Prazer de condução num elétrico? A Abarth diz que é possível (e eu concordo)
Calma. Não me ataquem já. Deixem-me, primeiro, tentar explicar o meu ponto de vista. Não vou tentar encontrar justificações para dizer que a propulsão elétrica transmite melhores sensações ao volante do que um motor a combustão e também não vou, por esse motivo, comparar ambas as tecnologias. Até porque, sejamos sinceros, ao nível sensorial, não há comparação possível. O motor de combustão terá sempre o meu voto, será sempre a minha escolha, não só nesta, mas também noutras vertentes da condução.

Por outro lado, admiro a beleza da aparente simplicidade de um automóvel elétrico. Gosto do seu potencial ambiental e económico e gosto, cada vez mais, assumo, da tranquilidade da sua utilização no quotidiano (se não dependermos de carregamentos privados). Não é, como já li algures, uma “solução, mas sim uma alternativa”, pois para alguns condutores pode efetivamente ser o veículo perfeito para o que precisam. Não tenho nada contra o automóvel elétrico, relembro. Mas tenho, isso sim, contra a sua quase imediata obrigatoriedade. Para todos? Lamento, mas ainda não o é.


E para quem aprecia performance? Serve? Para quem, por exemplo, gosta de explorar as capacidades do seu automóvel numa estrada mais convidativa ou, por que não, forçar um pouco os limites em ambiente de circuito, num track day? Será um elétrico desportivo uma boa hipótese? A verdade é que não faltam no mercado propostas elétricas com acelerações verdadeiramente fulminantes que, apesar de toda a desportividade que lhes é associada pelo marketing e comunicação oficiais das respetivas marcas, de desportivas têm, sejamos sinceros, zero. Há exceções, obviamente que sim, mas o novo Abarth 600e promete ser um dos primeiros da sua espécie, um 100% elétrico, mas com uma personalidade assumidamente orientada para a performance, como aliás são todos os modelos marcados pelo Escorpião de Carlo Abarth.
De Abarth 600e Scorpionissima no Kartódromo de Palmela
Assim, a convite da marca italiana, fui conduzir aquele que é um dos primeiros verdadeiros hot hatch alimentados por uma bateria elétrica. E fui conduzi-lo em circuito fechado, no ambiente controlado do Kartódromo Internacional de Palmela, traçado que muitos irão dizer não ser indicado para um automóvel, mas que se revelou perfeito para este primeiro contato dinâmico que me deixou com esperança para o futuro elétrico, inevitavelmente adiado, que se avizinha, continuam a dizer-nos.

Foram apenas cinco voltas ao volante da versão Scorpionissima do 600e, o Abarth mais potente de sempre, com 280 cavalos e 345 Nm, mas tempo suficiente para dali sair com um sorriso no rosto. Evitei, como me pediram, levar a borracha Michelin Pilot Sport aos corretores, mas não me coibi de explorar as capacidades do chassis do 600e (dentro dos limites das minhas), cuja calibração específica conta com, por exemplo, rebaixamento do centro de gravidade em 25 milímetros, amortecimento 41% mais firme e barra estabilizadora traseira com 140% de rigidez adicional. E o seu efeito nota-se. Ainda que pese cerca de 1.600 kg, o 600e mostrou-se sempre muito ágil, com reações imediatas às constantes e, por vezes, agressivas, mudanças de direção.
Impressionou, também, em dois aspetos adicionais. A capacidade de travagem, entregue, no eixo da frente, a pinças monobloco da Alcon, com quatro êmbolos, com muita potência de desaceleração que tão útil foi para conter o meu excessivo entusiasmo e as velocidades elevadas que se conseguem atingir tão rapidamente, bem como o excelente tato de pedal, robusto e confiável, algo pouco comum na era elétrica. Por outro lado, agradou também pela muita motricidade revelada, com o diferencial mecânico do tipo Torsen a compensar a expectável subviragem perante uma disponibilidade tão imediata e cheia do motor elétrico ao toque do pedal do acelerador.

E claro, importa falar do som, do gerador de som. Sim, um elétrico com ronco de motor. Venham de lá as críticas, mas entre ter e não ter, eu sei bem o que prefiro. O som desenvolvido pela Abarth é fiel ao de um motor a combustão e a calibração do sistema pareceu-me especialmente bem feita, acompanhando, por exemplo, as pontuais perdas de tração e contribuindo com confiança adicional na altura de levar mais velocidade para dentro das curvas e atrasar o início da travagem. Não temos uma transmissão para nos dar uma camada extra de interação, mas o som artificial do Abarth incorpora um sincronismo adicional na ligação homem e máquina e, sem dúvida, oferece mais emoção ao momento, algo que, admito, apreciei encontrar.