Bem-vindos a Woven City, a urbe da Toyota
Quer mudar de vida? Quer viver num local de futuro? Então temos o emprego certo para si. Não é para contar corais na Austrália, nem para organizar festas para a socialite europeia, muito menos para servir de cobaia em testes a alimentos e bebidas, camas, limpar tanques de tubarões ou tomar conta de pandas! O que lhe temos para propor hoje é – uma vez cumpridos os requisitos, nomeadamente em termos de experiência profissional em determinadas áreas – viajar para o Japão e ir viver na Woven City, a futura cidade protótipo da Toyota.
O outrora impensável está a tornar-se real. Os mais ou menos intrincados enredos dos filmes de ficção científica da nossa (ou pelo menos minha) infância estão a tornar-se realidade, seja pelas viaturas híper-sofisticadas que, uma vez programadas, andam sozinhas de um lado para o outro, levando a bordo os seus cada vez mais despreocupados passageiros, ou pelas ameaças dos asteroides que, mais século menos século, irão colidir com a Terra, pelas grandes catástrofes naturais e pandemias mundiais – os recentes incêndios na Amazónia e na Austrália e o actual COVID-19 são claros exemplos de coisas já vistas em múltiplas plataformas – chegando agora a vez das cidades auto-sustentadas, com os robôs a terem uma presença omnipresente, cohabitando com cidadãos que serão controlados por sensores nos domínios da saúde, deslocações, atitudes, evolução profissional… etc! Onde é que já viram este filme, não? Yep, right!
Pois é, a Toyota está a planear construir uma urbe altamente tecnológica, 100% adaptada às questões da mobilidade e totalmente ecológica, ou seja, uma espécie de paraíso. O anúncio foi feito em Janeiro último, no “Consumer Electronics Show” (CES), em Las Vegas, e promete revolucionar o modo como as cidades e os seus recursos são usados, ao mesmo tempo que redefine – e de que modo – as questões da sociedade e das suas relações, tal como as conhecemos no presente. Tudo em prol de um planeta melhor!
Sem querer levar a coisa demasiadamente à letra, preferindo olhar para o projecto numa visão de desenvolvimento sustentado, deste nosso planeta que continuamos a destruir sem parecermos estar por demais preocupados com isso, apresento-vos a denominada Woven City (em português os termos possíveis são vários: Cidade Tecida, Entrelaçada, Interligada, Interconectada, etc), uma nova urbe que viverá como um ecossistema totalmente conectado entre si e alimentado a energia fornecida por pilhas de combustível a hidrogénio.
Planeada para receber, inicialmente, um total de dois mil habitantes, entre colaboradores, suas famílias, casais aposentados, comerciantes, cientistas, visitantes e parceiros, número que variará em função dos desenvolvimentos entretanto alcançados, a cidade irá ocupar uma área superior a 70 hectares, na base do Monte Fuji no Japão. É, por isso, anunciada pelo consórcio encabeçado pelo industrial nipónico como um “laboratório vivo”, um espaço que servirá de lar a residentes e investigadores que aí poderão testar e desenvolver, em condições ideais, um conjunto de avançadas tecnologias tais como a condução autónoma, robótica, mobilidade pessoal, casas inteligentes e Inteligência Artificial (IA), sem se verem a braços com as normais condicionantes do mundo em que (ainda) realmente vivemos, nos domínios da regulamentação, para potencial e futura aplicação no mesmo.
“Construir uma cidade completa desde o zero, mesmo numa pequena escala como esta, é uma oportunidade única para desenvolver tecnologias futuras, incluindo um sistema operacional digital para a infraestrutura da cidade. Com pessoas, prédios e veículos conectados que comunicam através da troca de dados e sensores, poderemos testar a tecnologia conectada com IA, tanto no mundo virtual, como no físico, maximizando o seu potencial,” referiu Akio Toyoda, Presidente da Toyota Motor Corporation, acrescentando que a Toyota está aberta à colaboração com outros parceiros comerciais e académicos, cientistas e investigadores, de todo o mundo, que estivessem interessados em trabalhar nos seus próprios projectos, dando “as boas-vindas a todos aqueles inspirados em melhorar a maneira como vivemos no futuro, a aproveitar este ecossistema único de pesquisa e a juntar-se a nós na nossa busca para criar um estilo de vida e mobilidade cada vez melhor para todos”.
Para este projecto, a Toyota contratou os serviços dos especialistas dinamarqueses Bjarke Ingels Group (BIG), autores de estruturas como a local Lego House, sede da autora do brinquedo didáctico mais vendido do planeta, do World Trade Center 2 (Nova Iorque), e a nova sede do Google Mountain View, em Londres, entre outras. “Há imensas tecnologias diferentes que começam a mudar, radicalmente, o modo como habitamos e navegamos nas nossas cidades. Soluções de mobilidade conectadas, autónomas, livres de emissões e partilhadas devem criar um mundo de oportunidades para novas formas de vida urbana. Com a amplitude de tecnologias e indústrias com as quais pudemos aceder e colaborar com o ecossistema de empresas da Toyota, acreditamos ter uma oportunidade única para explorar novas formas de vida urbana na Woven City, que podem abrir novos caminhos que outras cidades podem explorar,” afirmou Bjarke Ingels, CEO da BIG.
Uma cidade entrelaçada
Completamente conectada entre si, a Woven City assentará em três tipos de vias, uma para veículos rápidos, outra para circulação a mais baixa velocidade, mobilidade pessoal e peões, e uma terceira de lazer, para passeios pedestres, que se entrelaçam, formando um padrão/tecido de rede orgânica. A envolvente contará com vegetação nativa e hidropónica, técnica de cultivo de plantas sem solo, onde as raízes recebem uma solução nutritiva equilibrada, que contém água e todos os nutrientes essenciais ao seu desenvolvimento.
A sustentabilidade assenta em edifícios concebidos, grande parte, em madeira, minimizando-se a pegada de carbono, recorrendo à especialização tradicional japonesa, em combinação com métodos de produção robótica. Os telhados terão painéis fotovoltaicos para aproveitamento de energia solar, complementar à energia a gerar por pilhas de combustível a hidrogénio.
As habitações contarão com as mais recentes tecnologias de apoio, nomeadamente em termos de robótica e domótica doméstica, para ajudar no quotidiano, associada a Inteligência Artificial, baseada em sensores, que verificam, entre outros, a saúde dos seus ocupantes, cuidando das suas necessidades básicas. Será uma oportunidade de introduzir tecnologia conectada com integridade e confiança, de forma segura e positiva.
Em termos de circulação, os vários moradores deslocar-se-ão, nas vias principais, em veículos 100% autónomos e com zero emissões, recorrendo-se na rede da cidade aos Toyota e-Palette, veículos que a marca irá colocar em circulação nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio 2020, para transporte de comitivas, convidados e demais elementos, no âmbito da parceria estabelecida com a organização. Acreditando que o incentivo das ligações e interacções humanas será um vector igualmente importante desta experiência, as diferentes praças da cidade foram projectadas para reunir a comunidade, com a grande praceta central destinada a actividades de recreio e lazer e outra praça central para reuniões sociais.
Posto isto, assista ao vídeo promocional deste visionário projecto, obra cujo arranque está previsto para o início de 2021, assim se cumpra o inicialmente estabelecido e que o mundo esteja já a recuperar do enorme atraso provocado pela actual pandemia.
Impressionante, não é? Os meus pais, há dias, diziam-me o quão admirados/assustados estavam com o gigantesco pulo tecnológico que se deu desde a sua geração, ainda muito dependente do papel e da caneta, das máquinas de escrever e dos primórdios dos computadores das companhias, até ao presente, em que olham para os netos e vêem que em que tudo está ao alcance de um dedo, com um simples smartphone, bastando Googlar ou perguntar à Siri. Naturalmente que não compreendem a fundo nem muito do que realmente está por detrás disto tudo mas, no alto dos seus mais de 80 anos, tentam acompanhar os processos como podem, colocando inúmeras perguntas, para eles totalmente legítimas, mas que para os meus descendentes são de resposta imediata e lógica.
É mais ou menos assim que me sinto quando penso numa Woven City ao melhor estilo sci-fi, ao ver as então irrealidades expressas em filmes como o “Eu, Robot” e outros que tais, a tornarem-se no nosso futuro imediato. Veremos se, com isto tudo não chegamos aos extremos apocalípticos de um “Relatório Minoritário” ou de um intemporal “Exterminador Implacável” e o seu eterno “I’ll be back!”!