SEAT Ibiza 1.5 TSI FR DSG – Reencontro com um renovado “velho” amigo
Para muitos, um utilitário como outro qualquer. Para mim, o nome que me trouxe a liberdade aos 18 anos, que me acompanhou nas fases seguintes da minha vida, e que ainda hoje me leva em passeios de fim-de-semana, em “formato clássico”. Falo do Ibiza, um eterno best seller da SEAT que vê esse seu estatuto cada vez mais ameaçado pelo sucesso do Leon, maior e mais familiar, bem como pelo trio de SUV composto pelo Arona, Ateca e Tarraco. O Ibiza terá sempre um significado especial para mim e por isso, os recentes rumores da sua hipotética e futura substituição por um 100% eléctrico com outro nome, deixa-me algo triste.
Usufruí, por essa razão, em pleno deste reencontro com o Ibiza, nesta sua quinta geração agora renovada, na medida certa. E digo na medida certa porque, esteticamente, este Ibiza, tal como todos os que o antecederam, é um automóvel cujo design foi tão bem conseguido que os anos parecem não passar por ele. Considerando os seus rivais, também gosto bastante do visual – e condução! – do Ford Fiesta, mas basta pô-los lado a lado para ver qual nasceu e envelheceu melhor. Para mim, pelo menos, é óbvio. Talvez por isso a SEAT se tenha limitado a limar umas arestas aqui e ali, o que se agradece. A designação “Ibiza”, atrás, essa sim, mudou de visual.
Já nos segues no Instagram?
Por dentro, grandes diferenças
Não sou daquelas pessoas que se preocupa muito com a qualidade dos plásticos. Um plástico é um plástico, mas reconheço que se for mais macio, denota um maior cuidado na escolha dos materiais utilizados no habitáculo, ainda que, exceptuando para efeitos de análise e comparação, não ando por aí a conduzir carros e cravar os dedos e as unhas em tudo o que é carro. Isto tudo para dizer que o Ibiza tinha, até agora, uma grande quantidade de plásticos duros e esse era, provavelmente, o seu maior “defeito”, pelo menos perante alguma da sua feroz concorrência. E foi precisamente aí que a SEAT dedicou mais tempo.
O tablier, na sua parte superior, é agora feito com um material bem mais agradável e transmite essa tão valorizada sensação de qualidade. Para além disso, foi completamente redesenhado. O ecrã táctil do infotainment está colocado em posição elevada e deixou de estar embutido no tablier. Prefiro o sistema novo, mas acho que visualmente o anterior resultava melhor, estava “arrumado”. Felizmente, ao contrário do Leon, o Ibiza mantém uma pequena consola com os comandos da climatização, colocada mais abaixo, junto do carregador sem fios para smartphones. Nada de novo e ainda bem que assim é. Destaque, ainda, para as saídas de ar laterais que são agora redondas e que contam com iluminação.
Um segmento B ou B+
Mantendo-me no interior, o Ibiza sempre se destacou pela habitabilidade, mesmo desde as primeiras gerações. E em 2021, 37 anos depois do seu lançamento, mantém esse argumento. Sendo um modelo de segmento B, não se espere encontrar um salão de baile no banco de trás, mas dois passageiros viajam com bastante conforto e com um espaço livre para pernas que poucos rivais conseguem igualar. A bagageira é também das maiores do segmento e conta com o sempre útil, mas nem sempre presente, fundo amovível. Se o espaço interior é uma prioridade na compra e se um utilitário é a única opção possível, pois os familiares de segmento C já se tornam demasiado caros, então o Ibiza é, sem dúvida, um forte candidato a um dos melhores do segmento.
Mas os pontos fortes do Ibiza estão longe de se resumir à boa habitabilidade e a um design bem conseguido. Para quem gosta de conduzir, o Ibiza é, igualmente, uma excelente proposta. São várias, no segmento, pois na verdade não há maus carros. Há, sim, abordagens diferentes. Reconheço que o Ford Fiesta tem o chassis mais divertido do segmento, e sei que não há outro tão confortável quanto o Citroën C3. Pelo meio, um excelente Renault Clio, com conforto e dinâmica na dose certa. Mas o Ibiza pisa de uma forma diferente, mais crescida. Ágil e divertido, mas sempre com uma grande sensação de segurança. E para elevar ainda mais a fasquia, este que guiei estava equipado com amortecimento variável, com duas afinações possíveis.
E foi nesta sua grande vantagem perante a concorrência que encontrei algo que gostaria que fosse diferente: uma maior amplitude de capacidade da suspensão. Isto porque o Ibiza, sem ser desconfortável, nunca quis ser confortável. Sempre teve outras prioridades. Por isso, podendo contar com amortecimento variável, ao toque de um botão, gostava que o modo Normal proporcionasse um rolamento mais fluído, mais filtrado, já que no mais desportivo, tudo fica, como esperado, mais tenso, com uma dureza que lhe permite curvar com grande dinamismo. O que proponho é simples: um modo normal assumidamente confortável, quando equipado com amortecimento variável.
O mais potente do momento
Quanto ao motor, com este 1.5 TSI de 150 cavalos este é o Ibiza mais potente à venda actualmente. E são 150 cavalos que lhe assentam muito bem, ainda que o 1.0 TSI seja a escolha racional, obviamente, com pulmão suficiente para divertir e com consumos mais baixos. Ainda assim, graças também ao facto de poder trabalhar apenas com metade dos cilindros em situações de pouca exigência da mecânica, não foi difícil devolver o Ibiza à SEAT com o computador de bordo a marcar 6,5 l/100 km. Para o que este Ibiza anda, é um valor surpreendente. A ajudar à experiência, com conforto, bem como com dinamismo, se assim o quisermos, está uma caixa DSG de 7 velocidades, rápida, suave e com patilhas no volante.
Com o nível de equipamento FR, o Ibiza está disponível a partir de, sensivelmente, 22.000 €. Por esse valor, compras um Ibiza 1.0 TSI com 95 cavalos e caixa de 5 velocidades. Ficas bem servido, mas se quiseres mais potência, 110 cavalos, bem como uma caixa de 6 velocidades, terás de investir mais 2.400 €. Já com 110 cavalos e caixa DSG, a SEAT pede mais 1.600 € do que a versão com caixa manual. Está, também, disponível o motor 1.0 TGI, a gás natural, com 90 cavalos, por 22.050 €. Para quem tem acesso fácil a um posto de abastecimento, é, sem dúvida, uma proposta tentadora. Já este topo de gama 1.5 TSI está sempre associado à caixa de dupla embraiagem e tem um preço base de 27.620 €. Considerando os extras desta unidade, como, por exemplo, as jantes de 18”, o pacote Condução & Segurança, com navegação e painel de 9,2”, bem como o painel de instrumentos digital, o preço chega aos 33.375 €.
Iniciando as despedidas deste ensaio a um “velho” conhecido pelo qual tenho muita estima, gostei que a SEAT se tivesse focado naquilo que deixava o Ibiza em maus lençóis quando comparado com os seus mais directos e modernos rivais, os materiais do habitáculo. A evolução é notória e permite-lhe agora ir a jogo com mais e melhores argumentos, até para se impor à concorrência interna do Leon e Arona. Não tenho dúvidas de que este é o melhor Ibiza de sempre, ainda que, por muito que goste de potência, ache as versões com motor 1.0 TSI um melhor negócio. E se a dinâmica é tão boa como sempre foi, chegou a altura de fazer do Ibiza um carro que sabe ser tão confortável como os melhores. Com o amortecimento variável é possível. Gostei deste Ibiza, mas gostei ainda mais de reviver as memórias. Até pode ser o último da história, mas para mim, o Ibiza jamais desaparecerá.