Dakar: o original e o outro
Como os mais atentos a estas coisas da competição deverão saber, estão na estrada (ou, mais propriamente, nos desertos) e em simultâneo, dois “Dakar”, o original e o outro, chamemos-lhe assim. O primeiro que tem a patente registada, permitindo que a prova circule por diferentes pontos do planeta, e o segundo que só não se chama assim porque aquela mesma trademark não o permite, embora seja este o que verdadeiramente termina nas areias do Lac Rose, paredes meias com a capital do Senegal, Dakar!
É algo que acontece há 12 anos a esta parte, a realização, praticamente em simultâneo, de duas importantes maratonas de todo-o-terreno, em dois pontos distintos do planeta: o “Dakar”, este ano na sua 42ª edição e pela primeira vez na Arábia Saudita, jornada que arrancou no dia 5 de Janeiro e terminará no próximo dia 17, ligando Jeddah e Qiddiyah, atravessando os desertos do país; e o denominado “Africa Eco Race”, prova cuja 12ª edição saiu do Mónaco no passado dia 4, para uma edição que atravessa grande parte dos desertos originais – este ano de Marrocos, Mauritânia e Senegal – terminando no próximo dia 19… em Dakar!
De acordo com a organização da prova africana, é este o evento que perpetua o legado de Thierry Sabine, o Pai do outrora “Paris/Dakar” – ver a respectiva menção no poster oficial – dando razão aos fervorosos defensores de que o “Dakar” é a norte de África e não noutro qualquer lugar da Terra. Se os pilotos das equipas oficiais têm, obrigatoriamente, que seguir as linhas mestras do que define o marketing dos construtores que representam, alertando-os que a marca “Dakar” tem muito maior retorno mediático e financeiro do que a recuperada e mais jovem maratona africana, outros há, nomeadamente os aventureiros individuais, que por uma questão de budget de menor envergadura preferem/podem participar nesta que se realiza para lá dos mares do Algarve.
Mesmo compreendendo todas essas questões subliminares, ainda assim continuo a sentir alguma estranheza a esta coisa de uma prova com uma determinada conotação, mas que apenas a abarca na sua essência. É assim como se, um dia, acordasse de manhã e me dissessem – ou, como dita a moda, visse nas redes sociais – que as “24 Horas de Le Mans” se iria mudar para Suzuka, ou que a “Indy 500” saísse de Indianápolis para outra oval qualquer nos States, o “GP do Mónaco” passasse a correr-se no Principado do Liechtenstein, ou o “Rallye Monte-Carlo” rumasse, por exemplo, à Normandia, mantendo, todas elas as suas denominações originais.
Não me faz, por isso, qualquer sentido falar-se em “Dakar” e pensar-se na América do Sul, onde a prova esteve na última década, ou nos desertos da Arábia Saudita, que lhe servem de actual palco (e nos próximos 5 anos), mas o peso monetário fala mais alto e a realidade é mesmo esta, havendo, presentemente, centenas de pilotos em ambos os palcos, a lutar ao sol e por um lugar sob esse astro, por uma posição que lhes enriqueça o palmarés, ajudando-os – e as marcas/patrocinadores que representam – a encarar outros voos maiores no futuro!
São estas as duas provas a que eu e a ‘Garagem’ iremos regressar em algumas das próximas prosas, para o potencial enriquecimento do conhecimento dos nossos recentes leitores. Por isso, mantém-te desse lado e, pelo caminho, convida mais uns quantos amigos, familiares e conhecidos para nos seguir. Esta cada vez mais tua ‘Garagem’ está a crescer, num processo em que contamos contigo!
Fotos: AIFA/Jorge Cunha, Red Bull, Dakar e Africa Eco Race