São quatro cafés, por favor.
Manhã de sábado com previsão de temporal. Ainda assim não resisti a ir até à minha esplanada de eleição, não só para beber a obrigatória bica, como também para escrever umas quantas linhas e adiantar algum trabalho para a exigente semana que se seguia, aproveitando o pouco sol da manhã de um dia que se previa mais do que cinzento. O vento não me permitiu aguentar muito tempo na rua, é certo, mas tive o tempo suficiente para, discretamente, ir acompanhando a conversa entre três amigos com cerca de 50 ou 60 anos de histórias para contar, cada um… Ao sabor do café da manhã relembravam as suas experiências com os automóveis e por entre expressões como “hoje é tudo electrónico” e palavras em desuso como “platinados”, discutiam também as diferenças entre os icónicos Citroën 2CV e Dyane.
“E o meu Escort, que fez 7,5 lt de média até à Guarda? Eu até pensei: este malandro está com pouca sede.”
Um deles tem, claramente, uma forte ligação à Ford. É fácil perceber. Do Escort que teve nos anos 80 e do qual guarda boas memórias passou para um Fiesta. Mais recentemente trocou-o por um Focus e não resiste a compará-lo com os anteriores modelos da oval azul que conduziu. “O meu Fiesta fazia 6,5 lt de média, agora o meu Focus com motor mil e quinhentos faz 4 e tal em estrada e uns 6,1 ou 6,2 lt aqui nas voltinhas.” Um deles recordou, também, aquele “tipo lá do banco que teve um Sierra com motor de 3 litros e tal, uma grande bomba!”, mas por muito que se esforçassem, nenhum dos outros dois se conseguiu lembrar, nem do carro, nem do seu condutor.
“Íamos para Monsanto ver os Capri sempre atravessados!”
Em resposta ao fã dos Ford, um amigo responde-lhe dizendo: “epá, arranjei um carro que é uma maravilha. Marca 3,8 lt/100 km no computador de bordo. Não acreditas? A seguir vais comigo à garagem e vês com os teus olhos!” Não sei se lá foram porque, como referi, o vento empurrou-me de regresso a casa e a eles de volta ao interior do café onde a conversa dos platinados e dos computadores de bordo prosseguiu a uma temperatura bem mais agradável e sem o tipo da mesa do lado, que quase não escreveu uma linha no computador, a tentar ouvir a conversa. Voltei na semana seguinte, mas não os encontrei.
Fotos: Garagem/Tiago Costa