Quatro dias com o SEAT Ibiza e senti-me com 20 anos outra vez
Quem me conhece, sabe que o nome Ibiza tem direito a um cantinho especial no meu mundo automóvel. Foi o automóvel em que cresci, o primeiro que conduzi, o que me foi oferecido depois de ter tirado a carta e também aquele de nunca me despedirei. Mas o Ibiza não é o meu companheiro do dia-a-dia há já mais de quatro anos. Parece pouco, mas é muito tempo para mim. Foram muitos anos, muitos quilómetros, muitas boas memórias e, claro, alguns disparates – misturados com uma boa dose de responsabilidade – inerentes aos “vintes” ali pelo meio.
A apenas um ano de completar 40 anos de vida, o futuro do Ibiza continua algo incerto. Não vou, nem quero entrar por aí ou este texto nada mais seria do que uma provável despedida na forma de um pedido directo aos responsáveis máximos do grupo para prolongarem a vida da marca e dos seus icónicos modelos. A electrificação tarda em chegar, mas continuo com alguma esperança. Com este artigo, quero sim, celebrar o Ibiza, pois os quatro dias que passei com a mais recente geração, fizeram-me recuar no tempo e sentir, novamente, alguma daquela saudável rebeldia que nos acompanha antes da fase adulta tomar por completo o lugar da juventude.
É esse o poder do Ibiza. O nome pode já ter quase 39 anos de mercado, mas a jovialidade do design e o dinamismo da condução são os mesmos de sempre, fazendo dos meus 37 anos uns meros 20 e poucos enquanto o conduzi. Reavivou-me memórias, boas e menos boas, mas dei por mim a ouvir música bem alta, de braço na janela e a fazer as rotundas ligeiramente mais depressa do que nos dizem ser o ideal na escola de condução. Esta geração pode até já contar com alguns anos de mercado, mas continua a ser uma referência em termos de comportamento no seu segmento, divertido de conduzir e com uma agilidade acima da média. Porque conduzir não tem, nem deve, de ser um sacrifício. Mais do que uma necessidade, é, muitas vezes, uma terapia.
No que toca a novidades, a última actualização de que o Ibiza foi alvo veio corrigir os pontos em que esta geração mais pecava, como os materiais usados no tablier, elemento que foi totalmente redesenhado e que conta, igualmente, com um novo sistema de infotainment. Ainda por dentro, o Ibiza continua a destacar-se pela habitabilidade, tal como sempre o fez desde a primeira geração lançada em 1984. Um utilitário com argumentos de um compacto familiar, algo que a grande bagageira também comprova. Claro que continuam a existir coisas a melhorar. Um bom exemplo disso são as portas traseiras, muito despidas, sem uma zona almofadada para os cotovelos e cujo “bater” ao fechar nunca soa muito agradável, não transmitindo a mesma robustez presente em tudo o resto que o compõe.
O motor 1.0 TSI continua a dar cartas, destacando-se pela boa disponibilidade e entrega linear da potência. Estes 110 cavalos parecem, por vezes, ser um pouco mais e chegam perfeitamente para se usufruir das muitas capacidades do chassis do Ibiza, cujo amortecimento rijo pode não agradar aos condutores e passageiros com outras prioridades, mas nunca chega a ser desconfortável. A caixa DSG é outro dos seus argumentos, cujo funcionamento rápido e suave contribui para as boas sensações ao andar depressa, bem como para a facilidade de condução em ambiente citadino, ao enfrentar o trânsito. O consumo registado neste ensaio foi de 7,5 l/100 km, valor que espelha mais a rebeldia temporária do condutor do que a já reconhecida eficiência do motor TSI.
Não tenho dúvidas de que este é o melhor Ibiza de sempre. É bonito (pelo menos para mim), bem equipado, com um motor potente e eficiente, com a boa habitabilidade que sempre o caracterizou e com a imagem de marca jovem e dinâmica da SEAT que sempre definiu os seus produtos. O meu receio é que este seja também o último de sempre, pois só acredito na sua continuidade quando vir o novo, 100% eléctrico, ou não, à minha frente. Quis, por isso, relembrá-lo, conduzi-lo outra vez como outrora fiz diariamente. Foram quatro dias excelentes na sua companhia, até que encontrei o meu antigo Ibiza à venda num site de classificados, quatro anos depois, pouco estimado e alterado com pouco gosto. Tenho saudades do meu Ibiza. Tenho saudades dos meus 20 anos.