Comparativo: serão estes os SUV eléctricos certos?
Testámos os três SUV irmãos de “sangue eléctrico” do grupo VW para tentar chegar não ao melhor, mas ao que mais sentido fará para as tuas necessidades. Temos respostas, um favorito e um veredicto tudo menos científico.
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Racional
Começo por fazer um aviso: este teste foi tudo menos científico e tem por base a opinião de uma pessoa que não só não é fã de SUV como, apesar de gostar muito de eléctricos, tem perfeita noção de que estes só fazem sentido para um pequeno grupo de pessoas.
Posto isto, vamos por partes. Avaliei o design, sempre alvo de escrutínio e tão subjectivo e pessoal que mais valia ter avaliado duas pedras da calçada. O resultado seria sempre o mesmo: tu gostas, eu não gosto, mas há quem goste e, no fim de contas, o objectivo é esse mesmo. Suscitar emoções. Depois, uma vez que a plataforma destes três SUV é igual, de pouco vale comparar coisas como dinâmica de condução (apesar de cada marca dar o seu toque), motorizações e por aí fora. São praticamente iguais, sendo que, neste comparativo, apenas o Audi tinha tracção integral fruto de dois motores, um em cada eixo. Tanto o Skoda como o VW tinham, apenas, um motor no eixo traseiro. Por fim, vamos lá para dentro e aí, sim, existem diferenças que podem “ganhar ou quebrar”. Comecemos.
Design e Espaço
Cá está, o expoente máximo da subjectividade. Aqui, o comparativo terá de ser feito por ti. Eu apenas posso dar os meus dois tostões de opinião pessoal. Mas o veredicto poderá surpreender! Gostei dos três. Viram? Nota-se que cada um deles tem um público-alvo em mente. Dos três, o que menos me impressionou foi o VW ID.4 e talvez tenha sido de propósito. Será o carro com o objectivo de apelar a mais gente, daí ter um design atrativo mas mais genérico. É futurista e arrojado, mas não perde alguns elementos que a maioria das pessoas gosta como as curvas e proporções. Não é feio. Nada disso! Mas é muito baunilha, entendes? Baunilha é muito bom, mas já todos conhecemos bem esse sabor. Está em linha com o resto da gama ID, mas sinto falta de algum arrojo.
O Skoda ENYAQ apela, claramente, a um público mais familiar, com um aspecto algo agressivo mas a fazer lembrar as minivan que durante muitos anos foram o go to das famílias por todo o mundo. Uma traseira mais alta, pronunciada, e a deixar de lado o aspecto coupé que muitas marcas procuram. Isto apela, claramente, a quem procura mais espaço – que o tem – tanto para a bagagem como para passageiros. Neste aspecto, o Skoda, com os seus 585 litros de bagageira, vence os seus irmãos que têm menos 40 litros no caso do VW ID.4 e menos 60 litros no caso do Audi Q4.
Apesar disto, o Skoda ENYAQ não perde beleza. Na minha opinião, com a configuração certa – especialmente a versão Sportline – ganha uma presença incrível. Quase desportiva. As jantes grandes ajudam a criar esta sensação e a secção frontal com as arestas pronunciadas até à traseira, também. No entanto, o vencedor do melhor design é o Audi Q4. Nota-se que quer apelar a um público mais exigente e esta exigência transita, como já vamos ver, para o interior. Mas, ainda assim, conseguiram um SUV com uma estética muito proporcional e emocional sem que o preço ficasse muito alto. Quer dizer, isso também é relativo, mas assim de repente, para o mesmo preço, só me lembro de um SUV que também acho muito bonito. Foi um excelente trabalho da Audi.
Todo o design faz lembrar os restantes membros da gama e-tron, o que é muito positivo, sem que pareça inferior, dado que é a “versão de entrada” da gama eléctrica. A frente é imponente, com a grelha a ocupar muito espaço mas, depois, as linhas do capot juntamente com os faróis arrumam tudo com proporcionalidade. Dos três, é o que me remete mais para os SUV tradicionais, com aquela tipologia de dois volumes. Talvez seja isso que me capte mais a atenção. Ninguém quis fazer deste SUV outra coisa que não fosse um SUV. As protecções em preto brilhante dão um ar ainda mais robusto e as linhas são as mais musculadas dos três, com as ancas por cima das rodas a sobressair.
Mas como todo o sim tem o seu senão, isto não são favas contadas e é aqui que a porca torce o rabo (tentei meter o máximo de expressões numa só frase). É bonito, mas tem alguns ângulos que não o favorecem. Creio que é do tamanho. Tentaram criar um SUV espaçoso mas compactado e isso obrigou a estender o carro mais do que seria ideal. Um pouco mais curto e ficava quase perfeito. Mas para isso teriam de ter uma plataforma dedicada, o que, nos dias de hoje, é impensável.
Interiores e Conforto
Aqui o vencedor é fácil. Pelo menos para mim. A Skoda está com uns interiores incríveis. Tanto no design, como na ergonomia, qualidade e conforto. Sempre primaram por serem carros equilibrados, com uma boa relação preço/qualidade. Mas o design, que era o seu calcanhar de Aquiles, é coisa do passado. Têm o melhor design interior do grupo, sem sombra de dúvida. Elegante mas sem perder arrojo, com conforto, ergonomia e boa qualidade. Transmite uma sensação de cockpit que me agrada muito.
O Audi só não ganha porque, apesar da qualidade de materiais e construção a que sempre nos habituaram, não senti que estava “com o carro”. Não em relação ao espaço, que nesse campo estão todos bem servidos, mas acho que o design da marca funciona melhor em carros mais baixos, onde fica tudo um pouco mais harmonioso. No Q4, a consola parecia fora do seu habitat natural. Os botões físicos são altamente favoráveis, mas a consola dos controlos da caixa é demasiado protuberante, sem necessidade. Os grafismos do painel de instrumentos, apesar de bons, têm uma leitura difícil. Devem agradar aos clientes da marca, que já estão habituados, mas novos clientes podem não achar graça. Neste aspecto, o VW ID.4 estava muito bom. Informação simples e precisa, sem nada que não seja essencial à condução. O resto da informação pode ser consultada no ecrã central do infoentretenimento.
Voltando ao Skoda, tenho de referir o incrível volante. Está presente nos restantes modelos da marca e é uma maravilha. Bem como a organização da consola. Tudo com um aspecto simétrico e focado nem no condutor nem nos passageiros, mas na ergonomia. Um ecrã central de boas dimensões (nem grande nem pequeno, mas a pender para o grande, vá), alguns comandos físicos por baixo dele, tudo a conseguir criar uma sensação de pertença. Daí que a vitória neste parâmetro vá para o Skoda ENYAQ.
Quanto ao conforto, todos estão praticamente iguais, não só porque a plataforma é a mesma, mas porque as marcas fizeram um bom trabalho ao nível da suspensão e bancos. Bom apoio, confortáveis e a suspensão consegue absorver bem o que as jantes grandes com os pneus de perfil baixo deixam passar. São ótimos para rolar em estrada aberta, mas em cidade também surpreendem, até mesmo nos diâmetros de viragem e facilidade de conduzir. Neste campo qualquer um é uma boa escolha.
Motor e Eficiência
Aqui houve diferenças, claro, até porque o Audi Q4 vinha com a motorização topo de gama 50 quattro com um motor em cada eixo e uma potência de 299 cavalos. O peso e potência acrescidos pesam no consumo e autonomia. Ainda assim, conseguimos tirar algumas ilações. Tanto o VW ID.4 como o Skoda ENYAQ tinham um único motor de 204 cavalos no eixo traseiro. As baterias, em todos os casos, eram as maiores, de 77 kWh.
Relativamente aos consumos, os vencedores foram, sem surpresa, o Skoda ENYAQ e o VW ID.4 com valores em torno dos 18 kWh/100 km. Todos eles andaram mais de 50% do tempo em ambiente urbano, o que ajudou. Ainda assim, muitas vezes o consumo andou perto dos 20 kWh/100 km. Já o Audi Q4 raramente baixou dos 24 kWh/100 km. Nenhum destes valores é de estranhar. Para baixar dos 20 ou, até, dos 18 kWh/100 km era necessário que os carros fossem mais leves, sendo que todos pesam mais de duas toneladas. Se procuras consumos mais baixos terás de ir para os compactos. O VW ID.3, Cupra Born, Peugeot e-208 e por aí. Ainda não há muitas opções nesses segmentos e nem todas as marcas os têm, mas isso vai começar a mudar. É natural que os fabricantes fossem começar pelos SUV, pois são o que os clientes procuram neste momento.
Mas voltando ao comparativo, não sendo um consumo excelente, não é mau. Com estas baterias, permitem andar entre os 400 e os 480 quilómetros, o que é bastante bom para a maioria das deslocações. Excepto no caso do Audi Q4. Para obteres uma melhor autonomia terás de escolher uma versão com, apenas, um motor no eixo traseiro. Essa seria uma comparação mais justa. Assim, posso concluir que, não sendo uma autonomia e consumos excelentes, são aceitáveis para o tipo de carro.
Preço e Equipamento
Neste teste, o Skoda ENYAQ era o que trazia mais equipamento. O preço, portanto, estava mais alto. Tinha cerca de 13 mil euros em opcionais, ente os quais o tejadilho panorâmico, pack climate, pack convenience, e outros packs que o recheavam de equipamento. O preço base desta versão 80 é de 46.440€ e já traz bastante equipamento de origem. Todos eles estão bem equipados de série, diga-se de passagem, com todos os sistemas de segurança, um infoentretenimento muito completo e sensores/câmara de estacionamento. Os bancos do VW e Audi são em tecido (o que eu até aprecio). Por cerca de 2.000€ consegues equipar todos eles com bastantes opcionais.
O VW ID.4 vinha da versão 1st e um preço base de 45.223€ mais 2.000€ de opcionais. O Audi Q4, por ser a versão topo de gama, tinha um preço base de 57.356€ e de extras trazia, apenas, a pintura metalizada e as jantes, totalizando mais cerca de 1.500€. Neste campo do preço, o vencedor é o VW ID.4, embora o Skoda ENYAQ traga mais equipamento de origem por um preço similar. Se compararmos os preços base para versões equivalentes, o VW vence, seguido do Skoda e, depois, do Audi. Nesta gama de preços, acredito que uma diferença de 2 ou 3 mil euros não seja o factor de decisão.
Chegamos ao fim deste comparativo e esperamos ter-te ajudado ou, pelo menos, não te ter dificultado a decisão. Claramente que a escolha entre um destes três SUV “irmãos de sangue eléctrico” recairá sobre a preferência e emoção. Todos eles têm coisas a favor e contra e o maior destaque será, naturalmente, o design. No geral, gostei bastante dos três. Já o meu favorito é o Skoda ENYAQ. É, para mim, o mais equilibrado dos três. Bom design, espaço, bom equipamento, confortável, consumo equilibrado e boa relação preço/qualidade. Mas teria de escolher a versão Sportline.