Renault Scenic E-Tech: Ensaio Total ao “Carro do Ano 2024”
O Scenic está diferente. Muito diferente, para ser mais preciso. Perde a silhueta monovolume e ganha uma motorização elétrica, mas mantém as suas aptidões familiares intactas. No meio de tudo isto, vence o troféu “Carro do Ano 2024” na Europa, o que deixa antever, logo à partida para este ensaio, que a Renault fez bem o seu trabalho.
Design
O design é, como sempre, a avaliação mais subjetiva que posso fazer, mas considerando os “thumbs up” de quem o viu de perto ou a curiosidade que despertou ao passar, está aprovado. É grande, sim – enorme, na verdade, – mas com uma inegável presença em estrada, conseguida não só pelas linhas bem-nascidas, sem exageros estilísticos, bem como por um trabalho exemplar na aplicação da essencial proporcionalidade estética, o que, apesar dos quase 4,5 metros de comprimento e mais de 1,85 metros de largura, lhe dá uma certa impressão de compacidade. Os tons predominantemente escuros da unidade ensaiada podem até não ajudar a destacar a estética do Scenic, mas elevam a sensação de solidez que o seu estilo transmite, ainda mais ampliada, neste caso, pelas jantes de 20 polegadas.


Espaço a bordo
O facto de ser enorme não se faz sentir na forma agradável como se deixa conduzir (já lá vamos) e o benefício que a sua dimensão global – e os 2,785 metros de distância entre eixos – introduz ao nível de conforto a bordo e das cotas de habitabilidade é inquestionável. O ambiente interior é muito agradável, um ótimo sítio para se estar, mais ainda, calculo, neste Esprit Alpine, onde a inspiração desportiva, aplicada na dose certa, incorpora uma sensação de exclusividade que encaixa bem no espírito estradista do reinterpretado conceito do Scenic. O tejadilho Solarbay aumenta a sensação de espaço e permite ajustar eletricamente a sua opacidade, isolando o interior da luz exterior ou inundando-o de iluminação natural.


Aceder ao banco de trás é tarefa fácil graças às grandes portas e ao seu bom ângulo de abertura. Para além de acessibilidade, o Scenic marca também aqui pontos extra por permitir colocar cadeirinhas com facilidade, algo que os pais dos passageiros mais pequenos agradecem. O banco traseiro oferece uma folga significativa para joelhos e cabeça e até o lugar o meio é bastante utilizável, com um assento relativamente confortável e um piso plano que permite colocar os pés junto da consola central. Ainda assim, falta largura atrás que permita viajar a três em verdadeiro conforto durante as viagens mais longas.
A vertente familiar do Scenic é também justificada pela boa bagageira com um total de 545 litros de volume. Infelizmente, pelo menos na unidade ensaiada, o rebatimento do encosto do banco traseiro não permite criar um plano de carga ininterrupto. A bagageira funda beneficia o transporte de objetos mais altos, é certo, mas o degrau relativamente alto prejudica um pouco a colocação ou retirada de objetos mais pesados. Sendo o Scenic um elétrico de tração dianteira, não há bagageira adicional debaixo do capot, mas debaixo do piso da mala há um compartimento muito útil para arrumar os cabos de carregamento. Bem pensado, Renault.
Posição de condução
A posição de condução correta é fácil de definir, ajudada por amplos ajustes e pelos excelentes bancos, neste caso, com função de aquecimento. Em termos de visibilidade, os enormes retrovisores exteriores dificultam um pouco a visão junto à base do pilar A, mas se fossem mais pequenos, destoavam do imponente visual exterior. Este pequeno pormenor é compensado, na avaliação da visibilidade, pelo display do retrovisor interior “alimentado” pela câmara traseira se o condutor assim o pretender.


A digitalização é, do lugar do condutor, um grande destaque. O painel de instrumentos tem uma excelente apresentação e é, como habitual, personalizável. No seu seguimento, mas em posição vertical, ao centro do tablier, está o ecrã tátil de 12” do sistema de infotainment, recheado em funções, mas de funcionamento bastante intuitivo, com Google integrado. A dimensão da superfície tátil ajuda a acertar nos “botões” pretendidos e a qualidade gráfica merecem elogios. A Renault, e bem, decidiu manter controlos convencionais para a climatização.

O seletor da transmissão está colocado atrás do volante, na coluna de direção, e obriga a alguma habituação, pois por ali andam também os comandos do limpa para-brisas (que ativei, inadvertidamente, nos primeiros quilómetros que fiz com o Scenic) e os controlos multimédia. Iniciada a condução, porém, não são precisos muitos minutos para nos apercebermos do quão agradável de utilizar é o Scenic, um familiar fácil de se deixar levar, não só pela suavidade do motor elétrico, mas também pela leveza dos seus comandos.
Ao volante
Obviamente, não lhe faltam os habituais modos de condução, disponíveis através do menu Multisense e que permitem ajustar a resposta do motor, a assistência da direção e a liberdade que a eletrónica dá ao chassis. Com 220 cavalos disponíveis debaixo do pé, o Scenic acelera com vigor mais do que suficiente se assim quisermos, transmitindo segurança ao curvar mais depressa e uma agilidade que chega até a surpreender se considerarmos que pesa um pouco mais de 1900 kg. A velocidade máxima é de 170 km/h e a aceleração de 0 a 100 km/h faz-se em 7,9 segundos.


O novo Scenic é mais um bom exemplo do bom trabalho que a Renault tem por hábito fazer no desenvolvimento dinâmico dos seus modelos, especialmente no que diz respeito ao amortecimento. O Scenic prescinde de amortecimento variável e vive bem sem essa tecnologia, combinando conforto de rolamento e controlo dinâmico de forma exemplar, algo que poucos elétricos, devido ao seu peso elevado, conseguem fazer com eficácia, principalmente se equipados com jantes de grandes dimensões, como é o caso.
Consumo
O computador de bordo mostrava, no início do ensaio, uma autonomia de quase 600 km. Tão elevada autonomia é possível porque o Scenic recorre a uma grande bateria de 87 kWh de capacidade que pode ser carregada a uma potência máxima de 150 kW. A média final combinada de 17 kWh/100 km coloca a autonomia real, ainda que longe dos 625 quilómetros declarados, acima dos 500 quilómetros, um valor que comprova as aptidões de longo curso do Scenic, para as famílias que gostam de viajar em modo 100% elétrico. Ainda no que à energia diz respeito, é possível ajustar a sua regeneração segundo três níveis através das patilhas no volante. É possível desligá-la por completo, mas o modo mais intenso não permite conduzir, pelo menos em todas as ocasiões, com recurso a um pedal apenas. A potência máxima de carregamento suporta por esta versão é de 150 kW.


Scenic: Competência global indiscutível
Longe de mim querer, com este artigo, procurar justificar a vitória do Scenic no mais importante galardão da indústria automóvel. Falta tempo, faltam testes mais exigentes e falta a concorrência para fazer uma comparação justa. Mas se por um lado foi difícil não ter esse prémio em mente ao fazer esta análise ao Scenic, foi bastante fácil compreender o porquê deste lhe ter sido atribuído. Não apenas por ter uma eficiente motorização elétrica e a tão valorizada autonomia, bem como o obrigatório recheio digital e extenso pacote de sistemas de assistência, mas principalmente e de forma inquestionável, pela sua abrangência de capacidades e competência global.


Preços
- Renault Scenic E-Tech elétrico 170 cv – Autonomia Comfort – desde 40.690 euros
- Renault Scenic E-Tech elétrico 220 cv – Grande Autonomia – desde 46.500 euros
- Unidade ensaiada – desde 51.250 euros