Carros & Cores: Do simples preto de 1909 às tendências vibrantes do Séc. XXI
Um dos mais recentes estudos revela que a cor é um factor determinante em nada menos do que 88% das decisões de compra de veículos novos, registando-se, no último ano, uma preferência por acabamentos de elevado brilho ou por cores que evoquem elegância e estabilidade, contra os outrora tons sólidos e menos evoluídos. Pena que a análise da Axalta apenas contemple 4 mercados – Alemanha, China, EUA e México – representando os grandes produtores de veículos do planeta.
De cariz anual, este “Inquérito aos Consumidores sobre Preferências de Cores para Automóveis” analisa a relação entre a cor e as decisões de compra de veículos novos, reflectindo as preferências de mais de 4000 participantes, com idades dos 25 aos 60 anos, revelando que a emoção se está a impor, em determinados casos e cada vez mais, à razão. “A psicologia da cor é um importante factor influenciador nas decisões de compra de automóveis. Muitas vezes, a cor reflecte a personalidade do proprietário do veículo,” afirmou Nancy Lockhart, Global Color Manager, Mobility Coatings, da Axalta. “O que é interessante é que a elegância, a estabilidade e a positividade foram as características de cor predominantes pretendidas pelos entrevistados.”
Naturalmente que há diferenças entre as regiões, com preferências em termos de acabamentos e efeitos de tintas, nomeadamente os de alto brilho, algo que só não vinga na China, que os equilibra, quase em 50/50, com os acabamentos mate. Os efeitos lisos foram a escolha dos EUA e na China, com a Alemanha a tender para os perolados e o México para um misto entre esses e os metalizados rugosos. “É empolgante ver como as cores mais arrojadas estão a tornar-se cada vez mais populares com os consumidores. A preferência pelos vermelhos e azuis está claramente a aumentar. É possível que iremos ver mais cores na estrada com efeitos brilhantes num futuro não muito distante,” declarou aquela responsável.
Devido à proximidade geográfica – ainda que com uma margem de erro significativa, sabendo-se que os gostos dos mercados da Europa Central diferem daqueles dos povos latinos, como Portugal, vamos começar pelos resultados da Alemanha. Aqui, com 83% dos inquiridos a sublinhar a importância da cor no processo de compra de um veículo, 63% decidem, eles próprios, a cor do seu automóvel (ou do da família), contra 37% que consulta a prole nessa tomada de decisão. O preto foi a cor preferida de 32%, como imagem de elegância, seguindo-se o azul (16%), espelho de estabilidade.
Já na China, 99% dos entrevistados dizem que a cor é “o” factor por excelência, preferindo o branco (29%), o preto (26%) e o cinza (11%), relegando cores mais vibrantes para fora do top-3. Mais de metade (64%) até mudaria de fabricante se não houvesse a cor que queriam. Do outro lado do Atlântico e começando pelos EUA, dos 79% que consideram a cor como factor de decisão, 46% até a vêm como muito ou extremamente importante. Mantendo o preto como tendência (30%), os clientes dos famosos trucks – categoria que ali engloba SUVs e pick-ups – estão a escolher versões mais garridas de azuis (14%), reflexo de positividade, e vermelhos (10%), representando um espírito aventureiro, colocando os cinzas (claro e escuro) pelo meio. Mais a sul, 90% dos mexicanos diz que a cor é factor determinante de decisão, preferindo o vermelho (22%), como reflexo de uma personalidade elegante, ao preto (17%) e ao azul (15%). Também aqui, muitos (44%) afirmaram que mudariam de marca caso não encontrassem a cor que queriam no catálogo.
Encomendas por região: O branco está no topo… há 10 anos!
Pode dizer-se que o mundo automóvel tende para o branco, desde que, há já uma década, os clientes começaram a dar-lhe a primazia, em detrimento dos então preferenciais pretos, azuis escuros e cinza metalizados, aquando da encomenda de automóveis novos.
A nível global e referindo-nos a 2020, o branco voltou a impor-se nas escolhas dos consumidores, desta feita com 38% das preferências, divididas entre tons sólidos (27%) e perolados (11%). Seguiu-se o preto, com 19% (5% sólido e 14% do tipo piano black) e o cinza gray, com 15%. Todas as restantes cores ficaram abaixo da fasquia dos 10%: cinza prateado (ou silver 9%), azul (8%), vermelho (5%), castanho/beije (3%), amarelo (2%) e verde (1%), dividindo-se o restante 1% por outros tons menos comuns na palete de cores das marcas automóveis (laranjas, roxos, rosas e afins).
Todas as regiões do planeta continuaram a preferir esse tom alvo, registando-se volumes mais significativos na China, com 57% dos clientes a encomendá-lo, seguida da demais área asiática (48%) e até da região de África (46%), onde a dissipação do calor é outra das razões por detrás da escolha. Já na América do Sul houve 41% de encomendas em branco e no Japão 35%, mais 2% do que no trio Rússia/Índia/Coreia do Sul (todas com 33%), lista que regista 30% da América do Norte. Mais abrangente em termos de escolha cores e dos próprios catálogos, a Europa somou uns magros 25%, já em ex-aequo com o tom cinza gray que, assumindo-se como mais estatutário e luxuoso, ganha terreno a cada ano que passa.
A sequência branco-preto-cinza (claro ou escuro) revelou-se em 4 das 10 regiões analisadas, e as chamadas cores básicas – vermelho-azul-amarelo – nas suas diversas variantes, dividiram-se caso a caso, consoante o coração dos clientes e as regiões. Por falar nessa característica de emoção, o amarelo destacou-se na China como a 4ª preferida, posição que os tons de azul também alcançaram na Europa, no Japão e na Coreia do Sul, ou mesmo os castanhos, sempre tão queridos no mercado indiano. Por seu turno, os clientes da América do Norte e do Japão elevaram o vermelho ao 5º posto, neste último caso representando a essência de muitos dos seus diversos construtores.
Em termos de evoluções, a Axalta conclui ter havido uma viragem para tons mais neutros a nível mundial, com o cinza gray a crescer em todas as regiões (2% no seu conjunto), em contraponto a uma queda do outrora tão popular cinzento metalizado. O preto e o branco mantêm-se em níveis semelhantes aos dos últimos anos, com um crescimento de 2% nos tons perolados deste último. Já na Europa, o cinza gray cresceu 1% e igualou o branco nos tais 25%, tom que reflecte maior apetência dos clientes individuais por soluções peroladas, reservando-se as sólidas para a vertente profissional. O preto não anda longe (21%) e a apetência pelo restante leque divide-se dos 10% do azul e 9% do cinza metalizado, aos menos expressivos 5% do vermelho e restantes tons.
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No que se refere a Portugal e apesar das questões que colocámos à Axalta e a outras entidades do sector, não existem estudos recentes que permitam saber qual a nossa presente realidade, mas olhando para o parque automóvel novo em circulação é inegável que se regista uma variedade de tons nunca antes vista! Evoluímos dos outrora cinzentões, passando a escolher tons particularmente mais vibrantes, em especial nos segmentos A, B/B-SUV e até no C/C-SUV, mantendo-nos nos mais sóbrios nas restantes fatias do mercado automóvel nacional, ou até escolhendo as novas cores que têm vindo a ser aplicadas aos modelos de cariz mais desportivo.
Muito longe está 1909, ano em que Henry Ford lançou o mítico Ford T, com ele expressando a famosa frase de que “qualquer cliente pode ter um automóvel pintado em qualquer cor, desde que seja em preto”. Com isso o visionário líder correu, à época, quase tudo a essa cor que tinha subjacente várias particularidades: era mais barata e duradoura, mas também mais fácil de aplicar e de secar, permitindo, assim, construir mais automóveis em menos tempo. Uma mera questão de olho para o negócio e para os números, algo em que era exímio!
Um século depois, é o branco que prevalece, nas suas múltiplas variantes… resta aguardar até quando!
Fotos: Oficiais / Axalta