Um dia no mundo da competição com a Toyota. Do asfalto à terra batida
Líder mundial na produção de automóveis, a gigante Toyota é vista por muitos, nos tempos que correm, como um fabricante excessivamente conservador. Com uma excelente imagem de marca, com produtos fiáveis e eficientes, mas demasiado racionais. Pois bem, só há coisa a dizer: esses “muitos” andam efetivamente distraídos.
O que não falta na gama Toyota são produtos emocionais – “suportados” pelas vendas em grande volume dos híbridos com baixas emissões – e algo que continua também bem presente na marca e nas pessoas que orgulhosamente vestem a sua camisola é um espírito competitivo, um que os motiva a evoluir e a melhorar continuamente os seus produtos, algo bem patente no seu Presidente Akio Toyoda, um verdadeiro apaixonado pela competição automóvel.
No âmbito da apresentação nacional do novo Toyota GR Yaris – um dos bons exemplos de modelos pensados para os “condutores pilotos” acima mencionados – a Toyota Caetano Portugal proporcionou-me um dia diferente, em que pude vivenciar três vertentes de competição automóvel em que estarão presentes a nível nacional em 2025, uma história desportiva que remonta a 1970.
Toyota GR Supra GT4 – CPV e Iberian Supercars
A primeira experiência decorreu no circuito do Autódromo Internacional do Algarve, um traçado que nunca tinha tido o prazer de pisar, muito menos de percorrer a bordo de um GR Supra GT4 conduzido pelo sempre espetacular piloto Pedro Salvador. E para tornar a experiência ainda mais impressionante, a volta ao circuito de Portimão foi feita à noite.
Para começar, um briefing em ambiente de box em que o piloto de serviço deu a conhecer a máquina com 430 cavalos e explicou com detalhe o funcionamento do complexo volante, através do qual é possível, por exemplo, variar a sensibilidade do ABS em quinze níveis e o controlo de tração em dez estágios. Outros destaques incluem uma pedaleira móvel – tal como a coluna de direção – permitindo ter o banco numa posição fixa que não só não altera a distribuição de peso, como permite fazer trocas de pilotos mais rapidamente.
O piloto nunca foi substituído, mas trocas de copilo foi coisa que não faltou. Volta após volta, assisti às chegadas e saídas do pitlane do bonito e sonoro Supra onde em breve me instalaria para uma volta ao circuito. Assistir, de fora, à rapidez com que o Supra me saía da frente e ouvir o limitador ser desligado à saída da via das boxes fazendo o Supra desaparecer-me do campo de visão era viciante, mas a partir do habitáculo, tudo foi melhor.
Não tive, em momento algum, noção da velocidade a que íamos, mas os 430 cavalos e um peso de cerca de 1.370 kg – consoante o “balance of performance” – são garantia de muito poder de aceleração, fazendo-me “enterrar” ainda mais na baquet, a partir da qual pouco mais via à minha frente do que um palmo pelo curto para-brisas. Ao volante, o Pedro estava pronto para mais uma volta a fundo e, como sempre, impávido e sereno, acredito.
Mas mais do que a aceleração, impressionou-me a desaceleração. Travagens tardias, inclusivamente com duas rodas em cima dos corretores, não desestabilizaram a máquina em momento algum, permitindo ao Pedro levar alguma velocidade para dentro da curva, apoiando o Supra nas rodas exteriores, sem desvios. Depois do ponto de corda, o motor de seis cilindros puxava-nos para fora de forma decidida.
As perdas de tração à saída das curvas pareceram-me mínimas, mas a verdade é que talvez assim o parecessem devido à destreza com que o piloto as corrigia via volante, com movimentos rápidos, e na dose certa, de contra brecagem. O Supra “escorregava” com precisão e, nas rápidas, a velocidade de passagem em curva impressionava.
Sinuoso como poucos, e com várias variações de altura, o circuito de Portimão proporcionou um cenário soberbo para esta experiência. O som rouco do motor, as luzes frias do bem quente Toyota a “rasgarem” a escuridão e um total controlo dos acontecimentos por parte do piloto combinaram-se para comprimir tantas e tão boas sensações em pouco mais de um minuto. Que andamento!
Toyota GR Yaris Rally 2 – CPR
Para o dia seguinte, a Toyota preparou uma dupla experiência nas imediações do Autódromo, agora longe do tapete negro do circuito, num ambiente mais poeirento e, graças à chuva que apareceu sem convite, também mais tarde com alguma lama. Numa pequena classificativa desenhada na paisagem que rodeia o AIA, tive assim ter a oportunidade de me estrear a bordo de um automóvel de ralis de uma das principais categorias, neste caso o GR Yaris Rally 2.
O Toyota é o único modelo desta categoria a usar um motor de três cilindros, mas que não se julgue, em momento algum, que isso é limitador da sua performance. Caixa sequencial, tração às quatro rodas e uma potência a rondar os 280 cavalos deixaram, repetidas vezes, a sua marca na pequena classificativa onde decorreram as demonstrações.
A bordo, no lugar do piloto, esperava-me Bruno Magalhães, a quem imediatamente fiz umas perguntas sobre todas as informações disponíveis no display central, provenientes de uma panóplia de sensores distribuídos pelo GR Yaris. “Neste caso, serias tu o maior responsável por estar atento a possíveis problemas. Eu não vou ter tempo de olhar para isso”, respondeu-me em tom de brincadeira. Dez segundos depois, o Yaris já “voava” entre morros, com uma agilidade e rapidez que exteriormente não era tão notória.
É certo que na sua configuração de terra, a altura livre ao solo é considerável, mas o percurso tinha já trilhos muito cavados que pensei, por momentos, iriam levar o Yaris a raspar a sua “barriga” no chão. Se tal coisa aconteceu, não me apercebi, pois dei por mim mais concentrado na força do pequeno motor, na excelente motricidade à saída das curvas lentas e, principalmente, na “dança” provocada pelos golpes de volante que apontavam o Yaris às curvas que se aproximavam.
A Toyota Gazoo Racing Caetano Portugal vai participal no Campeonato Nacional de Ralis de 2025 com um GR Yaris Rally 2, mas ainda não anunciaram o piloto que irá disputar as quatro provas de terra e as quatro de asfalto. Se puder fazer uma sugestão, permitam-me dizer Bruno Magalhães. Para o lugar de copiloto, numa prova a doer, não me ofereço. Estive demasiado concentrado a desfrutar da experiência e da velocidade com que a paisagem passava. Gostei tanto que provavelmente só me iria concentrar nisso. Dar notas seria secundário.
Toyota Hilux T1+ Evo – CPTT
Para fechar o dia, literalmente, em grande, um reencontro com a dupla João Ramos/Hilux, uma segunda oportunidade de desfrutar de um dos veículos mais impressionantes em que já tive o prazer de andar, depois de uma primeira experiência numa pista de testes privada em Leiria, no ano passado, que me deixou de queixo caído. A aceleração é avassaladora, mas tal como o Supra em pista, aqui impressionou a capacidade de travagem sobre gravilha. E o que dizer da suspensão? Descrevo as sensações, com mais detalhe, neste artigo.
A pick-up de 400 cavalos foi, entretanto, alvo de algumas melhorias, contando agora com, por exemplo, vias mais largas. De qualquer forma, apesar de já saber de antemão, mais ou menos, o que me esperava nesta segunda “prova”, não consigo ainda aceitar como é possível que um “monstro” de duas toneladas como a Hilux consiga fazer o que faz, absorvendo tudo o que lhe surge no caminho com indiferença e voando como o Yaris voou nos dois saltos da classificativa, sempre com a sensação de que nada a consegue parar. Um grande dia passado com grandes automóveis, feitos por e para quem tanto deles gosta.