Renault Kangoo Van E-Tech – Depois do Diesel, o eléctrico
Tenho tanta experiência a ensaiar veículos comerciais como a fazer comentário político na TV. Que me recorde, na Garagem, publiquei apenas dois ensaios a modelos de transporte de mercadorias: os novos Renault Kangoo e Express. Não sei, sequer, como os avaliar. Volume disponível e acessibilidade ao compartimento de carga imagino que sejam pontos essenciais. Mas como não tenho experiência de utilização, não vou assumir que o sei fazer. Por isso volto a abordar este contacto com o novo Kangoo – agora em quase absoluto “silêncio eléctrico” – de uma forma diferente, a de tentar perceber se uma bateria de 45 kWh faz mais sentido do que uns 45 litros de gasóleo.
A resposta é fácil: considerando a autonomia declarada de 300 quilómetros para esta nova versão eléctrica, se, logo à partida, precisas de um Kangoo para fazer, pelo menos, 301 quilómetros por dia, então esquece. É óbvio que estou a exagerar na simplificação das “contas”. Podes até não ter onde fazer o carregamento da bateria, não ser conveniente, qualquer coisa. Mas uma coisa é certa: todos os argumentos que diariamente nos “vendem” sobre eficiência, economia e facilidade e conforto de utilização de um veículo elétrico, parecem fazer bastante mais sentido num pequeno furgão de mercadorias como este.
Isto porque a maior parte deles leva a sua intensa vida a fazer distribuição porta a porta. Constantemente a parar, constantemente a arrancar. Percursos pequenos, com alta frequência, a maior parte das vezes em ambiente citadino, onde o tráfego e, consequentemente, a poluição, são maiores. Por isso volto a dizer: um Kangoo eléctrico com 300 quilómetros de autonomia pode até não servir para todos, mas servirá, com certeza, a muitos. Nesse aspecto, estou mais do que convencido que o futuro é “eléctrico”.
Tudo fácil
Quanto à experiência de condução propriamente dita, volto a destacar a facilidade com que o Kangoo se deixar levar. No que diz respeito a visibilidade, ainda que esta seja menos boa junto à base do pilar A, é excelente para trás, graças à presença de um ecrã com óptima resolução que transmite a imagem da câmara traseira. Perfeito para motoristas inexperientes de carrinhas fechadas como eu.
Relativamente a uma versão térmica, é preciso contar com mais 200 kg de peso, mas o baixo centro de gravidade prolonga à versão eléctrica as boas sensações que tive quando conduzi a versão Diesel. Continua ágil e seguro a curvar, mas a capacidade de filtragem da suspensão parece-me inferior, talvez explicada pela maior dureza do amortecimento que visa compensar o aumento de peso. Para o ambiente citadino, para fazer entregas de encomendas e produtos a cada 500 metros, o conforto a bordo é mais do que bom.
O espaçoso habitáculo está repleto de soluções práticas para o dia-a-dia de quem passa imenso tempo neste escritório ambulante. Há inúmeros espaços de arrumação, seja na consola, nas portas, no tejadilho e no excelente porta-luvas estilo gaveta. Por cima do painel de instrumentos há mais um compartimento fechado com tomadas de carga.
Um escritório com rodas
O banco à direita do condutor permite, inclusivamente, transportar dois passageiros, experiência possível, mas que se recomenda curta. O lugar do meio pode ainda ser transformado numa prática mesa de trabalho para, por exemplo, fazer registos das tarefas diárias. Um painel de instrumentos de leitura completa e clara, comandos rotativos para o ar condicionado e o já obrigatório ecrã táctil central completam a oferta de um habitáculo de trabalho funcional onde se está, na verdade, bastante bem instalado.
Com 120 cavalos e 245 Nm de binário, o Kangoo E-Tech mexe-se com a facilidade habitual dos veículos eléctricos, precisando de cerca de 11 segundos para acelerar de 0 a 100 km/h. Mais de 130 km/h não consegue dar, mas também não precisa. Estamos na presença de um veículo de mercadorias, apontado às cidades, lembram-se? Através do manípulo da transmissão, é possível variar a intensidade da regeneração de energia, ainda que, mesmo no modo mais intenso, esta nunca seja suficiente para imobilizar o Kangoo.
Autonomia e preço
No que diz respeito a autonomia, a Renault declara perto de 300 quilómetros para uma carga completa da bateria de 45 kWh e considerando o meu consumo médio de 16,5 kWh/100 km, os cerca de 270 quilómetros “teóricos” não ficam assim tão longe. Com o modo ECO ligado, e conduzindo com mais juízo no pé, consegui 14,5 kWh/100 km. Passando ao preço, o cenário piora consideravelmente. Mas piora porque, não sendo eu comprador, não sendo um utilizador regular de um Kangoo a combustão, não tenho noção de custos de utilização.
Porém, aposto que fazendo um investimento numa wallbox de carregamento, esse investimento será recuperado não só pelo custo da energia, bem como pela quase total ausência de manutenção de um propulsor eléctrico. Tudo isto para dizer que este Kangoo com 120 cavalos alimentados “a electrões” está disponível a partir de 40.040 € quando equipado com carregador de 11 kW, superando em quase 15 mil € o motor Diesel mais barato, com apenas 75 cavalos. Façam-se as contas, mas repito: nestas condições, um eléctrico faz todo o sentido.