Peugeot 308 Hybrid 225 GT Pack – O sucesso está garantido, aposto
Não posso dizer que a anterior geração do Peugeot 308 seja um automóvel que conheça como a palma da minha mão. Conduzi-o, por mais do que uma vez, e nele fui passageiro, variadíssimas vezes, ou o 308 não fosse um dos modelos preferidos dos serviços de transporte em viatura descaracterizada. Reconheço-lhe inúmeras qualidades e o condutor português, certamente, também. Isto porque estão por todo o lado, sendo, garantidamente, um dos modelos favoritos do nosso mercado. Esta nova geração tem, por isso, uma grande responsabilidade pela frente. Por outro lado, aposto que terá, igualmente, uma carreira de sucesso.
Baseando-me nas reacções das pessoas com quem me cruzei, bem como nas palavras de outras com quem tive oportunidade de falar, o visual do novo 308 agrada. Muito. E, admita-se, é fácil de perceber porquê. Bem sei que o preto, apesar de lhe assentar muito bem, retira-lhe contraste e é mais difícil de apreciar todos os elementos e pormenores elaborados que os designers da Peugeot “encaixaram” na carroçaria, mas a sua presença é inquestionável. Seja pela iluminação diurna, pela linha de cintura elevada ou até mesmo pelo novo emblema da Peugeot, este é mais um leão que não passará despercebido junto do cliente português. Nem quero imaginar quando a ainda muito apreciada station wagon surgir no mercado.
Começar por cima
Para este primeiro contacto com o 308, a Peugeot disponibilizou-me um topo de gama. Se é para conhecer o novo 308, que seja com tudo o que ele tem para oferecer. Calhou-me, por isso, a motorização Hybrid de 225 cavalos. Assim, potência não me faltou, número que resulta da combinação do motor eléctrico de 110 cavalos com o 1.6 Puretech, a gasolina, de 180 cavalos. O andamento acima da média – 235 km/h de velocidade máxima e cerca de 7,5 segundos para cumprir o arranque de 0-100 km/h – nem é o que mais impressiona, mas sim a resposta imediata ao acelerador, fruto do contributo dos electrões neste primeiro 308 híbrido da história.
Quanto a autonomia eléctrica, não consegui percorrer os 60 quilómetros declarados pela Peugeot, mas os 50 que fiz, chegam perfeitamente para as minhas necessidades diárias. Se tivesse facilidade de carregamento, o 308 cumpria. E depois de esgotada a bateria, fiz os restantes percursos em modo híbrido, deixando o sistema regenerar e utilizar a energia de forma autónoma. Nestas condições, e depois de percorridos cerca de 200 quilómetros, o computador de bordo mostrava uma média de 7,3 l/100 km. Nada mau, considerando que os 225 cavalos são bastante convidativos e foram, por vezes, utilizados para por à prova o chassis do 308. Fiz, inclusivamente, vários percursos citadinos em que durante mais de 50% do tempo, o 308 andou em modo “furtivo”.
A direito ou a curvar, muito competente
Faço a este Peugeot um elogio que normalmente aplico à sua rival Renault, pois encontrei neste novo 308 um automóvel cujo amortecimento da suspensão me pareceu, quase sempre, quer em piso degradado ou sobre outros mais suaves, a rolar em autoestrada ou a exigir mais do chassis, muito bem afinado. O 308 não conta com amortecimento variável, mas o equilíbrio conseguido entre conforto e dinâmica merece destaque. Rola de forma subtil e curva de forma controlada, pisando o asfalto com robustez, de uma forma, diria, crescida, digna de um verdadeiro Automóvel. Gostei, verdadeiramente, das sensações transmitidas pelo novo 308. Seguro e confortável, mas ao mesmo tempo ágil e dinâmico.
Mas, ao volante, nem tudo são boas notícias no novo 308. Pelo menos para mim. Visualmente, o i-cockpit é fantástico e de qualidade indiscutível. O posicionamento semi-premium da Peugeot está aqui, também, bem patente. Mas apesar de esteticamente original e tecnologicamente recheado, uma vez mais, não me senti confortável ao volante. Algo que é, para mim, essencial. Os bancos são estupendos – com aquecimento e massagens, imagine-se – e o volante conta com bastante regulação, mas não consegui encontrar uma configuração ideal para que, neste automóvel, me “sentisse em casa”. Gosto do volante em posição elevada, perto do peito, de forma a conduzir com os braços ligeiramente flectidos. Mas assim o pequeno volante tapa por completo o painel de instrumentos e isso é algo que ainda tolero menos. Baixei-o o mais que pude, mas o facto de ficar mais próximo das pernas do que acho confortável, obrigou-me a chegar o banco para trás e a conduzir demasiado esticado. Tudo para conseguir ver, quase na totalidade, o que o lindíssimo painel de instrumentos digital 3D tinha para me mostrar.
Cresceu, mas podia crescer mais
O novo 308 continua a assentar sobre a plataforma EMP2, nesta geração esticada em cerca de 55 milímetros com vista a beneficiar, entre outras coisas, a habitabilidade. No entanto, ao sentar-me no banco de trás, esses benefícios não foram assim tão notórios. É certo que ter-me-ia dado jeito ter por perto um 308 da geração anterior para fazer a comparação, mas os 4 dedos de folga medidos nos joelhos e acima da cabeça pareceram-me algo curtos. O ambiente desportivo, com materiais escuros e janelas baixas, também não ajudaram na sensação de espaço, admito. Já a bagageira conta com 361 litros, um pouco menos que os 412 litros oferecidos pelas versões puramente a combustão, sem com isso limitar uma utilização familiar no dia-a-dia.
Tratando-se da versão GT Pack, o recheio é, como esperado, vasto. Não lhe falta o carregamento sem fios para smartphones, a iluminação full LED adaptativa, alerta de ângulo morto, alerta de trânsito transversal traseiro, bem como as jantes de 18 polegadas. Já o Pack Drive Assist Plus de condução semi-autónoma custa 200 € adicionais, o tecto de abrir panorâmico outros 950 €, o pack eléctrico e de massagens mais 1000 €, o sistema de som Focal mais 850 € e a câmara 360 graus adiciona 350 € ao preço final, valor que se coloca nos 45.750 € considerando os 550 € pedidos pela cor Preto Perla Nera. Barato? Efectivamente não o é, mas a oferta é vasta e competente, quer a nível da motorização, da condução, do equipamento e da qualidade geral.
Bem-nascido, mas com arestas a limar
O novo Peugeot 308 tem um bom futuro pela frente. Não tenho quaisquer dúvidas disso. Evoluiu em todos os sentidos e aderiu à essencial electrificação. O design é um dos seus pontos fortes, algo em que a Peugeot se tem vindo a destacar, mas também o seu inteligente posicionamento no mercado, acima das marcas generalistas, mas abaixo das ditas premium, aponta os seus produtos aos clientes que procuram qualidade acima da média e que conseguem ver além do valor da imagem de marca ou do da herança de um símbolo, algo que a Peugeot, diga-se, tem, igualmente, para dar e vender.
Mantém igualmente uma aposta em motores a gasolina e Diesel para responder a todo o tipo de necessidades e prepara-se para receber na gama a versátil station wagon. Uma versão 100% eléctrica está, também, a caminho. O 308 tem, por isso, tudo para liderar o segmento. Mas elementos como o i-cockpit, que pode não “funcionar” para todos os condutores e que merece, a meu ver, ser repensado a nível ergonómico, podem deixar potenciais compradores indecisos. Eu ficaria. E isso é o maior elogio que posso fazer ao novo Peugeot 308. O facto de não me sentir totalmente confortável ao volante é motivo mais do que suficiente para não comprar um automóvel. Mas não ficar completamente agradado e, ainda assim, considerá-lo uma compra acertada, estando disposto a esquecer algo tão importante, atesta bem as restantes qualidades e argumentos deste automóvel.