RM Sotheby’s bate recorde de vendas anuais em 2022. Estes são os 10 automóveis mais valiosos do ano
Quem nunca se deliciou ao acompanhar os leilões de automóveis da RM Sotheby’s ou a folhear, digitalmente, os impressionantes catálogos cheios de histórias de alguns dos automóveis mais apaixonantes do planeta? Não posso contabilizar o número de horas “perdidas” a fazê-lo, mas com a ajuda da RM Sotheby’s posso, isso sim, dizer-vos que em 2022 a leiloeira de automóveis bateu o seu recorde de vendas anuais com um valor de 925 milhões de dólares, qualquer coisa como 866 milhões de euros.
Só o leilão de Monterey, na Califórnia, EUA, realizado no mês de Agosto – talvez o mais importante do seu calendário – terminou com um valor acumulado de vendas de cerca de 225 milhões de euros, bem como com 95% de todos os lotes vendidos. O Ferrari 410 Sport Spider by Scaglietti de 1955 foi o automóvel mais caro vendido no evento, com o martelo a cair por uns impressionantes 22 milhões de dólares, cerca de 20,6 milhões de euros.
Voltemos, então, aos resultados globais de 2022 e à lista dos 10 automóveis mais valiosos leiloados pela RM Sotheby’s, um top 10 onde o nome Ferrari teima em repetir-se, embora não lidere este muito especial grupo de automóveis.
No 10º lugar surge o Talbot Lago T150-C SS Teardrop Coupé by Figoni et Falaschi, vendido por 7,265 milhões de dólares, também no leilão de Monterey, no estado da Califórnia. Cerca de 6,8 milhões de euros que compraram um belíssimo exemplar de 1938 ao melhor estilo Art Deco produzido pelo carroçador parisiense Figoni et Falaschi. Um sobrevivente, depois de ter estado adormecido durante 50 anos na Alemanha de Leste até à sua libertação em 1989, este Goutte d’Eau coupé com número de chassis 90117 é o único produzido com o mundo da competição em mente.
No 9º lugar está o Ferrari 375 MM Spider by Scaglietti, outro automóvel vendido no leilão de Monterey e que seguiu viagem para a sua nova casa por 7,485 milhões de dólares, cerca de 7 milhões de euros. Este exemplar de 1953 é também o nono de apenas 26 produzidos no total e tem uma ligação especial a Portugal, tendo sido propriedade do portuense Casemiro de Oliveira, piloto que chegou a bater, por exemplo, Tazio Nuvolari numa corrida realizada em 1937 no Circuito Internacional de Vila Real.
Segue-se outro Ferrari, desta vez o 375 America Vignale Cabriolet de 1954, outro exemplar da marca italiana que trocou de mãos no leilão realizado na Califórnia depois dos 7,595 milhões de dólares terem, também eles, trocado de mãos. Segundo consta, o único 375 America com carroçaria cabriolet “by Vignale” dos doze que foram produzidos no total. Entregue em 1954 pelo próprio Enzo Ferrari a Bianca Colizzi, filha de Guiseppe Colizzi, famoso director cinematográfico italiano.
E no 7º lugar, para vossa grande surpresa, outro “Cavallino Rampante”, desta vez o 275 GTB GTB/C by Scaglietti de 1966, vendido pelo mesmo valor que o 375 America Vignale Cabriolet e, novamente, no evento de Monterey. Foi alvo de um restauro que durou três anos, terminado em 2017, e seguiu viagem acompanhado de toda a documentação da época, seja de fábrica e do seu histórico de competição, bem como de registos fotográficos e de todas as intervenções realizadas. Neste top 10, está no meu top 3.
Prometo interromper, em breve, o recurso às palavras “Ferrari” e “Scaglietti”, mas o 6º lugar é ocupado pelo Ferrari 500 TRC Spider by Scaglietti, vendido também em Monterey por 7,815 milhões de dólares. É o exemplar número dezoito de apenas dezanove fabricados e competiu na edição de 1957 das 24 Horas de Le Mans, conduzido por Richie Ginther e François Picard. Entre 1957 e 1963 participou em 30 provas e conquistou dezoito pódios. Ideal para participar em eventos como o Mille Miglia Storica e o Le Mans Classic. Alinho nisso.
A abrir o top 5 está o impressionante Hispano-Suiza H6C “Tulipwood” Torpedo by Nieuport-Astra de 1924. Só o nome vale os 9,245 milhões de dólares que o seu novo dono pagou por ele no leilão realizado na Califórnia. Sim, Monterey é mesmo o “leilão do ano” da RM Sotheby’s. Encomendado pelo gentleman racer André Dubonnet, competiu nas provas Targa Florio e Coppa Florio de 1924, terminando, respetivamente, na 6ª e 5ª posições. A belíssima carroçaria é feita de mogno. Arte sobre rodas e, segundo a RM Sotheby’s, o Hispano-Suiza mais famoso do mundo.
No quarto lugar, e a aproximar-se dos 10 milhões de dólares, está o Mercedes-Benz 540 K Special Roadster by Sindelfingen. Vendido em Monterey por 9,27 milhões de euros, este 540 K foi originalmente entregue ao Rei Mohammed Zahir Shah do Afeganistão. Apesar de contar com algum trabalho de aperfeiçoamento estético, nunca foi restaurado. Esta foi a sua primeira aparição num leilão e percorreu pouco mais de 20 mil quilómetros desde 1937. Um de apenas três Special Roadsters sobreviventes com carroçaria do tipo long tail e com pneu suplente coberto. Absolutamente irresistível.
No lugar mais baixo do pódio, um Ferrari muito especial, o monolugar de Fórmula 1 F2003-GA, vendido por quase 14 milhões de euros no Sotheby’s Luxury Week em Genebra. Basta dizer que venceu cinco provas na época de 2003 com Michael Schumacher ao volante, que alcançou um pódio no Mónaco e no Grande Prémio de França, bem como três pole positions. Foi, também, o monolugar em que Schumacher garantiu o seu sexto título de Campeão do Mundo de Fórmula 1. Fiquemos por aqui.
O sexto e último Ferrari deste top 10, o 410 Sport Spider by Scaglietti mencionado no início deste artigo e vendido por 20,6 milhões de euros, ocupa a segunda posição. É um de apenas dois 410 Sport de fábrica equipados com o motor V12 de 4,9 litros com duas velas por cilindro e foi conduzido por Juan Manuel Fangio na edição de 1956 da prova 1000 km de Buenos Aires, inscrito, claro, pela Scuderia Ferrari. Foi, também, conduzido por Carroll Shelby e Phil Hill, entre outros. Participou em cerca de 40 corridas entre 1956 e 1958, tendo conquistado onze vitórias e dezanove pódios.
E no topo da lista está o soberbo Mercedes-Benz 300 SLP “Uhlenhaut Coupé”, o segundo de apenas duas transformações feitas sobre os 300 SLR de competição em formato coupé. O veículo de estrada mais veloz da sua época, o Coupé concebido por Rudolf Uhlenhaut era capaz de atingir os 290 km/h. Estamos em 1955, relembro. Este incrível exemplar foi mantido pela Mercedes-Benz desde novo e foi, assim e por esta ocasião, vendido pela primeira vez na história. Quanto ao valor pelo qual foi vendido, podem somar os dos nove automóveis aqui incluídos e acima mencionados e ainda assim esse total não chega ao número mágico deste Uhlenhaut, vendido por 135 milhões de euros. Bom 2023.
Fotografias: RM Sotheby’s