McMurtry Spéirling, base de um futuro troféu eléctrico, mas não só!
Muitos apelidaram-no de “Batmobile do Goodwood FOS”, fruto do visual dark & mean da sua mini-carroçaria em carbono dar-lhe uns ares aos veículos do franchise “Batman”, mas o McMurtry Spéirling é muito mais do que um simples protótipo para encher as vistas. A comparação fica-se por aí já que esta criação não só não conta com nenhum dos gadgets que ajudam o popular super-herói nascido dos comics norte-americanos a sair de situações mais apertadas, como tem outros muito mais contemporâneos, com um olhar no futuro do motorsport de circuito!
Trata-se de uma proposta 100% eléctrica destinada a servir de base a potenciais copas (ou troféus) de velocidade em circuito, um projecto que ainda está em fase de desenvolvimento e que foi desvendado ao mundo – what else?! – no passado Goodwood Festival of Speed 2021, na sequência de um convite da organização do evento. Primando pela diferença, conquistou os olhares e captou o interesse dos muitos que o viram quer em exposição, quer a acelerar pelo traçado da Rampa de Goodwood, tendo ao volante os seus dois pilotos de testes: Derek Bell, profissional que dispensa apresentações e que, entre outros, conta com 5 vitórias em Le Mans, 3 em Daytona e um duplo título de Campeão do Mundo de Sport-Protótipos (hoje WEC), e Alex Summers, Campeão Britânico de Rampas e candidato a novo título em 2021.
Realizado na sede da start-up britânica McMurtry Automotive, este projecto ultra-secreto foi agora desvendado após 3 anos de design, construção e desenvolvimento, uma miniatura de competição – são apenas 3,2 metros de comprimento por 1,5 de largura e 1,05 de altura, para uma distância entre eixos de 2 metros – que representa, segundo a start-up, o pináculo da excelência tecnológica em termos do desenvolvimento e rumo da futura geração de inovação no sector automóvel. Em particular, espelha o potencial futuro das provas de circuito 100% eléctricas.
Mais de 1.000 cv para menos de 1.000 kg de peso
Integrado na categoria “Cars of the Future” no FOS 2021, o Spéirling cativou não só quem o viu passar, como quem o ouviu colocar no chão os mais de 1.000 cv anunciados da mecânica McMurtry e-Axle, associada a um pack de baterias de 60 kWh (mais de 800 volts) e a uma transmissão às rodas traseiras, com a equipa de desenvolvimento a dar-lhe uma sonoridade que não desagradou aos petrolheads presentes, mesmo os mais cépticos sobre esta estranha, mas inevitável, realidade da electrificação do desporto motorizado.
O principal conceito do McMurtry Spéirling assenta numa ventoinha eléctrica com mais de 80 cv de potência e de uma cuidada aerodinâmicasob o piso, conjugação que permitirá gerir cerca de 500 kg de downforce, não obrigando ao recurso a outras soluções como spoilers ou asas. Isto para lidarcom a sua equilibrada relação peso/potência de 1 cv por kg (valor tirado por aproximação, pois o peso do conjunto foi referido como cerca de 1 tonelada), ou a velocidade, dita superior a 320 km/h, atingindo-se os 300 km/h em menos de 9 segundos!
Para tal contribuiu um dos factores por excelência do seu apertado caderno de encargos, o baixo peso, alcançado pelo recurso profuso a elementos em carbono, da coque aos elementos de deformação e à carroçaria.
“Quebrando o ‘status quo’ do que um futuro elétrico ‘deveria’ parecer, o Spéirling foi projectado para mudar a forma como pensamos. Espelho da inovação original das corridas de automóveis, agora ressuscitada através da tecnologia de ponta, e entregue com simplicidade, o Spéirling assume uma presença surpreendentemente diferente. Não é apenas um ‘hypercar’, é-o na sua classe individual, sem restrições ditadas por qualquer regulamentação. É um verdadeiro carro para ser conduzido, para uma experiência mais estimulante, crua e emotiva,” refere os responsáveis da McMurtry.
Para já recordes do mundo, depois talvez uma Gymkhana
Pensado exclusivamente para a competição, a sua bateria permitirá um intervalo de 30 a 60 minutos de utilização de energia em pista por cada carga realizada, representando uma autonomia máxima de 560 km, tudo isto segundos números avançados pela start-up, segundo a regulamentação WLTP. Está, por isso, posta de parte a sua homologação para circulação na via pública.
Para já, o estranho Spéirling ainda não conta com uma agenda totalmente definida, mas algumas coisas já ficaram em carteira: foi alvo de uma primeira análise, ainda muito sumária, feita por Travis Pastrana, nele se sentando para ver se cabia (o cockpit é para pilotos com uma altura máxima de 2 metros) com vista a uma potencial utilização numa das suas futuras “Gymkhanas”; segundo a start-up, também se irão tentar bater alguns recordes do mundo, não se definindo ainda quais.
Uma coisa é certa, o seu potencial cresceu significativamente após esta estreia em Goodwood (pode vê-lo em acção neste vídeo, a partir dos 3m14s). Teremos, assim, de aguardar para voltar a ouvir falar deste pequenino e irrequieto monolugar carroçado eléctrico de corridas!
Acrescentar potência torna-te mais rápido nas rectas, subtrair peso torna-te mais rápido em todo o lado.
Colin Chapman, designer e fundador da Lotus Cars, entre outros.
Fotos: Oficiais / McMurtry Automotive, Goodwood FOS