Honda HR-V e:HEV – Não é, felizmente, apenas mais um
Num mundo cujas cidades são dominadas por modelos crossover cada vez mais idênticos entre si e nem sempre mais práticos do que os utilitários sobre os quais “nasceram”, ter passado alguns dias na companhia do novo Honda HR-V foi uma inesperada lufada de ar fresco numa agenda, também ela, com mais SUV e crossovers do que gostaria. Encontrar, no aguerrido, mas pouco entusiasmante, segmento dos crossovers urbanos um modelo com uma estética um pouco “fora da caixa”, bem como com um verdadeiro sentido prático, acabou por resultar numa boa surpresa. Gosto que o Honda HR-V tente ser diferente.
Design
Bonito para uns, demasiado irreverente para outros, a verdade é que a Honda conseguiu dar ao HR-V um estilo distinto, diferente do que é habitual encontrar no segmento. Diria que o elemento com maior responsabilidade nesse aspecto é a original grelha dianteira, um dos componentes que mais identidade dá a um automóvel e que, neste caso, em posição muito vertical, assume uma relevância ainda maior. Mais atrás, o HR-V adopta uma postura mais dinâmica, quer com a descida acentuada do vidro, quer, também, com a solução de esconder os puxadores das portas de trás. A cor Sand Khaki Pearl, uma opção sem custos, combinada com o tejadilho preto, funciona muitíssimo bem no HR-V. Já os elementos coloridos nas embaladeiras e grelha são, a meu ver, dispensáveis.
Habitáculo
No interior, apesar de combinar, como é habitual no segmento, materiais agradáveis ao toque com outros de menor qualidade, gostei bastante da sensação global de solidez, superior, por exemplo, à do Civic. Mas mais do que isso, gostei do ambiente a bordo. Da combinação de cores do tablier e bancos, da leitura clara do painel e de toques originais como a variação de cores nos comandos do ar condicionado ao ajustar a temperatura. O infotainment é, também, uma grande evolução relativamente ao que a Honda propôs durante demasiado tempo nos seus automóveis.
Condução
Já da posição de condução não gostei. Mesmo considerando as vantagens que uma colocação mais elevada traz a nível de visibilidade, achei-a sempre demasiado alta. Talvez seja bom para compensar o tamanho exagerado dos espelhos retrovisores, mas preferia estar sentado mais abaixo. Em tudo o resto, o HR-V destaca-se pela facilidade de utilização e conforto oferecido. A suspensão está plenamente orientada nesse sentido, proporcionando ao HR-V um comportamento são e seguro, e que rapidamente mostra que prefere ritmos mais tranquilos do que andamentos mais rápidos e exigentes, mais em linha com a eficiência a que o seu propulsor híbrido aponta.
Motor
O motor pouco se ouve, funcionando com suavidade enquanto produz a energia que alimenta os dois motores eléctricos. Por outro lado, pode, também, sair de cena quando o HR-V tem energia suficiente na bateria para circular em modo eléctrico. Assim, e com algum juízo no pé direito, é fácil manter a média de consumo abaixo dos 5 lt/100 km neste HR-V e:HEV. Porém, se o ritmo aumenta ou o apontamos às vias rápidas e autoestradas, altura em que o motor 1.5 litros a gasolina também envia potência directamente às rodas da frente, são de esperar consumos um pouco mais elevados, bem como um ruído de motor bastante notório.
Versatilidade
No que diz respeito ao banco de trás, não há como não ficar impressionado com o espaço oferecido, quer para a cabeça, mas principalmente para as pernas, sendo inclusivamente possível, para alguns, cruzar a perna. As portas de trás não dispõem de assim tanto espaço para guardar objectos, mas o HR-V compensa com algo que nenhum outro modelo do segmento oferece ao nível da versatilidade e sentido o prático, os bancos mágicos da Honda que, através de um movimento muito simples, podem ser elevados para transportar, por exemplo, uma bicicleta. Tratando-se de um híbrido, a bagageira está longe de oferecer o volume de que a geração anterior dispunha, mas os 335 litros podem ser expandidos com o rebatimento do banco, criando, também, um plano de carga horizontal.
Preço
Chegamos assim àquele que é o maior defeito do novo Honda HR-V, mesmo que não consideremos a versão topo de gama Lifestyle que conduzi: o seu preço. Isto porque a Honda pede por ele 41.750 euros, valor que me parece, apesar de toda a oferta de equipamento, exageradamente alto. E mesmo “descendo” na gama, os 38.250 euros pedidos pelo nível intermédio Advance e os 35.250 euros que custa o Elegance continuam a parecer-me valores que colocam o HR-V numa situação comercialmente desconfortável. Espero estar enganado, uma vez que é uma proposta de inegáveis argumentos e qualidade, mas acho que vão ser poucos os novos HR-V que vamos ver, no futuro, nas nossas estradas. São, aliás, poucos os Honda novos que vamos vendo. Do que melhor se faz, mas do que menos se vende. Triste.