Honda Civic Type R: ainda é o “tudo à frente” mais eficaz e completo?
Este é um texto que resulta de um ensaio realizado há já algum tempo. Infelizmente, dada a situação actual em que nos encontramos, esta é a realidade possível e não é, de todo, o maior dos nossos presentes problemas. Assim, tal como para o texto recentemente publicado sobre o Hyundai i30N, também para este, dedicado ao mais recente Honda Civic Type R (FK8), tive que ir consultar o meu arquivo mental, a larga pasta onde guardo os registos daqueles dias. Na verdade, com um carro como o Type R, as muitas memórias que ficam são só de coisas boas e ficam, igualmente, por muito tempo. Apesar disso, tive, entretanto, a sorte de reviver essa mesma experiência a bordo da edição limitada #18 Tiago Monteiro, ainda mais especial.
Nesse irrepetível e acelerado fim-de-semana de há já largos meses, tive igualmente oportunidade de me encontrar com o meu amigo e agora colega, Rafael Aragão. Por mera coincidência, nessas dias, ambos tínhamos conseguido agendar o Type R para os nossos respectivos projectos digitais. Quando nos apercebemos disso, juntá-los foi inevitável. Ele com o azul, eu no vermelho. A cereja no topo do bolo foi, porém, o Tiago Costa, fotógrafo responsável por vários trabalhos aqui na Garagem (este é um deles), ter-se juntado a nós no seu incrivelmente bem estimado Civic VTi de 1992. Foi um dia memorável, com sonoros motores cheios de potência e, acima de tudo, companheirismo. Afinal de contas, essa é uma das vertentes mais especiais do automóvel, a de permitir passar tempo de qualidade com aqueles com quem partilhamos esta paixão. Isto é algo com que nos identificamos muito na Garagem.
Diferenças vão muito além dos 10 cavalos a mais
O motor 2.0 litros VTEC Turbo é, sem qualquer dúvida, uma verdadeira obra prima da Honda. Ainda assim, ao olharmos para os números do Type R anterior, a evolução não parece muito significativa e, na verdade, talvez não tenha sido. Mas que importa isso? Com tudo o que o novo CTR tem para oferecer, garanto-vos que 310 ou 320 cavalos parecer-vos-ão exactamente a mesma coisa. O incremento de potência faz parte da natural evolução numérica, essencial sempre que é lançada uma nova versão de um desportivo. Mas neste caso é, claramente, secundário. As velocidades impróprias continuam a chegar com enorme rapidez e o poder de aceleração é absoluta e igualmente soberbo, capaz de nos surpreender mesmo após sucessivos abusos. Quanto mais puxamos por ele, mais ele puxa por nós. Automóveis assim são raros e precisam-se.
Mas se por um lado não esperava momentos de relaxamento, em grande parte por culpa da minha incapacidade de gerir a intensidade com que piso o pedal direito do Honda, a verdade é que também não esperava encontrar um Type R verdadeiramente confortável, se assim o quisermos. Comparativamente à geração FK2 – que no modo mais rijo da suspensão nos sacudia impiedosamente no habitáculo – este é para mim o maior destaque do Type R desta décima geração do Civic. A estética pode até ser demasiado expressiva para alguns, admito, mas a verdade é que este é um carro capaz de uma incrível performance e com o qual é perfeitamente possível viver no dia-a-dia. Sabe ser confortável, é espaçoso e incrivelmente prático, e o seu motor, caso nos consigamos conter, nem é dos que mais combustível bebe. Assim de repente, o maior defeito que o Civic Type R tem, é ser provocador, E neste aspecto, reconheço, fui fraquinho e cedi muitas vezes, mas gostei.
Fotografia: Tiago Costa