Cupra Formentor VZ5: Cinco cilindros, cinco estrelas
Conduzi o bem-sucedido Cupra Formentor com todas as motorizações disponíveis. Das versões de acesso equipadas com motor TDI ou TSI com 150 cavalos ao mais entusiasmante 2.0 TSI VZ de 310 cavalos, passando ainda pelas também velozes, mas eletrificadas, versões híbridas plug-in. Mas faltava-me um. Faltava-me este: O soberbo VZ5. Agora já não falta. Porém, que falta me faz.
Não vou falar da estética, de que gosto, nem do que equipamento, que abunda. Não vou abordar a habitabilidade – bem melhor do que a de muitos modelos menos desportivos – e muito menos dar relevância ao elevado consumo de combustível. Mas vou falar das sensações que transmite, da forma especial como nos faz sentir quando estamos ao volante e da saudade que vamos ter, no futuro, de motores como este 2.5 TSI de cinco cilindros.
Desde logo pelo som. É inconfundível. As diferentes arquiteturas mecânicas têm a sua própria sonoridade. Como “doente” que sou, aprecio todas. Até um mais vulgar motor de quatro cilindros em linha pode soar bem, mas adicionar um quinto cilindro à pauta, bem como, neste caso, um instrumento de sopro forçado, transforma por completo a musicalidade da experiência de condução. E se há aqui associação que é de imediato feita, é ao Audi Quattro. É inevitável. Gutural, possante, intimidante, até. Mas, ao mesmo tempo, soa também nobre. Sem a artificialidade dos “tiros” da moda.
E, claro, a potência. Gerada pela sobrealimentação, sim, mas que, apesar de impressionante, surge e é entregue de forma linear. É um motor “cheio”, cuja maior cilindrada lhe permite mostrar-se cedo e provocar um salto no conta-rotações logo às 2500 rpm, prolongando-se a sua subida até bem perto do redline, sem que o motor mostre quaisquer sinais de desconforto. Gosta de fazer rotação e logo a seguir vem a relação seguinte, repetindo-se o processo com uma rapidez para a qual nem sempre temos a estrada ideal. Não resisti, também, a experimentar a função launch control, com o Formentor a espremer a borracha contra o alcatrão nas saídas fulminantes até aos 100 km/h em qualquer coisa como 4 segundos. Um vício tremendo, garanto-vos.
Procurei uma estrada mais convidativa e desafiante em ambiente seguro onde pudesse explorar um melhor a dinâmica e a potência disponível. Selecionado o modo Cupra e já nas primeiras curvas, não há como não ficar impressionado pela velocidade a que é possível fazê-las, bem como pela capacidade de tração para delas sair em aceleração. Desligando-se as ajudas eletrónicas, é até possível em algumas delas provocar uma ligeira deriva do eixo traseiro. Não deixa de ser curioso como um automóvel tão estável, tão “colado”, pode também ser provocado, ajustado.
A direção rápida e os travões poderosos garantem que, por um lado, não é preciso dar muito ângulo de volante para o inserir em curva e dela sair e, por outro, temos toda a potência de desaceleração disponível para as abordar com confiança. Anda muito, sim, mas trava à altura do que anda. Recordo um momento em plena Serra de Montejunto em que uma pequena depressão no asfalto fez uma das rodas perder momentaneamente o contato com o alcatrão em aceleração, provocando uma subida de rotação e a consequente reação sonora, com o cinco cilindros a elevar a voz, um grito pontual e zangado que me fez sentir ao volante de um carro de ralis, não de um SUV familiar.
Não sei até que ponto o incremento em performance justifica, ou não, a compra destes 390 cavalos relativamente ao também mais do que suficientemente rápido VZ de 310 cavalos. São qualquer coisa como 30 mil euros de diferença. Porém, não há como negar a exclusividade deste VZ5, cujos argumentos da base Formentor são complementados por uma mecânica plena de textura, um motor que tem tanto de possante e musculado, como de nobreza de carácter e identidade. Dá gosto explorá-lo, dá prazer ouvi-lo. Algo que não vamos poder fazer eternamente, isso é certo.
Conduzi automóveis muito bons e muito relevantes para o mercado em 2023. Não elegi o melhor, nem o mais significativo e não vou aqui dizer que o VZ5 é melhor do que este ou aquele ou que, com esta veia desportiva e capacidades dinâmicas, é um modelo importante para o condutor comum. Porque de comum, o VZ5 tem pouco. É, acima de tudo, um automóvel especial, de performance acima da média, com um motor cheio de personalidade e para um condutor que, tal como o VZ5, se quer sentir especial.