que o podiam, também rapidamente, afastar dos clientes de gosto mais conservador. A iluminação dianteira separada em dois grupos de luzes, uma carroçaria dominada por linhas curvas e elementos “estranhos” como as entradas de ar redondas na dianteira davam-lhe um aspeto idêntico ao de uma personagem de um filme de animação. Giro, sim, mas arriscado.
Inspirado no concept Qazana, a Nissan vendeu-nos o Juke como um SUV de visual robusto e desportivo, algo que, sinceramente, não consigo ver, nem no estudo de design que lhe deu origem, nem na sua versão de produção. Também reconheço que, mesmo que fosse, na altura, cliente do segmento B-SUV, o Juke não seria a minha escolha. Talvez não fosse nenhum outro SUV, atenção, mas insiro-me no grupo de pessoas que achou a primeira geração do Juke, ao nível estético, um passo em frente demasiado longo. Felizmente para a Nissan, logo no primeiro ano de mercado, mais de 136 mil pessoas não pensaram como eu.
E para calar aqueles que, também como eu, não viam no Juke qualquer sinal de desportividade, a Nissan arrumou com a questão ao produzir o muito especial Juke-R, “monstro” que apresentou em 2012 no Salão de Paris. Basicamente, era um GT-R disfarçado de Juke, usando o motor V6 3.8 litros com dois turbos e 485 cavalos do modelo desportivo para acelerar de 0 a 100 km/h em 3,7 segundos. Este não era de todo o Juke desportivo que o cliente mais emocional aspirava comprar, mas um assinado pela Nismo, com motor 1.6 Turbo de 200 cavalos já era bem mais apetecível, sendo capaz de despachar o sprint até aos 100 km/h em 7,8 segundos e só parando de acelerar aos 215 km/h. Nada mau para um crossover urbano de segmento B, hein?
Em maio de 2014, a Nissan implementou uma primeira atualização no seu bem-sucedido modelo, tendo por esta altura atingido a marca de meio milhão de unidades vendidas. Nova gama de motorizações, nova geração do sistema de infotainment, mais 40% de espaço de carga e uma maior liberdade de personalização modernizaram o Juke até à introdução da sua geração totalmente nova. Houve ainda “espaço” para o lançamento de versões especiais como o Juke Premium, 1500 unidades equipadas com um sistema de som mais potente, bem como para se baterem recordes, neste caso, em 2015, quando Terry Grant, conhecido piloto de acrobacias, conduziu um Juke Nismo RS em duas rodas ao longo de uma milha em apenas 2 minutos e 10 segundos. E fê-lo na primeira tentativa.
Segunda geração Nissan Juke em 2019
Fast foward para setembro de 2019 e com quase 10 anos de história já escrita, a Nissan apresentava a segunda geração Juke, claramente mais dinâmica, igualmente arrojada, mas quiçá, um pouco menos polarizadora de opiniões ao nível do design. O arrojo visual garante-lhe, porém, que após vários anos de mercado, se mantenha como uma das propostas de visual mais bem-sucedido do seu segmento. Divertido de conduzir como poucos da sua categoria, a introdução de uma motorização eletrificada é outro argumento que lhe garante níveis de eficiência impensáveis quando o Juke foi originalmente lançado no início da década passada.
Prova de que o Juke continua a ter um lugar especial no segmento, destacando-se na paisagem automóvel, reside, por exemplo, no facto de ter visto, num intervalo de tempo de cerca de 10 minutos, três Juke amarelos da primeira geração. Imaginem se tivesse dado atenção aos mais discretos não amarelos e aos Juke da nova geração como este exemplar das fotografias, recentemente atualizado com um novo ecrã de sistema de infotainment e outros melhoramentos no habitáculo, bem como com um reforço de tecnologia de assistência ao condutor.
Olhando quase 15 anos para trás, continuo a torcer o nariz ao design da primeira geração do Juke. Não o acho bonito, mas reconheço a originalidade e coragem, uma escolha que foi, claramente, uma aposta ganha pela Nissan, pois continua a destacar-se no meio de um por vezes exagerado anonimato geral que paira sobre o segmento dos crossovers urbanos, todos diferentes, mas todos muito iguais. O Juke continua fresco, o mais novo e, tenho de admitir, também o mais velho, especialmente se for amarelo, a cor que, infelizmente, me escapou neste reencontro com o Juke.