Será o segmento A importante? É sim. E a KIA, com o Picanto, concorda comigo
Quão importante é o segmento A? Precisamos mesmo de citadinos? Esta foi, inevitavelmente, uma das questões discutidas na apresentação do renovado KIA Picanto. Na minha opinião, sim, precisamos mesmo de citadinos. O segmento A é absolutamente essencial se queremos efetivamente reduzir emissões, mantendo a liberdade de mobilidade que um automóvel particular nos dá. Um “luxo” de acesso cada vez mais difícil, fruto da subida generalizada do preço dos produtos, aos quais o automóvel não é, obviamente, uma exceção. Por esse motivo, um segmento A já não custa atualmente o que custava há uns anos, mas continua a ser a forma mais barata de comprar um automóvel novo.
Para os fabricantes a tarefa não é fácil, reconheço. A legislação é cada vez mais exigente, obrigando-os a dotar os seus modelos mais pequenos com muita da tecnologia dos “crescidos”, aumentando o custo de produção e, assim, reduzindo margens de lucro que no segmento dos citadinos já não é muito convidativa. Fruto desta menor rentabilidade de que depende o seu sucesso enquanto empresa focada nos lucros para crescer ou sobreviver, muitas marcas abandonaram ou preparam-se para abandonar o segmento de acesso ao automóvel. A KIA não. Aplaudo-os, desde já, por isso, ainda antes de passar à análise do atualizado Picanto. E porquê? Porque precisamos de automóveis baratos. Porque muitos de nós viajamos sozinhos na grande parte do tempo. E também porque os automóveis estão exageradamente grandes, comprimindo-se lentamente, todos os dias, para dentro de lugares de estacionamento que não cresceram em cidades com vias perigosamente sobrelotadas.
E que melhor forma há de conquistar clientes do que apostar num produto que era já uma referência na sua categoria, na qual agora a concorrência é ainda mais reduzida? Atualizar o design de forma a acompanhar os produtos mais recentes da gama, reforçar a oferta de equipamento com a tecnologia atualmente indispensável e manter a aposta numa simples e económica motorização a gasolina. Até porque, ainda que o Picanto seja, a meu ver, um grande candidato a receber uma motorização 100% elétrica no futuro, essa não é agora aquela de que as pessoas precisam, não só pelo custo elevado que ainda têm, bem como porque a maior parte dos condutores ficaria dependente de um posto de carregamento público.
Aproveitando, também, a saída de cena do Rio do catálogo da KIA, a marca sul-coreana vê também aqui uma oportunidade do pequeno Picanto apelar aos clientes do segmento acima. E é uma boa abordagem, sem dúvida, até porque com uma carroçaria de cinco portas e um banco traseiro que, dentro das limitações de um veículo com 3,6 metros de comprimento e 2,4 metros de distância entre eixos, consegue acomodar com relativo conforto dois adultos, a diferença para alguns modelos mais compactos do segmento dos utilitários não é assim tão grande. Até a bagageira surpreende pela positiva com os seus 255 litros de volume, espaço extensível a 1.010 litros para o dia em que for preciso transportar a máquina de lavar roupa antiga para a casa de família na “terra”. Nesses dias, com uma longa viagem pela frente, talvez os bancos dianteiros não se mostrem suficientemente confortáveis.
Em frente ao volante, o Picanto oferece ao condutor tudo aquilo de que ele realmente precisa para o seu dia a dia, elementos hoje em dia vistos como essenciais tais como o ar condicionado – com comandos rotativos, “old school”, felizmente – um novo painel de instrumentos digital e um sistema de infotainment com Bluetooth e ligações USB. Ainda que, para já, o Picanto seja apenas proposto num único nível de equipamento Urban, a lista de equipamento de segurança é extensa, incluindo, por exemplo, regulador e limitador de velocidade, assistente de faixa de rodagem, máximos automáticos, alerta de fadiga e travagem automática de emergência. A gama será posteriormente reforçada pelo nível de equipamento GT Line.
Ao volante, o pequeno motor 1.0 MPI com 63 cv e 93 Nm mostra-se quase sempre à altura das exigências. Se o Picanto for carregado ou o ar condicionado estiver a ser utilizado, nota-se o esforço suplementar da mecânica, mas para o dia a dia, nas deslocações de, para e na cidade? É mais do que suficiente, mostrando até alguma “genica” a regimes aos quais não esperava encontrar. Compacto, leve e com um motor adequado, fechei o ensaio com uma média final de 5,1 lt/100 km, numa unidade por mim estreada, com apenas 8 quilómetros no odómetro. A suspensão consegue oferecer uma boa combinação entre conforto e agilidade, complementando os comandos leves do Picanto – direção, pedais e caixa de velocidades, esta última, com tato preciso – para fazer da tão importante facilidade de condução uma constante.
Disponível a partir de 17.500 euros – versão com transmissão automática por mais 1.000 euros – o Picanto é um excelente exemplo do que muitos condutores precisam para as suas necessidades de mobilidade, mesmo que não o assumam. É, também, um produto com argumentos, agora melhorados, com níveis de habitabilidade muito bons para a sua dimensão, equipamento de conforto e segurança adequados às necessidades diárias e os baixos consumos de combustível de que todos precisamos. É urgente descongestionar as cidades, reduzir as emissões e proteger a liberdade de mobilidade individual. Se o pudermos fazer com um dos automóveis mais baratos do mercado, então do ponto de vista do consumidor não consigo perceber como é que a pergunta que coloco no título poderá ter outra resposta que não um enorme e sonoro “sim”.