À conversa com Frank Krol, CEO da Mitsubishi Motors Europe
Apesar das constantes oscilações nas políticas ambientais definidas e do cenário de incerteza que paira no ar perante as imposições aplicadas aos fabricantes de automóveis, Frank Krol, o responsável máximo da Mitsubishi na Europa considera a exigência da produção de automóveis com emissões reduzidas ou nulas até 2035 como algo muito positivo. No que diz respeito à meta da neutralidade carbónica no setor dos transportes no continente europeu em 2050, não vê como algo possível que a indústria evolua noutra direção que não essa.
Mitsubishi 100% elétrico já em 2025
Apesar da Mitsubishi ser uma marca com vasta experiência em eletrificação, em termos de propostas puramente elétricas, há ainda um caminho significativo a percorrer. Quando confrontado com essa afirmação, Krol relembrou que a marca que lidera foi uma das pioneiras ao lançar um 100% elétrico em 2009, mas que a tecnologia está ainda a evoluir e que é importante analisar o mercado e perceber exatamente em que segmento apostar. Apesar de reconhecer que os custos elevados são ainda um obstáculo para o consumidor, reconhece que esse caminho tem de ser feito pela sua marca e que este não vai ser apenas percorrido com um modelo. No entanto, para já, podemos esperar por um C-SUV 100% elétrico da Mitsubishi já no próximo ano, modelo que partilhará a plataforma da Aliança com, por exemplo, o Renault Scenic, mas que contará com um design mais diferenciador, assumidamente Mitsubishi, com uma abordagem estilística diferente da aplicada às mais recentes gerações do ASX e Colt. O novo modelo elétrico será revelado depois do verão de 2025, garantiu-nos.
Novo Outlander é ponto de viragem na Aliança
Reconhecendo a inequívoca importância da Aliança na estratégia de reentrada da Mitsubishi no mercado europeu, a qual permitiu desenvolver novos produtos em pouco tempo (o que justifica as muitas parecenças com os modelos franceses) para esse regresso ao velho continente, o CEO da marca japonesa na Europa afirma igualmente que o novo Outlander eleva a fasquia em termos de diferenciação. E isso justifica-se precisamente pela estratégia de identidade definida desde o início, mas que agora pôde ser implementada de forma mais notória devido ao maior tempo disponível para se desenvolverem formas de incorporar essa importante diferenciação, algo que é muito comum noutros grupos automóveis, onde plataformas, motores e tecnologias são partilhadas por várias marcas e modelos. Colaborando desde o início no desenvolvimento de novos produtos, com mais tempo, tudo fica mais fácil e é esse o caminho a seguir no futuro, transmitiu-nos.
O que mudou no Outlander PHEV?
Aproveitei a ocasião para tentar perceber, com mais pormenor, o que distingue o Outlander PHEV agora revelado daquele que a Mitsubishi já comercializa há alguns anos do outro lado do Atlântico. “Muito”, respondeu-me Frank Krol, acrescentando que o modelo foi originalmente desenvolvido com o mercado europeu em mente, mas que depois foi decidido não avançar com o seu lançamento. Assim, e de forma a dar resposta às exigências da condução dos clientes europeus, a ritmo quase sempre elevado e com muita utilização em zonas montanhosas, decidiram reformular por completo a bateria, composta por um novo tipo de células e contando igualmente com nova química. A arquitetura eletrónica foi também revista, com funções de conectividade e digitalização a bordo atualizadas, e em termos de equipamento, por exemplo, a iluminação LED matricial é igualmente nova, assim como o são os bancos aquecidos e com função de ventilação e os sistemas de som desenvolvidos em parceria com a Yamaha. Ao nível do design, os para-choques dianteiro e traseiros foram redesenhados de forma a responder às regulamentações europeias de segurança e elementos como a grelha e as jantes são também novos. Em termos de chassis e carroçaria, foram feitas alterações para acomodar não só a nova bateria elétrica, mas também os próprios sistemas áudio da Yamaha.
Versão de sete lugares é tecnicamente possível, mas…
O tema da configuração interior de sete lugares foi inevitavelmente abordado, argumento de que, para já, a quarta geração do Outlander não dispõe. Embora não negue essa possibilidade, até porque tecnicamente conseguem fazê-lo numa fase posterior, Krol reconhece que o segmento do Outlander PHEV é dominado por propostas de cinco lugares, o que justifica a decisão da Mitsubishi Motors Europe. Para além disso, o que se ganha numa configuração que não é verdadeiramente de sete lugares, mas sim de “5+2”, perde-se em flexibilidade na bagageira, onde são precisas soluções para arrumar, por exemplo, o triângulo de emergência e, neste caso, os cabos de carregamento. Não “fecham a porta” à possibilidade, até porque têm noção de que há essa procura, mas a avançar, precisam de pelo menos um ano e meio para implementar as necessárias alterações na suspensão traseira de forma a conseguir lidar com o peso adicional de uma lotação para sete pessoas. Para já, sem essa exigência da parte de um ou mais mercados fortes, como por exemplo o alemão, será pouco provável a MME avançar para o desenvolvimento do Outlander PHEV de sete lugares.
“Masters of plug-in hybrid technology on the Alliance”
Esta foi a resposta do CEO da Mitsubishi Motors Europe quando questionado sobre o motivo pelo qual não usaram mais tecnologia híbrida da Aliança no novo Outlander PHEV. Assumindo-se como a marca que mais domina a tecnologia PHEV, é a própria Mitsubishi que partilha a sua mestria e os seus conhecimentos com as restantes marcas da Aliança. Uma posição de força no seio do grupo que é também reforçada pelos seus investimentos na Ampere, a empresa especializada em elétricos do Grupo Renault. Tudo em nome da flexibilidade – a Mitsubishi não está “presa” à Aliança, podendo desenvolver parcerias adicionais como por exemplo o memorando de entendimento assinado com a Nissan e a Honda para o desenvolvimento de tecnologia e software para veículos eletrificados – e capacidade de adaptação que assumem como essencial numa fase de transição (e alguma incerteza) como a vivida atualmente.
Pick-up está nos planos, mas sem certezas
Quando questionado sobre um hipotético regresso da Mitsubishi ao segmento europeu das pick-up – modelos que são parte integrante do ADN da marca e que representam entre 20 a 25% das suas vendas globais – onde a agora “extinta” L200 goza ainda de uma enorme reputação junto da sua grande legião de fãs, Krol reconhece essa necessidade e assume, também, que têm isso em mente, mas que é absolutamente fulcral tomar a decisão certa em termos da tecnologia de propulsão a aplicar. Uma pergunta para a qual não têm ainda a resposta certa, mas na qual não querem falhar, bem como em aspetos como a capacidade de carga e de reboque, protegendo a imagem de fiabilidade e robustez inerente às suas pick-up. Os responsáveis da marca deixaram também claro que o nome “L200” é essencial e que esse novo modelo terá obrigatoriamente que ser um produto 100% Mitsubishi, ainda que reconheçam as mais-valias de produtos equivalentes na Aliança.
E um regresso à competição, a nível oficial, com a Ralliart?
Depois de afirmar que estão, neste momento, a fazê-lo no mercado asiático, Alex Thomas, o responsável máximo pelo Marketing, Produto e Estratégia de Rede na Mitsubishi Motors Europe, junta-se à conversa para dizer que a marca tem esse desejo, partilhando com Frank Krol o entusiasmo nesse hipotético regresso ao mundo das corridas. Quanto a novos produtos com a assinatura Ralliart, querem garantir que o fazem mantendo a autenticidade do emblemático nome, com modelos que o mereçam ostentar e com uma abordagem que realmente ofereça algo mais ao cliente do que apenas um autocolante decorativo ou designação diferente. Porém, defendem que há que pensar em novas formas de o fazer, porque o mercado europeu já não está focado em modelos como o Pajero que imediatamente se associa ao Dakar ou o Lancer Evolution que tanto sucesso teve nas classificativas do Campeonato do Mundo de Ralis e também porque a eletrificação tem de fazer parte da equação. A competição, asseguram-nos, está-lhes no sangue, e quando voltarem, será para manter a fasquia bem alta, mas o regresso ao continente europeu não será para já.
Identidade “Mitsubishiness” é essencial
Numa indústria cada vez mais pautada pelos chamados “software definied vehicles”, em que a base de desenvolvimento é partilhada por um cada vez maior número de marcas e modelos de forma a reduzir os custos para os fabricantes, a diferenciação será ainda mais difícil de se atingir, pelo que encontrar novas formas de manter o carácter de uma marca ou veículo intatos é muito importante, neste caso, aquilo a que chamam de “Mitsubishiness” e que tentarão proteger com uma identidade de design muito própria, bem como através da própria engenharia, apostando em calibrações específicas que irão contribuir para a riqueza do setor onde a multiplicidade de opções é uma mais-valia para o cliente final, o qual, no caso da Mitsubishi, é especialmente exigente e fiel à marca.