Ensaio Total: Dongfeng Box Plus
Este pequeno Box é o primeiro modelo da Dongfeng disponível em Portugal. Vi-o pela primeira vez no evento de lançamento da marca chinesa em Portugal – pela mão do Grupo Salvador Caetano – no dia em que foram igualmente apresentadas as submarcas Voyah e M-Hero, a primeira, mais orientada para o mercado premium, a última, mais focada no ainda mais exclusivo mercado de veículos todo-o-terreno.
Foi precisamente por esse motivo, o do posicionamento de mercado, que o pequeno elétrico Dongfeng Box foi o modelo que mais curioso me deixou. Por simbolizar uma forma mais acessível de aceder à mobilidade elétrica, com um veículo de dimensão adequada à maior parte das necessidades do cliente português, bem equipado e com um preço, considerando a realidade do “mercado elétrico a bateria”, bastante apelativo: 27.500 euros.


Com pouco mais de 4 metros de comprimento e 1,8 metros de largura, o Box aponta ao concorrido segmento B com um design que, sendo moderno, prescinde de elementos supérfluos, dando-lhe aquele ar “patusco” de automóvel mais pequeno do que na verdade é. A Dongfeng apostou, e bem, em cores vivas para que o Box se destaque na paisagem urbana, mas esta unidade de teste, em branco, não é disso o melhor exemplo, fazendo-se valer dos contrastes com o preto para ter esse efeito diferenciador. Destaque merecem as portas sem moldura, um pormenor curioso para esta categoria de veículo.
“Inside the Box”
O habitáculo do Box é uma agradável surpresa em termos de habitabilidade e conforto. Oferece espaço mais do que suficiente para quatro adultos e com folga considerável para as pernas e cabeça de quem viajar no banco traseiro, mas a ergonomia do assento podia ser um pouco melhor. O piso plano também ajuda à boa sensação de espaço, mas o lugar do meio, esse, é apenas um lugar do meio, claro. Em termos de materiais, os plásticos são, como esperado para o segmento, quase todos rijos, mas a verdade é que a utilização de acabamento em napa eleva a sensação de qualidade e bem-estar a bordo. Esteticamente, o estilo podia até ser excessivamente oriental para o gosto europeu, mas o ambiente é engraçado e acolhedor.


Em termos de praticidade, destacam-se, pela positiva, os vários espaços de arrumação no interior, bem como 326 litros de capacidade de bagageira, volume extensível a 945 litros. Por oposição, não se entende por que motivo não está disponível uma chapeleira para esconder a carga, nem tão pouco o facto de o rebatimento do encosto do banco traseiro só poder ser feito por inteiro. Também não era preciso “poupar” tanto, diria. Vou, aliás, mais longe: os “cortes” prolongam-se igualmente à ausência de uma tomada USB para os passageiros de trás. Eu, pelo menos, não a encontrei.


No que à digitalização diz respeito, o Box está equipado com um pequeno painel de instrumentos de 5 polegadas e um sistema de infoentretenimento com ecrã tátil HD de 12,8 polegadas. Também aqui, tenho comentários de melhoria a fazer. Isto porque o primeiro usa caracteres demasiado pequenos, dificultando a leitura fácil, e a luz que emite é muito forte. Assim, mesmo reduzindo a luminosidade, torna-se muito desconfortável em condução noturna. O infotainment é intuitivo de utilizar e tem até um simpático gatinho a desejar-me “Bom dia”, mas rapidamente surge uma voz com sotaque chinês a mandar-me concentrar na condução e deixar de olhar para o ecrã.
Ao volante
Ao volante, gostei muito da facilidade de condução do Box. A seleção do sentido de marcha faz-se na manete direita atrás do volante e estamos prontos a seguir viagem. A suspensão está orientada para o conforto em cidade e cumpre bem a sua função, ainda que por vezes se sinta demasiado a sua ação e a sua elasticidade nas reações a algumas imperfeições. Mas, no geral, o Box rola de forma, diria até, refinada para o seu segmento. A direção leve é muito bem-vinda em ambiente citadino, a baixas velocidades, mas, ao aumentar-se o ritmo, a assistência pareceu-me exageradamente reduzida, tornando o volante de dois braços mais “pesado” do que seria aconselhável.


A carroçaria compacta do Box esconde uma motorização elétrica de 70 kW – 95 cavalos – e 160 Nm de binário, bem como uma bateria de química LFP e 42,3 kWh de capacidade, a qual suporta carregamento AC até 6,6 kW ou DC até uma potência máxima de 87,8 kWh. A Dongfeng declara uma autonomia WLTP de 310 quilómetros e considerando o excelente consumo de 10,7 kWh/100 km deste ensaio, não tenho quaisquer motivos para duvidar da autonomia anunciada. Não lhe faltam modos de condução – Eco, Comfort e Sport – nem uma escolha de níveis de intensidade de regeneração de energia em igual número, embora nenhum imobilize o Box por completo.
Nota positiva
O primeiro modelo da Dongfeng a chegar ao nosso país – gama deverá vir a receber um SUV de segmento C e a berlina desportiva 007 – pode ser melhorado em vários aspetos. Da chapeleira “invisível” aos botões dos vidros elétricos de funcionamento pouco intuitivo, passando ainda pelo painel de instrumentos exageradamente iluminado e por alguns acabamentos menos bons (junto aos pilares), há, efetivamente, margem para evoluir. O motor, imagino, também será algo “curto” com quatro pessoas a bordo e alguma carga, mas a verdade é que, apesar dos pontos mencionados, o Box surpreendeu pela positiva, com um desempenho à altura daquilo que o cliente português de um pequeno hatchback elétrico efetivamente precisa para o seu dia a dia.


E quando o elogio, não o faço apenas tendo como referência a apelativa relação preço/oferta, mas sim o conforto e facilidade de utilização, a boa habitabilidade, o equipamento e, acima de tudo, a eficiência demonstrada, pontos em que o Box passa com boa nota, independentemente do seu também muito convidativo preço. Para alguém como eu, defensor do automóvel elétrico para as inevitáveis deslocações curtas do quotidiano, sem elementos supérfluos e sem uma pouco eficiente bateria de grandes dimensões, este Dongfeng é um “tick in the Box”.