Renault Zoe: o carro eléctrico está pronto. E nós?
Iniciei este ensaio ao pequeno eléctrico francês com alguma preocupação. Isto porque não tenho garagem e porque na zona onde resido os postos de carregamento públicos são raros (para não dizer, inexistentes…). Assim, já que recebi o novo Zoe com 99% de carga na bateria, estiquei-os tanto quanto pude de forma a evitar surpresas caso não o conseguisse recarregar. Tenho conduzido poucos eléctricos, e mesmo sabendo que a Renault dotou este mais recente Zoe com uma bateria de 52 kWh, com uma autonomia declarada de quase 400 quilómetros, ainda preciso de aperfeiçoar a minha gestão da ansiedade e de controlar os impulsos de estar constantemente a verificar a autonomia restante.
E a verdade é que me portei bem com o acelerador. Liguei o modo Eco, mantive-o ligado e resisti a carregar a fundo no pedal até chegar aos 60% de carga. Perante esta utilização moderada, mas também alguns percursos de autoestrada pelo meio, o computador de bordo registou uma média de consumo de 13,3 kWh/100 km, um valor que, considerando a capacidade total da carga e excluindo outros factores externos, me permitiria percorrer cerca de 390 quilómetros, tal como prometido pela Renault.
Mas já que passei o fim-de-semana de eléctrico, e mesmo não precisando de o fazer porque tinha ainda muita carga na bateria, decidi também ensaiar a disponibilidade dos postos de carregamento mais próximos da minha casa. A primeira tentativa foi no posto de São Pedro do Estoril, junto da estação de comboios, com dois pontos de carregamento: ambos em manutenção. Fui até São João do Estoril e encontrei um posto novo, com dois pontos de carga, mas ambos estavam a ser utilizados, pelo que a minha missão estava ainda longe de terminar.
“Já que aqui estou…”
“Já que aqui estou”, pensei eu, “vou até ao Estoril”. Isto porque junto dos jardins do casino vejo imensos eléctricos a “atestar” sempre que por ali passo e assim decidi tentar a minha sorte e acreditar na velha máxima “à terceira é que é”. Só que não foi. Quatro tomadas para carregamento e todas indisponíveis. “Ultimamente tem sido sempre assim”, dizia-me um condutor de um Outlander plug-in já habituado àquele cenário.
E mais uma vez, “já que aqui estou”, decidi ir até Cascais. Era domingo, “deve estar apinhado de gente nas ruas”, pensei eu, tem tudo para correr bem. E não é que correu? Estacionei em plena vila e ocupei, juntamente com outro Zoe, os dois últimos pontos de carregamento dos seis que ali existem. Liguei o cabo e iniciei o carregamento, um procedimento simples e rápido. Depois de um curto passeio e de uma imperial fresquinha, regressei ao Zoe com alguma da autonomia recuperada, o que, repito, não foi o objectivo deste teste.
Relativamente ao Zoe, a sua evolução vai muito além do novo design exterior, prolongando-se à modernização e superior dotação de equipamento do habitáculo, como novos e melhores materiais. Ao volante, destaca-se a enorme facilidade de utilização que é também complementada pela excelente visibilidade dianteira, fruto da posição de condução elevada. Apesar de pequeno, o Zoe pisa como um carro de segmento superior, denotando robustez e um bom nível de conforto, mesmo ao rolar sobre superfícies mais degradadas. O comportamento também convence, seguro e previsível, mesmo quando provocado.
A infraestrutura de carregamento, pelo menos àquela hora, naquele fim-de-semana, naquela zona, não esteve à altura. Nem daquilo que exigimos enquanto consumidores, mas principalmente do Zoe, um eléctrico extremamente competente e que graças à sua excelente autonomia e gestão de energia, me possibilitou usufruir da tão na moda e essencial mobilidade eléctrica de uma forma mais descontraída. O carro eléctrico, de uma forma geral, está pronto. O novo Renault Zoe é disso um excelente exemplo. No meu caso, só me falta uma de duas coisas: ou uma garagem com wallbox dedicada ou uma rede de carregamento à altura daquilo que se tem exigido aos fabricantes de automóveis.