Ford SuperVan, Capítulo 4: Alta-voltagem!
O que têm em comum os anos de 1971, 1984, 1995 e 2022? Em todos foi desvendada ao mundo uma SuperVan, denominação que a Ford atribui aos mais exuberantes, poderosos e estratosféricos furgões Transit, quase ao patamar de super-heróis do universo Marvel. Se a original tinha cerca de 400 cv retirados de um bloco V8, a mais recente – mostrada ao mundo há dias – tem nada menos do que 2.000 equídeos, inerentes a uma dotação 100% eléctrica, com co-assinatura da Ford Performance e da STARD.
É impossível cruzarmo-nos com um destes exemplares nas estradas, já que não foram criados para andarem por aí a fazer entregas urbanas, mas se tal eventualmente acontecesse seria, decerto, uma visão por demais fugaz, quase ao nível do “será que vi o que penso que vi?” se as mesmas nos ultrapassassem nas nossas deslocações do quotidiano.
Desde 1965, ano em que foi apresentada a Transit original, que a Ford tem dado ao mundo toda uma vasta linha furgões que, nas suas múltiplas gerações e variantes associadas, se tornaram referências nas estradas, acumulando, desde então, volumes de vendas na ordem de alguns – bastantes mesmo – milhões de unidades, distribuídas pelo planeta. No extremo oposto dessa contabilidade surgem as chamadas Transit SuperVan, unidades únicas que, em períodos distintos da história da marca e da própria indústria, surpreendem o planeta pelas suas características, digamos, muito peculiares. Detalhe em comum é o facto de todas as quatro SuperVan da Ford terem feito a sua estreia em solo britânico, ou não fosse a Transit, durante um longo período da sua história, um produto exclusivamente “made in UK” (presentemente também já se fazem na Turquia).
E passaram a ser quatro as Transit com o selo “SuperVan”, agora que surgiu a mais recente, um exemplar 100% eléctrico desvendado ao mundo há dias, com uns interessantes 2.000 cv de potência!
Transit SuperVan 4: A era da electrificação
Depois de três Supervan com motores térmicos derivados das corridas de circuito, a Ford apresentou agora a Ford Pro Electric SuperVan, um modelo com performances quase estratosféricas e que sublinha o enorme empenho que a marca está a realizar em termos de eletrificação.
Este impressionante veículo 100% elétrico foi desenvolvido em segredo pela equipa global da Ford Performance e pela STARD, empresa austríaca especializada em veículos de competição e viaturas de competição eletrificadas, ficando as linhas exteriores a cargo da equipa de Design da Ford em Colónia (Alemanha), resultando numa proposta que atinge as mais elevadas performances de sempre de um furgão Ford.
Sobre um chassis concebido para o efeito assentam quatro motores elétricos, uma bateria com refrigeração líquida de 50 kWh e um sistema de controlo específico, conjugação que resulta numa potência na ordem dos 2.000 cv e 1.800 Nm de binário, valores instantâneos que lhe permitem uma aceleração dos 0 aos 100 km/h… inferior a dois segundos! São 1.470 kW, cerca de 1.000 mais do que a potência do V8 Cosworth HB que equipava a SuperVan 3.
Destinada, tal como as suas antecessoras, a promover um produto – no caso a nova geração 100% eléctrica E-Transit Custom – a sua estreia pública ocorreu há dias no Goodwood Festival of Speed 2022, conceituado evento que decorreu no Reino Unido. As suas impressionantes credenciais estendem-se ao interior, dotado, tal como no produto à venda nos concessionários da marca, com tecnologia Ford SYNC 4, touchscreen integrado na cabina e funcionalidades adicionais para controlo das suas aptidões únicas, incluindo os Modos de Condução selecionáveis e travagem regenerativa, semelhantes às dos veículos elétricos Ford de produção.
“A possibilidade de fazer parte da icónica história das Supervan e recriar o que será uma SuperVan do século XXI, foi uma oportunidade de sonho”, reiterou Amko Leenarts, Director de Design da Ford da Europa. “O quarto capítulo da história das Supervan foi concebido para ser o mais rápido e o mais radical até agora, mantendo, ao mesmo tempo, todo o ADN da Transit. As proporções são uma versão mais musculada do conceito que desenvolvemos para a E-Transit Custom, e a barra de luz frontal cria uma expressão futurista, fazendo da SuperVan Elétrica a expressão máxima da linguagem de design da Transit.”
Veja o seu poder de aceleração neste vídeo oficial:
Se quiser conhecer mais em detalhe este portento eléctrico de 2.000 cv / 1.470 kW, assista a esta pequena apresentação. Pode, ainda, assistir à sua evolução em Goodwood, traçado onde foi o quinto veículo mais rápido do fim de semana, no conceituado Time Shootout.
Supervan: Um historial que remonta a 1971
A primeira SuperVan surgiu em 1971, num encontro de motorsport realizado no circuito britânico de Brands Hatch, num produto que a Terry Dury Racing fez “para a Ford of Britain Truck Sales”, tal como se podia ler na sua carroçaria. Escondido no interior uma Transit Mk 1 estava um bloco V8 da Ford, montado em posição central sobre um chassis de um GT40 vencedor de Le Mans. Com uns (à altura) impensáveis 400 cv, esta peculiar Transit poderia atingir uma velocidade máxima na ordem dos 240 km/h, algo difícil de conseguir pois as elevações e oscilações da carroçaria no arranque e, depois, em aceleração, limitavam-lhe as pretensões.
A fórmula foi elevada em 1984 a outro patamar, uma SuperVan 2 (de base Transit Mk 2) que, ao contrário do exemplar anterior, de carroçaria em chapa, recorria a uma estrutura em fibra de vidro, dando-lhe um mais diminuto peso e todo um outro look. Lá dentro batia outro V8 como coração, bloco Cosworth DFL derivado do usado no Ford C100, carro do extinto Grupo C do então chamado Campeonato do Mundial de Sport-Protótipos, soprando 590 CV e atingindo os 280 km/h de velocidade máxima. A sua concepção foi partilhada entre a Ford e a Auto Racing Technology e a sua estreia fez-se no GP de Camiões de Donington.
Depois, em 1994, qual Pokémon que evolui de forma, a SuperVan 2 tomou umas quantas bombinhas e cresceu para uma SuperVan3. Objetivo: promover as vendas da versão de estrada da Transit Mk 3, então em fase de lançamento. Surgindo no conceituado Salão de Birmingham, tinha uma outra particularidade, a proporção, num conceito construído à escala de 7 para 8 do modelo original. Sob uma carroçaria que parecida saída de um filme da era espacial, começou por esconder um bloco Cosworth HB, com 650 cv, derivado dos motores de F1 da época, num trabalho da DRL Engineering of Suffolk, mecânica que em 2004 ver-se-ia substituída por outra mais suave, um V6 Ford-Cosworth da série Pro Sports 3000, trabalho que ficou a cargo da Sporting and Historic Car Engineers, de Bicester.
Fotos: Oficiais / Ford, M-Sport e Goodwood Road & Racing