Toyota GR Supra: Bem-vindo! Esperámos muito tempo pelo teu regresso
Antes de mais, um esclarecimento. Este não é um texto de comparação do novo Toyota Supra a um qualquer modelo da BMW com o qual partilha o chassis, o motor, o relé dos piscas ou o botão do volume. Lamento, se procuravas polémica, aqui não a terás porque simplesmente, do meu ponto de vista, ela não existe. Todos temos direito a uma opinião sobre o seu design, sobre a sua performance e sobre a identidade e personalidade do novo Supra. Claro que sim. Mas para mim, o essencial é celebrar. Sim, este texto é isso mesmo. Uma celebração de um regresso de um nome icónico há muito desaparecido e de quem muitos diziam ter saudades e que agora criticam porque “é um BMW”. Não, não é. Sabem o que é? É um carro espectacular.
Queixamo-nos do silêncio dos eléctricos, da banalidade de mais de 50% do nosso parque automóvel, do desaparecimento de nomes importantes da história do automóvel, mas quando uma marca como a Toyota, tanta vez acusada de apenas construir automóveis eficientes e sem chama, nos brinda com um novo Supra, o que fazemos? Falamos mal. Pois eu vou falar bem. Não para ser do contra ou agradar à marca que mo emprestou, mas porque é justo o reconhecimento. Até pode ter defeitos, mas ser o resultado de uma parceria não é um deles.
A Toyota até podia ter criado uma plataforma mais evoluída e um novo substituto do mítico motor de seis cilindros em linha 2JZ do Supra A80, mas ponderou e tomou esta decisão certamente melhor de que qualquer um nós faria. Falta de dinheiro, pouco tempo para colocar em prática o plano ou incapacidade de adaptação das suas linhas de produção. Não sei o motivo exacto desta escolha, embora tenha um palpite. No entanto, ainda menos quero saber depois de o ter conduzido. E vocês deviam fazer o mesmo. É um verdadeiro Supra, citado, muitas vezes e infelizmente, por não ser um verdadeiro Toyota. Esqueçam lá isso e pensem um pouco sobre o assunto.
Os nossos amigos japoneses devem ter tido inúmeras reuniões em salas brancas exemplarmente limpas e geometricamente arrumadas. Isto não foi uma decisão de máquina de café, algures num corredor da Toyota. Até consigo imaginar o cenário: “Para construirmos o novo Supra precisamos de desenvolver uma parceria com uma marca que forneça uma excelente plataforma de tracção traseira e construa os melhores motores de seis cilindros em linha. Sugestões?” Quantos terão pensado ou dito imediatamente BMW? Muitos ou todos, certamente. E ainda bem, deixem-me que vos diga. Eu não sei como seria um hipotético Supra 100% Toyota, mas passei quatro dias com o tão injustamente criticado novo Toyota Supra e fiquei deliciado com a sua performance e equilíbrio.
O motor é sublime na forma como se mostra e entrega a potência. São 340 cavalos, segundo a Toyota, mas o motor parece ter sempre mais. Acorda cedo, com 500 Nm estáveis das 1600 às 4500 rpm e rapidamente nos coloca a velocidades capazes de testar a coragem e resistência do mais entusiasta dos penduras. Os travões convencem e dão confiança para abusar um pouco na velocidade de entrada das curvas, com o eixo dianteiro a responder com prontidão aos curtos inputs necessários no volante. Apesar de rápido na resposta e da precisão com que é possível apontá-lo, a experiência Supra sairia beneficiada com um pouco mais de informação das rodas até à ponta dos dedos. Nas zonas mais rápidas, a estabilidade é notória e na saída das mais lentas a capacidade de tracção, amplificada pelo diferencial traseiro activo, merece também ser destacada. O modo Sport está lá, ao toque de um botão, e acentua a resposta do motor e caixa, da direcção e da suspensão.
E depois, a imagem. Sim, é sempre a tal avaliação mais subjectiva e eu próprio admito que até o ver ao vivo também tinha as minhas dúvidas. Mas agora digo: já não as tenho. Gosto muito do novo Supra, das curvas exageradas da carroçaria, da pose agressiva e da sua compacidade, com uma distância entre eixos mais curta do que a de um GT86, por exemplo. Ágil e rápido, impressionante a acelerar e de ver passar, também. Percebo que, para muitos de vós, o Supra anterior tenha direito a um cantinho especial no vosso coração. Eu também cresci com a saga Gran Turismo, também deliro com as preparações com mais de 1000 cavalos no Youtube e também vi o primero filme Velocidade Furiosa vezes sem conta. É verdade que o “Pop the hood“ já não revela um motor Toyota e admito que gosto bem mais deste filme original do que dos mais recentes em que as personagens voam de uns carros para os outros e as caixas manuais têm 47 velocidades.
No entanto, uma coisa temos de admitir: a performance dos filmes mais recentes, no ecrã e na bilheteira, quer a nível de produção, quer na sua rentabilidade, atingiu patamares muito superiores. Pode faltar-lhes algum carisma, mas são incrivelmente mais evoluídos. A escolha é vossa. Preferem ver três carros pretos a passarem por baixo de um camião ou supercarros a furarem arranha-ceús? Fácil! Um pouco como o novo Supra. O antecessor é muito bom, mas este novo é indiscutivelmente superior. E é um Toyota, também, por isso deixem-se piadas bávaras.
P.S.: não houve um momento, ao conduzi-lo, em que não me sentisse ao volante de um Toyota Supra. É possível gostar do antecessor, do novo GR Supra e da BMW, claro.