Ensaio Total: MG4 Electric Extended Range
Seria estranho se não estivesse muito curioso para conhecer o MG4. Não só é um dos modelos que representa o regresso da icónica marca britânica ao nosso mercado, como também é, de toda a atual e já bem completa gama da marca, aquele que, esteticamente, mais me agrada. Gosto do arrojo estilístico e das cores vivas disponíveis.
Gosto, assim, que seja diferente e que se destaque com facilidade nas nossas estradas. A dianteira dá-lhe uma identidade agressiva e distinta q.b., mas o ponto alto do design, goste-se ou não, está na traseira, onde o original spoiler bipartido se conjuga com uma também algo irreverente iluminação para garantir que este MG 4 não se confunda com qualquer um outro modelo compacto. Com praticamente 4,3 metros de comprimento e mais de 1,8 metros de largura, o MG 4 é bastante maior do que parece, mantendo-se suficientemente compacto para que a sua utilização em ambiente citadino continue a fazer-se de forma bastante cómoda. A distância entre eixos ligeiramente acima dos 2,7 metros proporciona, como veremos um pouco mais abaixo, claros benefícios ao nível do espaço interior.
O MG4, no interior
Já no habitáculo, é imediata a sensação de que, visualmente, este não apresenta a mesma coragem e irreverência, mostrando-se, pelos padrões atuais, bem mais convencional. A apresentação é discreta, mas a digitalização está presente na dose certa. Quer o painel de instrumentos, quer o infotainment, contam com ecrãs de dimensão adequada, mas a experiência sairia beneficiada com carateres ligeiramente maiores, facilitando a leitura dos mesmos. A qualidade da imagem da câmara traseira também podia ter um pouco mais de definição e o ambiente muito escuro da configuração em teste também sairia beneficiada pelo pack Grey Interior que custa 650 euros.
Ainda no interior, destaque para a quase total ausência de ruídos de uma unidade já relativamente rodada e cujos materiais são maioritariamente rijos. Neste aspeto, o MG 4 merecia, no entanto, uma consola com plásticos de qualidade superior, estando muito exposta aos olhos e mãos uma zona que é claramente melhorável. A zona central avançada é muito prática, contando com espaço para carregar o smartphone logo atrás do seletor circular da transmissão, mas o apoio de braço é algo incómodo na hora de fixar o cinto de segurança.
Conforto, atrás e à frente
Passando ao banco traseiro, o MG 4 é, posso adiantar, uma proposta com vários argumentos. As portas são grandes, o que facilita o acesso e, por exemplo, a colocação das volumosas cadeirinhas dos passageiros mais pequenos e o espaço disponível para pernas e cabeça garante que dois adultos viajem comodamente. As janelas traseiras abrem na sua totalidade, algo que é, atualmente, raro e as costas dos bancos da frente contam com bolsos práticos para colocar o smartphone e outros acessórios. Com 363 litros, a bagageira não é enorme, mas cumpre bem a sua função, sendo complementada pela versatilidade do fundo amovível.
Os bancos dianteiros são muito confortáveis e a posição de condução convence pela positiva. Já a visibilidade traseira é algo limitada pelo design futurista do MG 4, mas é um pequeno preço a pagar pelo argumento da diferenciação estética. Destaque, também, para os botões personalizáveis no volante, sendo possível configurá-los, por exemplo, para controlar os modos de condução – Neve, Eco, Moderado, Desporto e Personalizado – e a regeneração de energia em três níveis de intensidade, bem como um modo adaptável, ainda que, neste último, não tenha sentido grande variabilidade na capacidade de transformar a energia cinética em elétrica. É ainda possível conduzir o MG4 Electric em modo “one pedal”, o que se agradece principalmente no trânsito citadino.
Ao volante
O MG4 é construído com base na plataforma modular MSP da Saic Motors e nesta versão Extended Range recorre a uma bateria de 77 kWh, a maior de uma gama que também disponibiliza versões de 51 e 64 kWh. O motor, colocado no eixo traseiro, disponibiliza 245 cv e 350 Nm. A MG declara uma autonomia de 520 quilómetros, valor que, considerando a média combinada de 15,2 kWh/100 km deste ensaio, é quase atingível, pelo menos em teoria, com a matemática a permitir prever uma autonomia real de 506 quilómetros. E quando chegar a hora de carregar a bateria, a versão Extended Range permite fazê-lo a uma potência máxima de 144 kW ou a 11 kW através do carregador interno para AC.
Ao volante, a experiência destaca-se pela facilidade com que o MG4 acelera, “despachando” o sprint de 0 a 100 km/h em 6,5 segundos – a velocidade máxima é de 180 km/h – bem como pelo correto acerto de suspensão, capaz de combinar um muito adequado nível de conforto com boa agilidade e movimentos contidos da carroçaria sem recorrer a amortecimento variável. E tratando-se de um elétrico de tração traseira, a condução é também por isso um pouco mais divertida, com o pedal de travão a contribuir igualmente com boas sensações, com resposta e conjugação da travagem regenerativa e hidráulica bem calibradas.
Em cidade, destaque positivo para a excelente brecagem, argumento igualmente útil na hora de fazer uma inversão de marcha. Já fora do ambiente citadino, e ainda que não seja uma crítica comprometedora do seu correto desempenho em autoestrada, o MG4 revelou algum excesso de ruído de rolamento e ressonância no habitáculo, mesmo a velocidades abaixo do limite legal. Há, sem dúvida, margem para melhorar neste aspeto, principalmente neste Extended Range, onde a grande autonomia coloca o MG4 no grupo dos elétricos aptos a percorrer grandes distâncias em vias mais rápidas.
Boa opção e bom preço
Alvo fácil de muitas críticas – quase sempre pouco sustentadas – pelas suas origens orientais, encontrei no MG4 Electric um produto competente. A gama abrangente em combinações de motor e bateria garante que todos os clientes encontrarão uma resposta às suas necessidades, desde os que raramente saem da cidade, até aos que passam algum tempo em autoestrada, não esquecendo os fãs das acelerações elétricas fulminantes, para quem a versão XPOWER será, sem dúvida, a indicada.
O MG4 Electric transmitiu boas sensações ao volante, foi comedido nos consumos e disponibiliza espaço e conforto muito adequados às necessidades de uma pequena família adepta de automóveis elétricos. Há coisas a melhorar, seja nos materiais ou, por exemplo, na insonorização, mas são mais os “mais” do que os “menos”. O design, aprove-se ou não, tem personalidade e o preço de 43.840 euros é muito tentador quando comparado com alguma da sua concorrência elétrica de segmento abaixo e com bastante menos potência, autonomia e equipamento. Se consideradas as campanhas atualmente em vigor, o valor a pagar pode mesmo chegar aos 38.657 euros. Muitos argumentos que talvez expliquem o porquê de ter sido, segundo a Jato Dynamics, o quarto elétrico mais vendido na Europa em 2023, com mais de 72 mil unidades entregues.