FIAT Tipo Cross – Boa evolução de um valor seguro, agora em formato crossover
Estava verdadeiramente ansioso de conduzir o renovado FIAT Tipo. Porque bem mais importante do que ser um modelo entusiasmante de conduzir, este é o tipo de automóvel que as pessoas compram. Um familiar para todos os dias que dispõe dos níveis de habitabilidade, potência, equipamento e segurança que se esperam encontrar num modelo compacto de segmento C sem com isso custar rios de dinheiro, algo que as famílias agradecem. Mas, como tentarei mostrar, o preço apelativo não é tudo o que o Tipo tem para oferecer.
Sempre gostei da família Tipo, disponível com quatro ou cinco portas, bem como na versátil carroçaria station wagon. E sei que não sou o único a reconhecer-lhe méritos, pois são imensos os Tipo com que nos cruzamos diariamente nas estradas portuguesas. E se é verdade que o preço é um dos seus maiores argumentos, acho injusto analisá-lo tendo isso como base. Se considerarmos o que custa relativamente ao que oferece, o Tipo é um vencedor. Mas não quero ir por aí. Quero explorá-lo, ponto a ponto, e avaliá-lo, independentemente do que custa.
Primeiro, o design
A informação pode, até, ser-vos pouco útil, mas gosto do design do Tipo. Gosto da combinação de modernidade com discrição e gosto, também, da subtileza desta actualização. Um toque aqui, na iluminação, um toque ali, na grelha e no símbolo e está feito. O Tipo continua a ser o Tipo, inovando, porém, com a adição desta nova versão Cross de inspiração crossover. Talvez não seja o meu Tipo de eleição, mas entendo perfeitamente a decisão da FIAT ao fazer esta aposta. E a verdade é que os elementos exclusivos da carroçaria, bem como a maior altura ao solo – cerca de quatro centímetros – dão-lhe, sem dúvida, mais personalidade, aquela tão procurada “pinta” aventureira e irreverência urbana.
Um Tipo digital
Passando ao habitáculo, a inevitável digitalização é agora uma realidade a bordo do Tipo. O painel de instrumentos é parcialmente digital, contando com um completo display central personalizável de 7 polegadas, mas ainda complementado por instrumentação semianalógica. Um desses elementos é o conta-rotações, cuja solução me parece melhorável, dando pouca leitura, uma vez que está escalada de 500 em 500 rpm. Ao centro e no topo do tablier, destaca-se o novo sistema de infotainment Uconnect 5, com display táctil de 10 polegadas e idêntico ao do Novo 500, com ligação sem fios ao smartphone. Gostei do grafismo e da facilidade de utilização, sendo, sem dúvida, um dos pontos em que a modernização do Tipo é mais notória.
Quanto a materiais, apesar dos plásticos rijos utilizados nos forros das portas, estes recorrem a napa na zona dos apoios de braços, bem como é utilizado um material bastante macio no topo do tablier. Já no que diz respeito a qualidade de montagem, há ainda alguma margem para melhorar ao nível das folgas entre elementos, como no topo do pilar A, mas nada que coloque em causa a utilização bem como a boa sensação transmitida pelo habitáculo. Esta é em grande parte explicada pela boa habitabilidade, com os passageiros de trás a não sentirem falta de centímetros livres, quer para as pernas, quer para a cabeça. Também os bancos são bem desenhados, com suporte adequado para as pernas. Muito bem, FIAT. As portas traseiras são grandes, facilitando, igualmente, o acesso. Já a bagageira pode até não ter soluções inteligentes e inovadoras, mas responde com 440 litros de volume útil. Roda suplente, infelizmente, não está. Mas devia. E não devia custar 350 euros.
Um Tipo sobrealimentado
A gama continua a apostar na – cada vez mais, mal vista, mas poupada – tecnologia Diesel, através dos motores 1.3 e 1.6 Multijet, mas vê o “velhinho” 1.4 litros, a gasolina, ser substituído pelo mais eficiente e potente 1.0 litros GSE, um propulsor com três cilindros, sobrealimentado, com 100 cavalos e 190 Nm. Pode até ser pequeno e superar o seu antecessor em apenas 5 cavalos, mas dá ao Tipo uma desenvoltura muito agradável em ambiente urbano, fruto do bastante superior binário, entregue logo às 1500 rpm. E apesar do número ímpar de cilindros, impressiona pelo funcionamento refinado, com vibrações contidas, que tão bem complementa a óptima insonorização a ritmos mais elevados. Este foi, aliás, um dos destaques desta experiência. À noite, a 120 km/h em plena autoestrada, o Tipo marcou pontos pelo silêncio a bordo, mesmo sem contar com uma sexta relação que pusesse o motor a respirar mais baixo. A caixa é, assim, de 5 velocidades, mas muito sinceramente, não senti falta de mais. Bem escalonada e com tacto confortável.
Ao volante, gostei igualmente da evolução sentida ao nível da resposta da direcção. Não sei, efectivamente, quais as diferenças para o Tipo agora substituído, se é que as há, mas este foi, de longe, o Tipo com a direcção mais agradável de utilizar que já guiei. Terão os pneus Falken 215/55 R17 alguma responsabilidade nisso? É difícil responder, mas gostei de sentir diferenças naquele que sempre foi, para mim, um dos pontos fracos do Tipo. Ao nível da suspensão, achei-o, por vezes, um pouco rijo demais, mas também é verdade que algumas das estradas onde o guiei estão longe de ser boas. Salvo essas excepções, o amortecimento do Tipo está altura do que se exige nem familiar para os percursos do quotidiano, com uma boa relação conforto/dinâmica. Por fim, abordar a sempre importante questão dos consumos, ponto em que o Tipo podia ter sido mais simpático. Considerando todo o ensaio, em circuito misto, a média não foge muito dos 7 l/100 km. Mas se não o tirarmos da cidade, vai ser difícil ver o computador de bordo marcar menos de 8 l/100 km.
Uma solução diferente
Já não é a primeira vez que vemos uma marca adoptar esta solução. Também a Volvo, na geração S60 anterior, apostou numa versão “crossover” para a carroçaria berlina, quando o mais comum seria na mais versátil station wagon. E se no exemplo da Volvo, o fracasso do S60 Cross Country (imagino eu, porque até hoje vi dois e um deles foi o que ensaiei) pôde ser compensado pela versão homóloga na carrinha, no caso do Tipo a fórmula Cross tem mesmo de funcionar com este 5 portas, sendo exclusiva desta carroçaria. Sou sincero, preferia ter a roupagem Cross na station wagon ou, pelo menos, ter essa opção, mas é inegável o bom resultado conseguido pela FIAT a nível estético. Mas mais importante do que isso, é a evolução sentida neste ensaio. E, agora sim, faz sentido falar do preço deste Tipo Cross em Laranja Paprika, com, por exemplo, acesso e arranque sem chave, carregador sem fios para smartphone, assistente de faixa de rodagem e fárois LED. São 25.380 euros.