Toyota vs Peugeot: A Batalha da Ibéria
O todo poderoso Júlio Cesar tentou-o, na sua ânsia de expansão do Império Romano, tal como antes dele os Vandalos, Suevos e Alanos, ou os Visigodos, para depois terem sido os Árabes os propostos conquistadores da (quase) inexpugnável Ibéria. São hoje Portugal e Espanha que a (des)governam, eles que, em tempos, também andaram à trolha para se conquistarem mutuamente, agora mantendo a sua hegemonia, apenas atribuindo, aqui e ali, salvos-conduto para a entrada de outsiders. O primeiro exemplo foi atribuído a um grupo gaulês, na exploração de uma espécie de evento competitivo a que chamamos de “ralis”, mas eis que chega do oriente novo pretendente a semelhante autorização.
Sim, é a Peugeot quem, vai para um total de 4 anos, explora outros tantos cantos da Península Ibérica, fazendo realizar um Grande Torneio a que chama de Peugeot Rally Cup Ibérica e que, até à data, já condecorou 3 Campeões – Roberto Blach (2018), Daniel Berdomás (2019) e Pedro Antunes (2020) – e que tem, actualmente, em discussão o quarto título, num processo arduamente batalhado por quase quatro mãos cheias de pretendentes, portugueses, espanhóis e até um representante da coroa britânica, todos querendo ser o novo sucessor em tão distinta linhagem.
Só que agora, de terras do Oriente, de um conjunto de ilhas chamado Japão, surge a notícia de que há outro candidato à obtenção de semelhante salvo-conduto, com vista à realização a partir de 2022 (para já até 2024), de uma Toyota Gazoo Racing Iberian Cup, pretendendo, também esta, exibir os seus coloridos estandartes em diversos pontos desta nossa península.
Sports & You vs Teo Martín Motorsport: Um braço de ferro de competências
Do lado gaulês, este Grande Torneio é liderado pelas ganadarias locais da Peugeot Portugal e Espanha, com uma importante ajuda dos clãs da Peugeot Sport, responsáveis pela construção e preparação dos veículos e seus equídeos usados pelos pretendentes aos ceptros, a que se junta a Sports & You, colocando esta no terreno os múltiplos encontros – 6 no total – divididos equitativamente por ambos os lados da fronteira e em tipo de piso (terra e alcatrão).
Bastante semelhante é a agora anunciada estrutura nipónica, integrando não só a Toyota Caetano Portugal e Toyota Espanha, como o Motor & Sport Institute (MSi), este com a preparação dos puro-sangue, contando com a Teo Martín Motorsport para a logística no terreno de jogo. Também aqui se aponta a uma divisão igualitária de eventos, a realizar em ambos os lados da fronteira, se bem que ascendam a 8, presumindo-se que também venham a ser equilibrados no domínio dos pisos.
Peugeot 208 Rally4 vs Toyota GR Yaris: Os cavalos de batalha
A principal diferença estará nos exemplares que uma e outra têm para propor aos cavaleiros, isto apesar de ambos pertencem à mesma categoria a que hoje chamam de “citadinos”, mas apontando a estratos perfeitamente diferenciados.
No caso dos franceses trata-se de um 208 Rally4, modelo já com provas mais do que dadas em termos de robustez, fiabilidade e competitividade, na linha do 208 R2, seu antecessor e conquistador de tantos feitos, tendo abdicado após os dois primeiros anos do torneio. Do lado dos nipónicos a peça assentará, a partir de 2022, num Toyota GR Yaris, já tida como uma das futuras grandes promessas do tal mundo dos ralis, em termos de competências e espectáculo.
O espevitado 208 tem apenas duas rodas a puxar a carroça, caindo no grupo dos “Rally4” (ou “ERC3”), enquanto o vitaminado GR Yaris (derivado da versão de estrada, à venda em qualquer concessionário da marca) conta com um novo sistema de tracção integral GR-Four, calhando-lhe o rótulo “N4” (ou “ERC2”), ou seja, nada há de comparável em termos de prestações, mesmo se os corações resultem, em ambos os casos, de blocos de 3 cilindros turbo, com rédeas (vulgo caixas) manuais de seis velocidades e travões de disco, ventilados à frente.
A partir daqui divergem: de um lado conta-se um Peugeot 1.2 PureTech, do outro um conceito Toyota 1.6 litros, peculiares peças metálicas onde se escondem os múltiplos cavalos de ambas as ganadarias, 208 no caso da maison française e uns expectáveis 261 no que se refere ao produto do templo oriental. Os pesos de conjunto são de 1.280 e 1.240 kg, respectivamente, neles incluindo-se o cavaleiro e o seu fiel escudeiro, hoje mais pomposamente denominados de piloto e navegador.
Acrescente-se que o caldeirão de pedras preciosas do lado japonês parece bem mais recheado do que a arca de ouro & prata francesa, já que os valores a atribuir como prémios aos propostos cavaleiros ascende a mais de € 250.000 para a nova série, contra o total de € 120.000 da actual contenda, mas aqui acrescente-se que a série Peugeot premeia o Campeão com um aliciante Prémio Final, nada menos do que um programa oficial, aos comandos de uma outra montada de categoria superior (“Rally 2”), em Portugal ou Espanha. Aguardemos para ver como responde a Toyota a esse desafio.
Por falar em soldos, estes GR Yaris de competição, para as quais as encomendas já abriram, custarão algo na ordem dos € 65.800 euros mais IVA, prevendo-se que as entregas comecem em Outubro próximo. Já o valor de aquisição das montadas 208 é em tudo semelhante, de € 66.000 fora impostos. Ou seja, há um quase perfeito equilíbrio neste particular!
Para tirar as dúvidas, já há unidades de uma e de outra em competição por outras paragens, a dos japoneses em menor volume, de 11 a 15 exemplares, que se irão estrear no Campeonato Italiano, série que irá iniciar-se já neste fim-de-semana (23 e 24 de julho) no Rally Roma Capitale; a dos franceses já maior, tirando partido de uma vantagem temporal superior, não só pelos já quase dois anos com o 208 Rally4, como a decorrente de todo um vasto passado histórico neste domínio, tendo-se já realizado copas de ralis com os mais diversos modelos da casa de Sochaux. Já se ultrapassou a centena de 208 Rally 4 entregues, hoje espalhados por diversas “Rally Cup”, não só a que se corre na Ibéria, como as de outras paragens e reinos, da Europa (França, Bélgica/Luxemburgo, Itália, Hungria e República Checa) e América do Sul, nomeadamente no Peru.
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A Peugeot Rally Cup Ibérica e a Toyota Gazoo Racing Iberian Cup pretendem chamar a si a realização do melhor torneio monomarca de ralis, a nível nacional e europeu, algo que poderão alcançar em pleno, fruto dos promissores nomes que despontam (ou reconfirmam valências) em cada um dos lados das barricadas, portuguesa e espanhola! Será tudo uma questão de números, leia-se capacidade de investimento! Uma coisa é certa: bem feita a coisa e ambos os conceitos poderão até brilhar ao mais alto patamar dos ralis, servindo não só para catapultar esses novos valores da disciplina, como também servir de exemplo a muitos outros povos, de diferentes continentes, placas hoje separadas da outrora e original Pangeia!
Fotos: Peugeot, Toyota