Citroën C5 X Hybrid 225 – André Gustave ficaria orgulhoso
É verdade que, actualmente, “os tempos são outros”. As necessidades dos automobilistas são diferentes e as das marcas, para sobreviverem ou serem bem-sucedidas na sempre intensa guerrilha comercial, também. Inseridas em grandes grupos automóveis, as marcas partilham plataformas, motores, tecnologia e soluções para o fabrico dos seus modelos que lhes permitem reduzir custos de desenvolvimento e produção, mas que, por outro, dificultam ou colocam um maior desafio à concepção de automóveis diferenciadores.
Diferente
Com o seu novo topo de gama, o C5 X, a Citroën teve muito trabalho para atingir esse objectivo a nível estético, mas conseguiu-o. Mistura os genes de uma berlina, com a praticidade de uma station wagon e ainda assume, um pouco, a postura de um SUV. Não sou eu que o digo. Quem o diz é a comunicação da Citroën, mas percebo onde querem chegar. Desta forma, o C5 X aponta a quem já não quer um SUV, mas que não prescinde de muito espaço para passageiros e bagagem, bem como de uma maior altura livre ao solo e uma posição de condução, consequentemente, um pouco mais acima.
E a verdade é que o C5 X causa muito impacto, mesmo nesta muito bonita, mas discreta, cor de carroçaria. Como o meu querido Avô o poria, uma “grande espada”. E sim, com mais de 4,8 metros de comprimento e quase 2,8 metros de distância entre eixos, a primeira ideia com que se fica é exactamente essa. A de um grande automóvel, possante, confortável e, como veremos, incrivelmente espaçoso. E o que dizer, quando visto de perfil, da zona do terceiro pilar para trás? Serei eu o único a ver ali qualquer coisa de XM ou CX? Gosto muito de encontrar estes elementos que nos remetem aos modelos antecessores da linhagem.
Grandioso
O interior é exactamente aquilo que se espera encontrar depois de nos apercebermos da real dimensão do C5 X. Usar a expressão “à grande e à francesa” é um verdadeiro cliché, mas é igualmente irresistível aplicá-lo porque é essa a primeira sensação, principalmente ao aceder ao banco traseiro. Ali, o espaço em altura é apenas adequado. Cumpre, sem deslumbrar. Mas no que diz respeito a espaço para pernas, “sai-me” internamente outro cliché francês, um “mon dieu, ce n’est pas possible!”.
Por ali, aliás, o espaço livre é tal forma grande que tenho, inclusivamente, de me desencostar para conseguir tocar no banco do condutor, definido previamente para a minha posição de condução. Incrível. Quanto ao desenho do banco em si, gostaria de ter encontrado um assento que proporcionasse um melhor apoio às pernas e ao centro, ainda que seja possível usar o espaço, o lugar também não é muito confortável. Dos lugares traseiros é também possível regular eletricamente o banco do passageiro da frente, ou para garantir ainda mais espaço daquele lado, ou para fazer uma maldade a quem viajar à frente.
Luxos
Passando para a frente, e mantendo-me na análise dos bancos, a oferta do C5 X é muito completa. Regulações eléctricas, funções de aquecimento e ventilação e, ainda, de massagem fazem parte da lista de equipamento deste “AO60HP” do parque de imprensa da Citroën. Luxos que complementam uma construção focada no máximo conforto e que recorre a uma espessa espuma de enchimento e a napa de alta densidade para proporcionar uma experiência verdadeiramente relaxante. Os bancos Advanced Comfort são a primeira de várias camadas que compõem o extremo conforto sentido a bordo.
Porém, embora estejamos na presença do topo de gama da Citroën, recheado de equipamento e com uma habitabilidade quase imbatível, não se pense que o C5 X é um automóvel de luxo. E digo-o, até, para o proteger de comentários injustos que vão apontar a presença de materiais menos nobres na zona inferior do tablier ou nas menos acessíveis da consola e portas ou ainda da iluminação ambiente para os passageiros da frente que, estranhamente, não se prolonga aos lugares traseiros. Para quem este “luxo” não chega, terá de ponderar, por exemplo, um mais requintado e exclusivo DS 9.
Digital
O painel de instrumentos digital também não vai impressionar aqueles que os avaliam pelas suas dimensões, sendo neste aspecto bastante contido. Porém, não lhe falta toda a informação que se espera encontrar, sendo ainda complementado por um head up display de grandes dimensões. Bem maior que o painel de instrumentos é o ecrã do infotainment, com boa definição, de fácil utilização e que, felizmente, não acumula todos os comandos da climatização, cuja consola dedicada, mais baixo, é, a meu ver, um ponto muito positivo a bordo do C5 X. Tomadas USB-C são quatro e não falta, igualmente, uma zona de carregamento indutivo de smartphones.
Encontrar uma boa posição de condução é bastante fácil e neste aspecto, a maior crítica negativa que posso fazer é a visibilidade traseira bastante limitada pela colocação muito horizontal do vidro traseiro. Porém, ao fim de poucos quilómetros, já não há visibilidade reduzida que me incomode. Rapidamente me rendi ao conforto proporcionado pela suspensão. Talvez seja um sinal da passagem do tempo, de que os “vintes” já lá vão e de que os “entas” se aproximam, mas já aprecio tanto um desportivo, intenso e desconfortável, como uma berlina relaxante como o C5 X.
Suspensão
Os amortecedores pilotados – cuja rigidez varia segundo três níveis, de acordo com o modo de condução seleccionado: Eléctrico, Híbrido, Conforto e Sport; bem como consoante a velocidade instantânea – em conjunto com os batentes hidráulicos fazem magia ao circular sobre algumas estradas que são normalmente sinónimo de “pancada”. Na sua afinação mais branda, o C5 X rola com uma subtileza que é verdadeiramente surpreendente, fazendo maravilhas pelo conforto ao embalar-nos num suave balancear da carroçaria que se traduz, imagino, na tal sensação de viajar num “tapete voador”. Como não gosto de alturas, prefiro, claramente o C5 X. Porém, nesta configuração, a suspensão revela, por vezes, alguma dificuldade em digerir as irregularidades mais repentinas, como lombas e depressões abruptas.
No modo desportivo, o C5 X mantém o foco no conforto, mas são bem notórias as diferenças, com movimentos de carroçaria mais controlados e uma maior rigidez que nunca é, felizmente, suficiente para fazer deste grande Citroën um automóvel ágil e desportivo. O que seria se assim fosse. No entanto, os benefícios dinâmicos fazem-se sentir se o objectivo for explorar o andamento que o propulsor híbrido consegue impor ao C5 X. Pelo meio fica uma afinação de amortecimento, lá está, intermédia, que é talvez a mais indicada para um maior número de situações, em que o efeito “tapete voador” e, no outro extremo, o maior apuro dinâmico não estão tão presentes, mas em que o C5 X se mantém muito confortável e mais contido de movimentos.
Potente
O motor híbrido plug-in de 225 cavalos já é conhecido de outros modelos do grupo, mas foi no CX 5 que consegui a maior autonomia eléctrica de todos os ensaios prévios: 63 quilómetros sem consumir gasolina, quando a Citroën declara “apenas” 55 quilómetros. E apesar do C5 X preferir ritmos calmos, impressiona pela capacidade de aceleração, com os 180 cavalos do motor 1.6 Turbo a serem muito bem complementados pelos 110 alimentados a electrões. Não só se nota o contributo eléctrico na imediata disponibilidade a baixa rotação, como também no empurrão dado à mecânica nos mais altos regimes, quando a combustão começa, normalmente, a perder fôlego, levando o motor ao corte de injecção com alguma facilidade, diga-se.
Nas curvas, o C5 X pode até “pendurar-se” na sua suspensão macia, mas fá-las com segurança, excepto se abusarmos na carga sobre as rodas da frente, quer na velocidade de entrada, quer à saída, sob aceleração, em que o muito pulmão disponível facilmente supera a aderência dos ecológicos Michelin e-Primacy.
O refinamento do funcionamento do motor é outro dos pontos positivos, argumento que complementa a boa insonorização do habitáculo, apenas interrompida por uma ligeira ressonância de rolamento que se faz ouvir lá mais atrás. Porém, desfrutar do C5 X em ambiente de autoestrada, com a caixa de 8 velocidades na sua relação mais elevada a manter o quatro cilindros a respirar às 2.000 rpm, é uma experiência incrivelmente serena. Mais ainda se a bateria permitir fazê-lo em modo puramente eléctrico, até aos 135 km/h. Relativamente a consumos em modo híbrido, tudo vai depender dos percursos e do estilo de condução, mas tanto consegui chegar a destinos com médias de 6 l/100 km, como registar médias de 8 l/100 km em ambiente citadino. As viagens são normalmente concluídas com recurso ao modo eléctrico entre 40 a 60% do tempo.
Citroën
O novo C5 X é um digno sucessor da histórica linhagem de grandes berlinas e executivos da Citroën. Inserido no universo Stellantis, o C5 X tem a dose de irreverência e diferenciação possível para os dias que correm, em que muito daquilo que o constitui é partilhado com inúmeros outros modelos. Mas mesmo sem a loucura estilística ou tecnológica de outrora, o C5 X é prova de que a Citroën continua a ser um dos símbolos mais originais e genuínos desta indústria, uma das marcas que mais respeita a sua longa e rica tradição. Mais do que ser um produto pleno de qualidades e argumentos, é um verdadeiro Citroën. Essa é, na minha opinião, a conclusão mais importante a retirar deste trabalho.