Mercedes-Benz GLC 220 d 4Matic: A combinação perfeita?

Um SUV, de marca premium, com motor a gasóleo. Esta curta frase inicial resume, de uma forma excessivamente simplificada, a estrela, no sentido literal da palavra, deste ensaio: o Mercedes-Benz GLC 220 d 4Matic.

Juntar as palavras “SUV”, “premium” e “gasóleo” seria estratégia de venda garantidamente suficiente para convencer muitos condutores portugueses, algo que seria, por outro lado, uma forma tremendamente injusta de resumir as muitas qualidades deste automóvel.

Por fora e por dentro do GLC

O GLC é SUV do qual é fácil gostar. Globalmente, prescinde de uma inspiração desportiva e mais dinâmica para no seu lugar surgirem linhas mais clássicas e arredondadas que lhe dão, sem dúvida alguma, uma adequada proporção e a elegância que se espera de um SUV familiar Mercedes-Benz. O toque desportivo é, neste caso, responsabilidade “AMG” e complementa bem o visual exterior. Esteticamente, apenas não aprovo os estribos, um opcional que ficava, claramente, fora da minha configuração, por muito úteis que sejam.

A bordo, são também muitos os elogios a fazer ao GLC. Apesar da muita tecnologia presente e do ambiente algo escuro desta unidade, tenho de reconhecer que me senti num habitáculo acolhedor e muito confortável. A qualidade dos materiais é elevada e dá, no que diz respeito a conforto, um grande contributo nesse sentido. O interior do GLC é, assim, um ótimo sítio para se estar, seja ao volante, seja como passageiro.

A digitalização é um dos destaques, com o painel de instrumentos e o grande ecrã tátil central a chamarem para si as atenções. O grafismo e tempo de resposta do sistema de infotainment é excelente e o número de funcionalidades enorme, mas também por isso, por acumular imensos comandos – incluindo os da climatização – exige alguma habituação para dele se retirar o melhor proveito.

Espaço não falta

As portas traseiras não são especialmente grandes, mas estão longe de dificultar o acesso. Nesse aspeto, é pior o desenho do guarda-lamas, algo intrusivo. Já instalado no banco de trás, considerando a minha estatura – 1,8 metros – e posição de condução, o espaço para pernas e cabeça surpreende. O banco podia oferecer um pouco mais de suporte para as pernas, mas a verdade é que a folga para os joelhos é suficiente para as relaxar e assim compensar o assento curto.

O lugar central, não sendo particularmente confortável devido ao apoio de braços recolhido no encosto do banco, não me pareceu tão estreito como noutros modelos. Não há espaço em largura suficiente para três passageiros viajarem cómodos, mas para trajetos curtos, pareceu-me melhor do que é usual encontrar.

A bagageira convence quer pela capacidade – 600 litros – quer pelo seu formato regular, muito utilizável. No que diz respeito a versatilidade, o rebatimento dos encostos do banco traseiro pode ser feito de forma elétrica a partir da mala, criando um plano de carga horizontal. A altura deste pode igualmente ser ajustada graças à regulação da altura da suspensão pneumática a partir da mala. Debaixo do piso há ainda um útil compartimento adicional para arrumar objetos.

Diesel e dos bons

O enorme capot esconde um motor Diesel 2.0 litros de quatro cilindros com 197 cavalos e 440 Nm de binário. Num mundo de números por vezes absurdos, os deste 220 d não vão deixar os “aceleras” impressionados, mas é um motor que combina muitíssimo bem com o espírito estradista e familiar do GLC. Neste ensaio, em circuito misto, registou um consumo final de 6,4 l/100 km, apenas mais um exemplo de que a tecnologia Diesel tem ainda muito para dar no que à combustão interna diz respeito.

O motor está equipado com um sistema mild hybrid 48 V com um motor de arranque/gerador que consegue assistir o motor, mas nunca propulsionar o GLC em exclusivo. O funcionamento impressiona pela eficácia e pela rapidez com que se adapta, tirando o motor Diesel de cena e regenerando energia ao rolar livremente, com a intensidade da regeneração a variar consoante o trânsito detetado ou o tipo de via (por exemplo, se a navegação souber que se aproxima uma rotunda, regenera mais energia, desacelerando o GLC com maior intensidade).

A caixa automática de 9 velocidades revelou um funcionamento muito correto e certamente à altura das exigências do tipo de condutor a quem o GLC procura apelar. As passagens são suaves e suficientemente rápidas e uma longa nona relação é garantia de que o motor Diesel rola em autoestrada com “pulsação baixa”, aliando-se à muito boa insonorização para que este GLC seja um autêntico devorador de quilómetros.

Suspensão pneumática faz a diferença

Equipado com suspensão Airmatic com elementos pneumáticos no lugar das molas metálicas, este GLC é capaz de oferecer um conforto de rolamento ímpar, absorvendo com eficácia quase todas as irregularidades, mas brilhando nas baixas frequências tão típicas das onduladas estradas nacionais e por vezes abatidas autoestradas. Selecionando-se o modo mais dinâmico, o GLC não passa a ser um SUV desportivo, mas o amortecimento mais decidido surpreende por conseguir revelar uma maior agilidade que as duas toneladas não deixavam antever.

Outro grande argumento deste GLC em particular é o sistema de quatro rodas direcionais, cujos benefícios não só se fazem notar na superior agilidade acima mencionada, como num mais reduzido diâmetro de viragem. Este último favorece, e muito, o desempenho do GLC em ambiente citadino, parecendo retirar centímetros a um SUV que mede praticamente 4,75 metros de comprimento.

Preço base: 55.279 €

Não há – com exceção do preço – um aspeto que se destaque pela negativa neste “SUV premium Diesel” e o seu excelente desempenho comercial é disso prova. O design convence, a abordagem premium é indiscutível e este Diesel eletrificado não só revelou ter “músculo” como mostrou ser eficiente. E mais: num mundo de SUV que não gostam de se aventurar fora de estrada, a tração 4Matic e o pack “Off Road” deste GLC deixam-no mais bem preparado para alguns desses desafios além-alcatrão. O preço final, incluindo opcionais e impostos, é de 97.789 €. Muito bom, mas muito caro. Ou muito caro, mas muito bom.