Jeep Wrangler 4xe PHEV – Pelo meio da selva, indetectável
Um dos mais impressionantes automóveis que já conduzi e, igualmente, um dos menos eficientes, foi recentemente alvo da inevitável transformação que a todos os modelos calhará, num futuro a breve, médio ou longo prazo, a da electrificação. São poucos os automóveis como o Jeep Wrangler, verdadeiros veículos todo-o-terreno com indiscutíveis capacidades para o fora de estrada com que os convencionais SUV podem apenas sonhar.
Não é uma proposta inédita no mercado, existindo outros modelos que são, embora mais pequenos e menos espectaculares, também, “puros e duros” na hora de explorar terreno desconhecido. O Wrangler, porém, consegue agora fazê-lo em quase absoluto silêncio. Continua impressionante, mas agora ainda mais porque está muito mais eficiente.
O mesmo de sempre, felizmente
Inconfundivelmente Wrangler e ainda bem. Fiel às suas linhas de sempre, foi para mim um prazer passar uns dias na sua companhia e dele poder desfrutar, mesmo quando parado. Este belíssimo verde é, na minha opinião, uma das melhores cores para o Wrangler. Integrado na paisagem certa, é quase impossível não o deixar bem na fotografia.
Porém, ainda que os desafios a que o submeti tenham sido, na verdade, pouco exigentes para as suas enormes capacidades, não o levei para o meio da natureza apenas para lhe proporcionar um cenário onde melhor se inserisse e, neste caso, se camuflasse. Mas sim porque é fora do alcatrão que melhor se desfruta do espírito libertador de um Wrangler, ainda para mais quando equipado com um novo propulsor híbrido plug-in que, segundo a Jeep, lhe permite percorrer até 50 quilómetros em modo eléctrico.
Mesmo não tendo conseguido atingir a autonomia declarada, não posso não ficar impressionado com os 46 quilómetros que acumulei antes de ouvir o motor a gasolina entrar em cena. Usufruí, inclusivamente, desse silêncio no meio da serra, em modo furtivo, de janelas abertas, deixando os sons da natureza entrar, apenas interrompidos pelos pneus a rolar sobre a terra e os galhos secos que fui esmagando à sua passagem. Não tenho muita experiência em todo-o-terreno, para não dizer praticamente nenhuma, mas esta foi uma sensação totalmente nova para mim.
Para os mais aventureiros e experientes, está lá o sistema de tracção 4×4 Command-Trac, os eixos reforçados, redutoras e um diferencial traseiro autoblocante que fazem deste Jeep uma verdadeira arma. Acredito que sejam poucos os sítios onde este novo Wrangler 4xe não possa ir. Isto fora das cidades, claro, porque em ambiente urbano, as limitações revelam-se. Não do Wrangler propriamente dito, mas das cidades, onde não é, de todo, aconselhável atirá-lo para ruelas e parques de estacionamento dignos de provas de perícia. Não quero, com isto, dizer o Wrangler é intimidante de guiar, longe disso, mas não há como esconder a sua dimensão.
Números impressionam
Sobre o alcatrão das pequenas deslocações e voltinhas do dia-a-dia, e já depois de esgotada a bateria de 17,3 kWh, este gigante acumulou mais de 300 quilómetros de percurso e a média de consumo no computador de bordo não passou dos 9 litros/100 km. Pode não impressionar um condutor de um híbrido de segmento B com 100 cavalos disponíveis debaixo do pé, mas é preciso ver que estamos na presença de um automóvel muito diferente, grande, pesado e potente. E já que potência é assunto, o condutor do Wrangler 4xe tem disponíveis 380 cavalos, bem como quase 640 Nm de binário. Força e poder de aceleração não lhe faltam, mas este não é um veículo para quem tem pressa. Desfrutei, bastante mais, ao conduzi-lo tranquilamente, de braço na janela, sentado confortavelmente no primeiro andar, num habitáculo recheado de equipamento cuja construção robusta espelha na perfeição aquela transmitida pela carroçaria e pela herança do nome Wrangler.
A bordo, nota positiva, também, para o conforto de rolamento, com uma suspensão e muita borracha que absorvem praticamente tudo o que possa surgir no caminho. A velocidade mais elevada, os ruídos aerodinâmicos são, como seria de esperar, mais notórios, “amplificados”, também, pela capacidade deste 4xe circular até 130 km/h em modo zero emissões.
Mas pior é o ruído de funcionamento do propulsor híbrido quando puxamos pelas rotações do motor dois litros turbo, a gasolina. Bem sei que estando na presença de um Wrangler, a expressão “refinamento” ganha uma outra dimensão, mas tratando-se do híbrido 4xe, parece-me sensata a crítica à insuficiente insonorização, com o motor a revelar-se muito sonoro e áspero sob aceleração. Por outro lado, gostei bastante da discrição com que o sistema gere o arranque e saída de cena do motor de quatro cilindros, bem como do comportamento da caixa automática de 8 velocidades.
O preço também impressiona…
O Wrangler 4xe não é, obviamente, um híbrido plug-in para o consumidor comum. Um nome histórico que conta agora com os argumentos de uma bem-vinda electrificação, cujos benefícios se fazem notar nos consumos, na performance e no seu desempenho fora de estrada – sendo possível desfrutar da tracção integral em modo 100% eléctrico – mas continua a ser, e ainda bem, na sua essência, um Wrangler, um veículo muito especial.
Imponente por fora e espaçoso por dentro, promete levar, em conforto e segurança, uma família ou grupo de amigos até ao destino mais longínquo e impensável. Promete e fá-lo-á, quase de certeza. Porque este Wrangler é, muito provavelmente, o melhor de sempre. O mais rápido. O mais recheado. O mais competente. E, sem dúvida alguma, o mais eficiente. E isto tudo tem um preço, claro, um número que começa nos 78 100 euros e que chega aos 82 500 euros deste lindíssimo “AJ90QG” do parque de imprensa da Jeep.
Preciso de o ter? Não, não preciso. Se gostava de o ter? Gostava muito. E isso é que o que torna o Jeep Wrangler tão especial. Não é, para o típico condutor, o automóvel de que este precisa. Mas é, para muitos, um dos que gostava de ter. Se, por um lado, é verdade que são raros os automóveis com as capacidades do Wrangler, por outro, são também cada vez menos aqueles que se tornam objectos de culto e de desejo. O Jeep Wrangler pertence, com toda a justiça, a esse restrito grupo.