Kia Ceed 1.0 T-GDi Sport – Um pouco mais de motor, um pouco menos de consumo
Tive a sorte de ter estado presente na apresentação internacional da actual geração do Kia Ceed – que por acaso se realizou em Portugal, na Praia do Carvoeiro, e, como podem imaginar, foi muito agradável – e recordo-me perfeitamente das boas impressões com que regressei a Lisboa, ao volante do Ceed. As de um automóvel globalmente muito competente e ao qual me habituaria muito facilmente nas minhas deslocações diárias. Sensivelmente três anos depois, voltei a encontrar-me com o Ceed, agora com visual retocado e tecnologia actualizada para enfrentar a sempre aguerrida concorrência.
Não mudou assim tanto e ainda bem
Esteticamente, fiquei contente por constatar que o Ceed continua a ser ele próprio, com ligeiras alterações visuais que mantiveram intactas as suas linhas gerais, onde o grande destaque, para mim, continua a estar no bem conseguido perfil, a quase meia-lua criada pelas janelas em combinação com o característico pilar traseiro. As jantes são novas e existem também novas cores na gama. Outro ponto positivo é igualmente a adopção do símbolo novo, mais limpo, mas bem mais moderno que a velhinha oval da KIA. Importa referir que as actualizações deste Ceed de 5 portas prolongam-se às restantes versões da família do modelo, Ceed SW e Proceed.
Por dentro, o design do tablier do Ceed pode até não ser o mais moderno e arrojado, mas isso agrada-me. Tudo está onde devia estar e há botões, imagine-se, para ligar e desligar os acessórios, bem como comandos rotativos para ajuste da temperatura. Assim, nota positiva para a ergonomia, bem como para os materiais empregues, em linha com o que se faz no segmento. Também gostei dos bancos, de desenho simples, mas confortáveis, e que tão bem complementam a boa posição de condução. O painel de instrumentos é totalmente digital, mas a informação, ao contrário de outras soluções da concorrência, é apresentada de forma clara, mantendo-se, nesse aspecto, fiel aos mostradores analógicos. O infotainment deste Ceed não tinha o ecrã de maiores dimensões, mas não senti falta dele. A integração com Android Auto, através de ligação sem fios, dá imenso jeito, assim como o carregamento sem fios, a quem tenha um smartphone compatível.
Passando à condução, ou quase, senti falta, isso sim, de acesso e arranque sem chave. Não foram poucas as vezes que tentei abrir a porta sem recorrer à chave. Maus hábitos. Depois de instalado e de rodar a chave no canhão de ignição para acordar o motor 1.0 T-GDi, a experiência ao volante prima pela facilidade e conforto. Esta é, aliás, a prioridade do Ceed e isso nota-se, como referi anteriormente, pelos bancos, mas também pela direcção leve, que não é exageradamente rápida e “nervosa”, bem como pelo tacto da caixa, fácil e directo. A suspensão conta com uma afinação muito equilibrada entre conforto de rolamento e eficácia dinâmica, mas dando, como disse, mais prioridade ao primeiro. O Ceed tem um comportamento muito são e seguro, mas não chega para entusiasmar. Aliás, nem os pneus Michelin Primacy o permitem. A plataforma do Ceed tem muito potencial, mas de Sport, só o visual, porque este é um Ceed racional, para todos os dias.
Bom na cidade, bem melhor fora dela
O motor 1.0 T-GDi, de três cilindros a gasolina, é já um velho conhecido da Garagem, aqui na sua versão de 120 cavalos. Esforçado, enérgico e com vibrações contidas, peca pelo consumo algo elevado em circuito misto – entre 7 e 8 litros/100 km – principalmente se considerarmos outras propostas equivalentes do segmento. Onde o consumo baixa bastante é em ambiente de autoestrada, percursos onde as longas relações de caixa – demasiado longas, diria mesmo – fazem a rotação cair bastante. Em cidade, onde passei 60 ou 70% do tempo, gostava de ter tido à disposição uma caixa mais curtinha, o que também teria ajudado o pequeno 1.0 litros e teria feito mais justiça ao por vezes demasiado optimista indicador de mudança. Com estes 120 cavalos, nunca achei o Ceed um automóvel submotorizado, mas tenho saudades do bastante mais agradável – e não necessariamente mais guloso – 1.4 T-GDi de 140 cavalos que experimentei no seu primo Hyundai i30 e que agora evoluiu para um novo 1.5 T-GDi de 160 cavalos. Esse, sim, seria o motor a gasolina certo para este Ceed Sport. Mas claro, com esse “enorme mil e quinhentos”, a fiscalidade portuguesa até batia palminhas a quem por ele optasse ao invés de escolher este pequeno “mil”.
Já o tenho dito e volto a dizer: os coreanos estão de saúde e aconselham-se, mas falta-lhes afinar os motores T-GDi para assim fazer baixar um pouco os consumos. Devolvi-o à Kia com o computador de bordo nos 6,5 l/100 km, mas dos 500 km que fiz, uns 200 foram a 120 km/h com a longa 6ª relação do Ceed a manter o motor nas 2500 rpm. Em cidade, onde os Ceed desta vida mais tempo passam, a história teria sido diferente. O Kia Ceed é uma muito boa proposta do Segmento C e ainda não referi aquele que é, talvez, o seu maior argumento, para além da garantia de 7 anos ou 150 mil quilómetros: o preço. À data deste artigo, a Kia promove um desconto de 5.300 euros, passando este Ceed Sport a estar disponível por 20.050 euros. Caramba, no nosso país, é muito carro por tão pouco dinheiro. Para ser ainda melhor, só Kia ter conseguido desligar, permanentemente, o incrivelmente chato assistente de faixa de rodagem, algo em que não fui bem suceedido.