A Ford renovou o Puma e eu sinto-me desiludido
Regressar ao Puma é sempre bom. Já o disse e repito-o: não há no segmento B-SUV outro modelo tão competente e divertido do ponto de vista dinâmico. Mas este novo ensaio ao bem-sucedido crossover da Ford tem outra justificação, pois o Puma foi recentemente alvo de uma atualização que lhe modificou muito ligeiramente a estética exterior, mas que o mudou por completo no habitáculo, quer na sua apresentação, quer na utilização.
Por fora, apenas os mais atentos irão reparar nas óticas com interior redesenhado e na nova colocação da oval azul, agora de maiores dimensões e ao centro da grelha. A Ford decidiu, e bem, não se pôr com invenções e manteve praticamente inalterado o bem-conseguido design exterior do seu modelo, abordagem que, ainda que com um maior número de alterações esperadas, principalmente devido à maior eficiência aerodinâmica exigida, deverá manter na versão 100% elétrica Gen-E que vai lançar ainda este ano.
Debaixo do capot, o Puma aposta exclusivamente no motor 1.0 Ecoboost com tecnologia mild hybrid, disponível nas variantes de 125,155 e 170 cavalos, esta última dedicada ao topo de gama ST. Para este ensaio ao renovado Puma testei-o com a variante intermédia de potência, a qual lhe confere um bom equilíbrio entre consumos moderados – média combinada de 7 lt/100 km – e um andamento muito interessante.
Considerando que este Puma custa “apenas” mais 600 euros do que um outro em tudo equivalente, mas com menos 30 cavalos, não me parece mau negócio. Posto isto, a versão de 125 cavalos chega bem para as “encomendas”. Globalmente, o desempenho da mecânica é muito convincente, mas a caixa automática Powershift revelou alguma falta de suavidade nas manobras e arranques. Também no que à transmissão diz respeito, deixaram de estar disponíveis as patilhas no volante.
Ao nível da condução, as capacidades dinâmicas do Puma estão lá todas. Longe de ser o modelo mais confortável do segmento, o pequeno Ford continua a saber combinar um nível de conforto adequado a uma utilização diária com sensações muito positivas. Ágil e divertido como poucos (ou nenhuns, considerando os seus rivais), o Puma gosta de ser ligeiramente provocado, recompensando o condutor com um eixo dianteiro muito preciso e um posterior verdadeiramente ajustável, mais do que é habitual, mantendo a eletrónica sempre ativa para evitar exageros.
As bonitas linhas exteriores pouco mudaram, os motores e a condução mantêm um nível de desempenho muito bom e o Puma continua a destacar-se, por exemplo, pela ótima bagageira com a versátil MegaBox. Mas nem tudo são boas notícias nesta atualização, pois a Ford decidiu revolucionar o design interior, bem como todo o conceito ergonómico a bordo. E como já antecipei, não foi para melhor.
A avaliação do design depende sempre do gosto de cada um, mas não consigo não ficar com a ideia de que incorporar o novo ecrã central de 12 polegadas foi prioritário, ficando a estética para segundo plano. O salto tecnológico é indiscutível, também no painel de instrumentos, mas o tablier do Puma era, a meu ver, bem-conseguido, proporcional e funcional. Agora é, apenas e só, o resultado da quase obrigatoriedade de seguir o caminho dos grandes ecrãs.
O volante de dois braços não é um círculo perfeito e não só não é esteticamente apelativo, como não proporciona boas sensações nas mãos. A barra de som no topo do tablier, ao estilo do Mustang Mach-E, também não é uma solução feliz do ponto de vista visual. Faltam comandos físicos essenciais e perdeu-se harmonia estética e a desportividade que sempre definiu o caráter do Puma. E perdeu-se, também, qualidade de materiais e de alguns acabamentos.
Excetuando o topo de gama ST, este é o Puma mais caro que podes comprar. A lista de equipamento é extensa, mais ainda se considerados os vários opcionais desta unidade: Pack Tech, Pack Winter, pintura “Fantastic Red” e tejadilho preto, faróis Matrix LED e jantes de liga leve de 19 polegadas, bem como a roda suplente. O preço de cerca de 34 mil euros “dispara” assim para uns ainda menos simpáticos 39 mil euros, valor que dificulta, e muito, a carreira comercial deste Puma num mercado automóvel como o nosso.
Mas permitam-me encerrar este artigo numa nota mais pessoal e menos profissional, dado que via no Puma um sério candidato a tomar o lugar do meu automóvel atual. Nada mais é do que uma opinião, mas foi com alguma tristeza, não o escondo, que confirmei as más decisões tomadas pela Ford no que à atualização do interior diz respeito.
Seja por um claro controlo de custos ou por uma forçada partilha de componentes com outros modelos ou por qualquer outro motivo, reconheço que o contexto atual do setor é delicado. Percebo-o, mas o Puma merece melhor. Uma escolha mais cuidada de materiais e melhores acabamentos (como estava, era claramente superior), bem como uma melhor conjugação da tecnologia incorporada com as soluções estéticas. O Puma gosta de ser conduzido depressa, mas as reuniões da equipa de projeto devem ser levadas com calma. Continuo a ponderar um Puma, mas será, com toda a certeza, uma unidade pré-atualização.