Leilões: Este mundo e o outro por um Ferrari… ou 2… ou 3!
‘Bora gastar uns quantos milhões de dólares? Só para adquirir os três carros cujos valores de licitação foram os maiores de sempre precisaríamos de uns 120 milhões de dólares, coisa pouca numa altura em que nas nossas notícias só se lêem/vêem múltiplos de milhões de dólares, euros, etc… a mudar de mãos sem que tal pareça estranho a quem devia regular a matéria.
Enfim, embora (in)directamente levemos sempre com essas chapadas, afectados que somos por tudo o que se passa no universo financeiro, essa não é, de todo, a guerra da nossa ‘Garagem’, restando-nos a satisfação de podermos ajudar os nossos leitores a sonhar com um EuroMilhões que, um dia, lhes permita entrar numa destas loucuras. Afinal o prémio maior da Santa Casa da Misericórdia já por cá saiu por diversas vezes, o maior das quais foram os 190 milhões de euros conquistados por um anónimo de Castelo Branco, no sorteio de 24 de Outubro 2014, ou os mais de 163,5 milhões obtidos por outro desconhecido da localidade de Eiras a 20 de Novembro do ano seguinte, um 2015 que antes, a 6 de Março, já havia atribuído outros 100 milhões por terras lusas.
Mesmo descontando os 20% com que o nosso fofinho & adorado Estado fica, a título de um incompreensivelmente elevado imposto de jogo e sem que tenha de mexer uma palha, todos eles poderiam, eventualmente, licitar um dos três carros – todos da Ferrari – que atingiram os valores mais elevados de sempre em leilões internacionais, batendo em muito os, vistos assim, quase insignificantes 3,74 milhões de dólares do Mustang “Bullitt” a que nos referimos numa anterior edição.
Então vejamos: precisaríamos, respectivamente, de 48,4 milhões de dólares para comprar o Ferrari 250 GTO by Scaglietti de 1962, vendido em Agosto de 2018 através da leiloeira RM Sotheby’s, de outros 38,1 milhões para um 250 GTO Berlinetta, também de 1962, vendido em Agosto de 2014 pela Bonham’s, e de mais 35,7 milhões de valor máximo que atingiu um 335 Sport Scaglietti de 1957, passado de mãos pela Artcurial em Fevereiro de 2016, somando-se mais uns quantos trocos em cada um deles, a título dos inerentes processos de transacção.
São estes os recordes que perduram actualmente, num top-10 automóvel que, uma vez somado, atinge a astronómica soma de 300,4 milhões de dólares (valores sem as taxas associadas), uma (ir)realidade para o comum dos mortais!
100 milhões em 2019 e 168 milhões em 2018
Relativamente ao ano passado, ter-se-ão movimentado cerca de 100 milhões de dólares nos mais reputados leilões do mundo, montante bastante abaixo dos cerca de 168 milhões registados em 2018. Ficando no limiar daquele top-10, com um valor de 19,805 milhões de notas dos EUA, o recordista de 2019 foi um McLaren F1 ‘LM-Specification’ de 1994, num leilão da RM Sotheby’s, que decorreu em Monterey (Califórnia). É uma raridade, pois só há duas unidades convertidas pela marca para a especificação ‘Le Mans’ de estrada, versão equipada com um V12 de 790 cv (sem restritores), suspensão e pacote aerodinâmico de competição, incluindo a identificativa gigantesca asa traseira.
O carro que mais se aproximou foi um Alfa Romeo 8C 2900 Touring Berlinetta de 1939, adquirido por 19 milhões de dólares num leilão da Artcurial, em Paris, viatura que o seu anterior proprietário tinha, segundo parece, comprado em 1976 pelo equivalente a… 10.000 euros! O top-3 de 2019 fechou-se com um Ferrari 250 GT LWB California Spyder de 1958, licitado por 9,9 mihões de dólares através da Gooding & Co., no conceituado encontro ‘Pebble Beach’ da Califórnia.
Abaixo destes ficaram, por esta ordem, um Lamborghini Veneno Roadster, de 2014, um Ferrari 250 GT SWB, de 1962, e um Ford GT40, de 1965, outro Ferrari 250 GT SWB de 1963 e um Pagani Zonda Aether de 2017. Este multimilionário top-10 fecha-se com mais dois exemplares da marca do “Cavallino Rampante”, que são diametralmente opostos: um 250 GT Series 1 Cabriolet, de 1958, e um dos Ferrari F2002 F1 que Michael Schumacher usou na temporada de 2002, monolugar então arrematado por 6.643.750 dólares.
E nas corridas? Onde posso gastar 7,5 milhões?
Já agora, o recordista neste domínio da Fórmula 1 é outro dos monolugares usados pelo séptuplo Campeão do Mundo germânico, um também Ferrari F2001 que foi vendido em 2017 por 7,5 milhões de dólares, igualmente pela RM Sotheby’s.
Já no mundo dos ralis os números são praticamente equivalentes, tendo esta mesma casa feito mudar de mãos, por 7,75 milhões de dólares, um dos três Porsche 959 oficiais que participaram no Paris-Dakar de 1985. Bem mais simpáticos são os 995 mil dólares pedidos por um Lancia Delta S4 de 1985, carro com que Henri Toivonen venceu o RAC Rally desse ano, prova de estreia do dito no Campeonato do Mundo da modalidade.
Por falar em Lancia, marca que, em tempos esteve muito activa em duas vertentes do motorsport mundial – endurance e ralis – exibindo as cores da Martini Racing, decorre, neste momento, um processo de licitação de um lote de seis carros da marca italiana. Veja lá se não gosta desta denominada “The Campion Collection”: um Beta Montecarlo Turbo Grp. V, vencedor de três Mundiais de Resistência (1979, na categoria de motores com menos de 2,0 litros, 1980 e 1981, em termos absolutos); um LC1 Grp. VI, vencedor dos 1000 km de Nürburgring de 1982; um LC2 Grp. C de 1983 (chassis 0001) com motor Ferrari; um 037 Rallye Evo 2 Grp. B (chassis 411) de 1984, um Delta S4 Group B, de 1986; e um Lancia Delta HF Integrale 8v Grp. A, unidade que, entre outros, venceu o Rali de Portugal 1988. A acção é da leiloeira Girardo & Co. num conjunto que tem 7.500.000 dólares como valor base de licitação.
Vá! De que está à espera? Há um jackpot de 130 milhões de euros em jogo para o EuroMilhões desta 6ª feira! Mas esqueça lá o unicórnio ou a esfinge com a sua cara… ninguém merece!
Números bastante mais simpáticos nas 2 rodas
Se dividirmos ao meio o número de rodas, os valores tornam-se bem mais em conta. Senão vejamos: a moto mais cara alguma vez vendida em leilões foi uma Vincent Black Lightning, de 1952, exemplar com que Jack Ehrets estabeleceria, no ano seguinte, o recorde australiano de velocidade em terra: 141,509 mph (cerca de 227,7 km/h). Foi agora vendida por 929 mil dólares mais despesas pela Bonham’s, pois claro! E não é que a dita até tem uma música que lhe foi dedicada? Consta do álbum “Rumor & Sigh”, do britânico Richard Thompson, e pode ouvir-se aqui.
E quem mais se lhe aproxima em valor alcançado – 852.500 dólares – é uma raríssima Cyclone Board Track Racer de 1915, uma centenária duas rodas que, entre outros proprietários, teve um tal de Steve McQueen, factor que lhe fez aumentar ainda mais a cotação. O 3º mais caro exemplar de sempre é uma Crocker Big Tank de 1939 que mudou de mãos por 704 mil notas verdes num leilão da Mecum Auctions, entidade que também geriu o processo da anterior.
Enfim… como diria o outro, “peaners”!
Fotos: oficiais