Ensaio Total: Renault 5 E-Tech 100% Elétrico
Não há outra forma de começar este texto: o Renault 5 é o automóvel do momento. Um dos lançamentos mais aguardados dos últimos tempos, um dos modelos que mais interesse despertou e continua a despertar no mercado e junto dos entusiastas deste nosso mundo e, agora que foi igualmente eleito “Car of The Year”, indiscutivelmente, também, um dos melhores automóveis do presente.
Assumo, desde já, que eu fazia parte deste extenso grupo de curiosos. Cresci com o hoje mítico R5 por perto. Em minha casa nunca houve um 5, mas familiares chegados tinham-nos, assim como amigos de bom gosto, inclusivamente com os icónicos GT Turbo que sempre me fizeram sonhar. É, por esse motivo, fácil de perceber o meu entusiasmo e curiosidade com este regresso do Renault 5.


Mas por muito entusiasmo que se tenha gerado na comunidade automóvel europeia (e não foi pouco, foi muito, diria, até, bastante), o seu excelente design moderno, mas fiel às linhas originais, não basta para que o novo R5 seja, logo à partida da sua carreira comercial, bem-sucedido. É preciso, considerando a devida inflação (não apenas monetária) das últimas cinco décadas, fazer o que os seus antecessores fizeram: ser fácil de usar e de manter, ser confortável e versátil para o quotidiano, ser eficiente, divertido e, acima de tudo, minimamente acessível.
Desde 25.000 euros
E podemos já começar pela questão da acessibilidade – ou pouca – do preço deste recheado R5 de nível de equipamento Techno e autonomia Comfort, obviamente engordado por toda a tecnologia que esconde, grande parte dela atualmente obrigatória. E claro, o Renault 5 é agora exclusivamente elétrico, capacidade que, seja em que marca for, é paga e bem paga. Este “BO73HS” que a Renault Portugal gentilmente me cedeu, por exemplo, custa 36.100 euros. Mas calma. Não precisas de comprar este “GT Turbo”, pois a versão de acesso à gama deverá vir a custar qualquer coisa como 25.000 euros.


Passemos ao interior, onde a digitalização é, sem dúvida, o maior destaque. Painel de instrumentos e sistema de infotainment combinam-se num só elemento digital colocado no topo do tablier. Os grafismos são originais, fáceis de ler e a definição é boa, algo que falta, no entanto, à qualidade de imagem da câmara traseira. O funcionamento do sistema de infotainment, como é habitual na Renault, é muito bom.


Toda a digitalização é, felizmente, complementada por comandos físicos na dose certa. O melhor exemplo disso é a consola para controlo da climatização, simples de usar, iluminada (algo que outras opções do mercado não oferecem) e, assim, uma solução que não provoca distrações excessivas. O comando da transmissão faz-se através de um manípulo no lado direito da coluna de direção. Uma boa solução, fácil de usar, mas colocada demasiado perto da manete dos limpa para-brisas e dos comandos multimédia. Ao fim de uns dias, já não acionei as escovas ao querer fazer uma inversão de marcha. É tudo uma questão de prática.
Espaço no banco traseiro é limitado
Por dentro, apreciei nesta unidade o acabamento a imitar ganga nos bonitos bancos e tablier, bem como o padrão original do forro do tejadilho. Estamos na presença de um modelo de segmento B e por isso não se espere encontrar plásticos e outros materiais de elevadíssima qualidade. É uma observação, não uma crítica negativa, pois estamos na presença de um 5, não de um 25. O volante não parece ser um círculo perfeito e esteticamente “mexeu” comigo. Acho que o preferia perfeitamente redondo, mas a verdade é que, ao conduzir, não senti quaisquer diferenças. O botão de acesso rápido ao modo personalizado dos assistentes de condução é, novamente, merecedor de grandes elogios.


Ainda no interior, a habitabilidade é, de longe, o maior problema que tenho de apontar ao R5. É certo que não se pode esperar encontrar num segmento B um banco traseiro onde os centímetros livres abundem, mas neste caso parece-me que a Renault foi um pouco longe de mais. O acesso também não é brilhante e por ali não vi quaisquer tomadas USB. Existem, no entanto, bolsas nas costas dos bancos. Se, por exemplo, o condutor colocar o banco na posição mais baixa – como é o meu caso – o passageiro imediatamente atrás não tem praticamente espaço para “estacionar” os pés. O novo Renault 5 é, nesta avaliação, um “B menos”. A bagageira dispõe de uma capacidade adequada, 277 litros, contando com um espaço debaixo do piso para guardar os cabos de carregamento.
Confortável e ágil. Rolamento é exemplar
Fazendo uso de uma plataforma específica, a AmpR Small, o regressado Renault 5 faz também uso de uma configuração de suspensão independente às quatro rodas, algo raríssimo no segmento. E a verdade é que o refinamento e conforto de rolamento que daí resulta – ajudados, também, por pneus corretamente dimensionados, com perfil generoso, 195/55 R18 – são dois dos pontos altos da experiência de condução. O pequeno Renault é sempre muito ágil e divertido e muito raramente (ou quase nunca…) se sente algum desconforto provocado por um excessivo balancear de carroçaria, tão típico dos elétricos. Seguro e controlado, sem se fazer notar a habitual rigidez de amortecimento que teimosamente domina o mercado. Também a direção merece elogios, rápida, mas nunca ao ponto de tornar o eixo da frente demasiado nervoso.


Ainda no que toca à condução, há mais elogios a fazer ao “5 elétrico”. E um deles diz respeito, muito provavelmente, ao aspeto mais importante de um elétrico: a eficiência. Reconheço que “abusei” da condução citadina, mas também é verdade que é nas cidades que os 5 mais tempo vão passar, refletindo as suas linhas intemporais nas montras da moda e colorindo as congestionadas e cinzentas artérias urbanas com os seus Verde ou Amarelo Pop. Assim, com muitos quilómetros acumulados em cidade, diluídos por alguns feitos em estrada e autoestrada, a média de consumo rondou sempre os 12 kWh/100 km, um número muito bom, considerando que também não me coibi, pontualmente, de explorar os 150 cavalos do motor elétrico e os 52 kWh da bateria. O modo B, de maior regeneração, não permite condução do tipo “one-pedal”, mas a Renault vai, em breve, incorporar essa atualização. Até lá, trave-se com o pedal, o qual tem, neste R5, um tato muito bem calibrado, com funcionamento linear e consistente.
Mais do que um design espetacular? Será este um futuro clássico?
Justifica-se todo o alarido em redor do regresso do Renault 5? Na minha opinião, sim. É um estupendo exercício de design, combinando o estilo de sempre do R5 com as tendências atuais. É colorido, é divertido de ver passar, sim, mas também o é de conduzir. É, por vários motivos que aqui tentei descrever, muito mais do que um automóvel bem desenhado e concebido para apelar. O design vende, sim. E é o que vende mais, pois ninguém compra um automóvel de que não gosta por muito bom que seja ou por mais simpático que seja o preço.


Mas as qualidades do novo 5 são inquestionáveis. É pequeno por dentro, bem sei, mas transmite sensações de um modelo de segmento superior. É bem equipado, muito refinado e é elétrico, mas divertido, provando, também, que afinal é possível ter essa combinação num só produto. E é, acima de tudo, um daqueles automóveis que nos faz dizer “quero um” mesmo antes de o conhecermos ou conduzirmos. Mérito da Renault, marca que soube recorrer à sua longa e relevante história para avançar em força futuro dentro, enfrentando os desafios da eletrificação com uma estratégia que, aposto, fará deste Renault 5 E-Tech Elétrico um futuro clássico, talvez o primeiro do seu género, elétrico a bateria.